Cartel internacional de oxigênio opera livremente no Brasil

A situação de barbárie a que foi submetida o povo de Manaus com o colapso do fornecimento de oxigênio poderia ter sido evitada. A responsabilidade dos governos em todas as esferas foi fartamente apontada na imprensa e por especialistas em saúde pública, e com razão.

Mas os governos não são os únicos responsáveis. Em artigo publicado no Estado de São Paulo no dia 26 de janeiro, o colunista Pedro Fernando Nery relembra que dez anos atrás este mesmo jornal noticiava que o Cade impôs uma multa de R$ 3 bilhões a um cartel do oxigênio atuando no país.

O parecer da então secretaria de direito economico (SDE) apontava que “o referido cartel se organizava, ao menos, desde 2001 com a finalidade de: (i) fixar a porcentagem de participação de mercado de cada uma das empresas por região do País; (ii) instituir um pacto de não agressão, no qual as empresas “respeitariam” a carteira de clientes de cada uma. Sendo que esse pacto era mantido estável por meio de um sofisticado fundo de compensação denominado pelas Representadas de “Conta Corrente”; (iii) manipular e fraudar tanto licitações públicas quanto concorrências privadas de hospitais e redes de hospitais por todo o Brasil; (iv) dividir os revendedores de gases por “bandeiras” e fixar uma tabela de preços mínimos para estes; e (v) instituir uma tabela de preços mínimos para o mercado de homecare”.

A multa, no entanto, nunca chegou a ser aplicada. Dez anos depois segue em julgamento de recurso nos tribunais superiores. O mesmo Cade, ainda em 2018 chegou a aprovar a fusão da White Martins com a Linde, as duas envolvidas no cartel apontado pelo próprio Cade.

Essas empresas, multinacionais, atuam em todo o globo e sofrem processos similares em outros países, como o México, o Peru, Hong Kong e Polônia, para citar alguns.

Jornal O Trabalho

Transmissão da Covid está sem controle no Brasil

Brasil completou 21 dias seguidos com mais de mil vítimas fatais de Covid-19, segundo a média de mortes pela Covid-19. Foram 1.050 vítimas nos últimos sete dias

A taxa de transmissão do novo coronavírus no Brasil continua sem controle e apresentou leve oscilação negativa nesta quarta-feira (10), de acordo com o levantamento semanal do Imperial College de Londres que monitora o avanço da doença em diferentes países.  De acordo com o índice, que é divulgado semanalmente, a taxa de contágio, o chamado Rt, é de 1,02, o que indica que a pandemia ainda não está em desaceleração no país.

A universidade britânica afirmou ainda que, segundo projeções feitas, o país pode registrar 7.460 óbitos de pacientes da Covid-19 até a próxima semana. O número representa uma diferença de 92 vítimas fatais em relação às mortes que foram contabilizadas em um cenário mediano. Na pior das hipóteses, as mortes podem chegar até 7.960.

A projeção brasileira só é superada pela do México (7.520), o terceiro país com mais mortes por Covid-19 no mundo. Os Estados Unidos, que se aproximam de 470 mil óbitos pela Covid-19, não integram o levantamento.

Já no Reino Unido, a taxa de transmissão segue em 0,86 e a da África do Sul se manteve em 0,66. Os dois países seguem acompanhando o avanço de novas cepas da Covid-19, assim como o Brasil.

Média móvel de mortes em alta há 21 dias

Nesta quarta-feira (10), o Brasil completou 21 dias seguidos com mais de mil vítimas na média de mortes pela Covid-19. Segundo o balanço do consórcio de imprensa, foram 1.050 vítimas nos últimos sete dias.

O país também registrou o quarto dia com maior número de mortes confirmadas pela Covid-19 em 24 horas, foram 1.357 novos óbitos, elevando o total de óbitos para 234.945 desde março de 2020, quando a pandemia teve início.

Na terça-feira (9), o Brasil registrou 1.340 novas mortes por Covid-19 — até então, a quarta maior marca verificada em 2021, e que foi superada nesta quarta-feira (10). O pior registro do ano foi em 28 de janeiro, com 1.439 óbitos computados.

Na sequência, aparecem 20 de janeiro (1.382) e 8 de janeiro (1.379). Isso não indica quando as mortes ocorreram de fato, mas sim a data em que passaram a constar dos balanços oficiais.

Foram 60.271 casos foram confirmados nas últimas 24 horas. Com isso, o total de infectados é de 9.662.305 desde o início da pandemia.

Fura-fila na vacinação

Desde o início da vacinação contra a Covid-19 no país, em 17 de janeiro, já foram registradas ao menos 2.982 denúncias de possíveis casos de “fura-fila” da imunização — o que significa que uma em cada 1.341 doses aplicadas no país teria sido endereçada a alguma pessoa fora dos padrões de prioridade estabelecidos.

Os estados que mais relatam os casos são: Rio Grande do Norte, com 640; Minas Gerais, com 589; e Rio de Janeiro, com 413.

Especialistas alertam que os casos de fura-filas podem ser ainda mais numerosos no país. Isso porque moradores de muitos municípios podem temer denunciar ou nem sequer ter acesso a mecanismos de denúncia. Além disso, os diferentes critérios de prioridade para vacinação de cada município dificultam a fiscalização e o trabalho dos Ministérios Públicos.

Imunização no país

Em todo o país, 4.321.678 pessoas receberam até agora a primeira dose. Na terça-feira (9), eram 4.052.986 vacinados.

Com os números desta quarta (10), o Brasil passou de 2% da população vacinada, mais precisamente 2,04%, um número ainda muito baixo diante da urgência de controlar a pandemia.

Nesta quarta, o Piauí também divulgou números da segunda dose e se juntou ao grupo que tem Distrito Federal, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Sergipe. Nesses lugares, 80.507 pessoas receberam a dose complementar.

Os cinco que mais aplicaram a primeira dose até agora foram Amazonas, com 4,1%; Distrito Federal, 3,5%; Roraima, 3,15%; Mato Grosso do Sul, 2,8%; e São Paulo, que assumiu o quinto lugar, com 2,38% da população vacinada.

CUT Brasil

Foto: BRUNO KALLI – FOTOS PÚBLICAS

STF valida divulgação das provas da suspeição de Moro obtidas por Lula

Por 4 a 1, Segunda Turma do STF rejeitou recurso de Deltan Dallagnol e outros procuradores e manteve o direito da defesa de Lula de ter acesso às mensagens da operação Spoofing que comprovam o conluio da Lava Jato para incriminá-lo

247 – Por 4 votos a 1, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu nesta terça-feira (9) que é legal o compartilhamento com a defesa do ex-presidente Lula das mensagens trocadas entre o ex-juiz Sérgio Moro e procuradores da Lava Jato, apreendidas na Operação Spoofing.

O voto do relator, Ricardo Lewandowski, contrário ao recurso, foi seguido pelos ministros Kássio Nunes Marques, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes. O único que divergiu foi Edson Fachin.

Em seu voto, Gilmar detonou a Lava Jato: “Ou nós estamos diante de uma obra ficcional fantástica, ou estamos diante de um caso extravagante, que o colunista do The New York Times tem razão de dizer: é o maior escândalo judicial da História da Humanidade”.

As mensagens, que foram anexadas pela defesa de Lula em recurso ao STF, confirmam o papel de Moro como chefe da Operação e a intimidade do então juiz com procuradores, orientando, criticando e combinando datas dos processos junto à força-tarefa. As conversas confirmam o conluio para processar, prender e tirar Lula das eleições presidenciais.

Brasil 247

Dr. Valmir assume compromisso em defesa do Banco do Brasil em reunião com o Sindicato dos Bancários de Alagoas

O vereador Dr. Valmir (PT) participou de reunião no dia 09/02 com a diretoria do Sindicato dos Bancários de Alagoas, onde assumiu compromisso com luta contra a política de privatização do governo Bolsonaro das empresas públicas do setor financeiro, a exemplo do BNDES, do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco do Nordeste do Brasil.

Segundo o sindicato a demissão de milhares de funcionários e o desmonte do Banco do Brasil são para ampliar o lucro dos grandes acionistas. Contra esta política de privatização, os bancários irão realizar o “Dia Nacional de Luta contra a Reestruturação”. Junto com esta mobilização também haverá uma paralisação no dia 10/02.

Para Marcio dos Anjos, presidente do Sindicato, o processo de privatização imposto pelo governo federal desempregará mais de 5.000 bancários, fechará 112 agências, 247 postos de atendimento e 07 escritórios.

Para o vereador Dr. Valmir é fundamental estreitar os laços com os movimentos sociais e os sindicatos, colocando o gabinete à disposição da luta dos trabalhadores. Dr. Valmir se comprometeu também com a realização de uma audiência pública na câmara de vereadores para discutir a importância dos bancos públicos no desenvolvimento da economia.

Jairo Silva

Petrobras muda política de reajustes, mas preços dos combustíveis continuam altos

Método de cálculo de reajustes dos combustíveis foi alterado pela Petrobras em uma tentativa de diminuir a incidência de aumentos, mas preços dos combustíveis continuarão sendo reajustados, diz especialista

Pressionada pelo presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL), que quer agradar sua base de caminhoneiros, a direção da Petrobras anunciou na semana passada uma mudança na política de reajuste dos preços dos combustíveis que não muda quase nada para os brasileiros que estão pagando cada vez mais caro pela gasolina, diesel e gás de cozinha.  

Pelas novas regras, o período base de cálculo para os reajustes, que era feito a cada três meses, passa a ser anual. Na prática, a diferença agora é que os reajustes podem até ser menores, mas vão continuar ocorrendo porque a Petrobras não abandonou a política de paridade internacional, adotada em 2016 pelo ilegítimo Michel Temer, em que os preços no Brasil acompanham a variação do mercado externo do barril de petróleo.

Ao contrário do que pode parecer, os reajustes não serão anuais e continuarão ocorrendo, explica o pesquisador e economista Rodrigo Pimentel Ferreira Leão, coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).

“O que muda é o período de projeção do mercado para estabelecer o reajuste e mesmo alterando a periodicidade, se o preço internacional sobe a longo prazo, em algum momento vai ter repasse ao consumidor”, diz Rodrigo, lembrando que os preços lá fora têm subido desde abril de 2020 e há o reflexo disso no Brasil.

Antes, os reajustes eram quase diários e seguiam a variação dos preços internacionais dos barris de petróleo que eram repassados automaticamente aos preços dos combustíveis no Brasil. “O preço é 50, aumentou para 60, aumentamos aqui para 60 também” explica Rodrigo, se referindo ao preço do barril de petróleo, em dólares.

Esse novo período de base de cálculo do reajuste anunciado, na verdade, foi apenas um anúncio oficial da mudança que ocorreu em junho do ano passado. De acordo com Rodrigo Leão, a medida foi adotada como instrumento para “suavizar a intensidade e frequência dos reajustes”.

Eles até tentam reduzir a variação, mas ainda seguem os preços internacionais- Rodrigo Leão


A tentativa de suavizar os reajustes é fruto da forte mobilização popular e dos movimentos sindical e sociais. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) vem lutando contra a política da Petrobras desde outubro de 2016.

A ameaça de uma greve nacional dos caminhoneiros também ajudou a pressionar o governo por uma política de redução de preços. Mas, de acordo com Rodrigo Leão, Bolsonaro ainda está perdido e “sem saber direito o que fazer” para conter o avanço dos preços dos combustíveis. Isso porque, para atender aos interesses do mercado, continua praticando a variação internacional, ao mesmo tempo em tenta vender as refinarias brasileiras, como é o caso da Rlam, cuja venda foi oficializada nesta segunda-feira (8), tornando o país dependente da importação dos derivados.

Para o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, “se o governo federal e atual gestão da Petrobras adotassem uma política de preços baseada nos custos nacionais de produção, mesmo com alguns ajustes para atender critérios internacionais, os derivados de petróleo seriam bem mais baratos sem precisar responsabilizar os tributos que têm a finalidade de atender as demandas sociais do povo com serviços públicos de qualidade”.

O dilema do ICMS

Na última sexta-feira (5), Bolsonaro, mais uma vez criou um ambiente hostil entre ele e os governadores estaduais quando anunciou que pretende enviar uma proposta ao Congresso, ainda esta semana, para mudar a forma de cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

O imposto é estadual e as unidades da federação têm autonomia para definir sua alíquota para cada tipo de combustível. Elas variam de 12% a 30% entre os estados brasileiros. Bolsonaro quer que o ICMS seja definido pelo governo federal sobre o preço dos combustíveis nas refinarias e não no preço final ao consumidor, como é atualmente.  Ao mesmo tempo, afirmou que o governo não vai interferir na política de preços da Petrobras, ou seja, continuarão acompanhando a variação internacional.

O valor do ICMS incide sobre o preço médio ponderado final (PMPF), calculado a cada 15 dias pelos estados, com base no mercado. Desta forma, se o preço na refinaria sobe e o valor aumenta na bomba, o valor líquido do ICMS será maior. Porém, a alíquota é a mesma. Em São Paulo, por exemplo, é de 25%. No Rio de Janeiro é de 30%.

Para Rodrigo Leão, a hipótese de unificação nacional do ICMS facilitaria a previsão de valores finais, mas Bolsonaro, na verdade, quer tirar a responsabilidade das costas da Petrobras e jogar a culpa pelos altos preços dos combustíveis na conta dos governadores.

Ele explica que os estados poderiam sim rever as alíquotas para baixar os preços, “mas o fato é que a Petrobras está aumentando muito os preços nas refinarias”.

O governo quer tirar a responsabilidade da reta porque não sabe o que fazer, não tem estratégia. Também não quer mexer na arrecadação federal sobre os combustíveis. Por isso, é mais fácil jogar na conta dos governadores- Rodrigo Leão


Luta pelo fim do PPI

Na ponta de toda essa conta está cada brasileiro que paga cada vez mais caro pela gasolina, pelo álcool e pelo diesel e pelo gás de cozinha que já passa de R$ 100,00 em alguns estados.

Diferente dos tempos dos governos Lula e Dilma, quando a variação dos preços dos combustíveis seguia um cálculo baseado em vários fatores e que possibilitava um controle maior dos preços, a atual gestão da Petrobras insiste em manter o Preço de Paridade de Importação (PPI), nome dado à política de paridade com os preços do mercado internacional.

A Petrobras, quando Sérgio Gabrielli presidiu a estatal, durante o governo Lula, considerava a organização do mercado, a distribuição, a demanda por importação e as particularidades do mercado interno, como oferta e procura, e concorrência entre distribuidoras. A variação cambial e o preço internacional também eram considerados, mas não eram determinantes.

Rodrigo Leão, do Ineep, explica que a forma de cálculo permitia uma estabilidade nos preços finais.

“Havia uma previsão do mercado. Se o preço desabasse de 50 para 20 e a previsão fosse de 40 para o futuro, o governo fazia uma redução mais suave. O contrário também acontecia. Se subisse de 50 para 100, mas a previsão era de 80, o repasse era de 80, não era total”, ele diz.

Semana começou com mais um aumento nos preços

Com o golpista Michel Temer no poder e Pedro Parente na gestão da estatal,  o método mudou para o PPI e desde então tem acontecido uma sucessão de reajustes nos combustíveis. Nesta segunda-feira (8) houve mais um. A gasolina ficou 8% mais cara nas refinarias. O diesel aumentou 6,2% e o gás de cozinha, 5,1%.

“O Brasil vai na contramão do que é feito em outros países do mundo. Países que são produtores de petróleo e gás e que têm empresas públicas e estatais não repassam os preços dos derivados mesmo tendo alinhamento com o mercado internacional, da forma como é feito por aqui”, afirma Deyvid Bacelar.

A FUP tem denunciado essa política desde 2016, quando a Paridade de Preço de Importação foi adotada pelo governo Temer com o argumento de que alinhar o preço brasileiro ao mercado internacional poderia resultar na baixa do preço dos combustíveis.

É prejudicial à Petrobras, ao Brasil e aos brasileiros. Precisamos lutar para que os preços sejam justos. Isso só será possível se a atual gestão mudar a política de preços e não vender as refinarias e terminais para o capital internacional- Deyvid Bacelar


O petroleiro Roni Barbosa, secretário de Comunicação da CUT, afirma que a luta contra os preços abusivos dos combustíveis continua. “Vamos pressionar mais ainda para que seja revista essa política atrelada ao preço internacional. Queremos que o Brasil use seu próprio petróleo, usando as refinarias para entregar combustível para a população e que o povo brasileiro pare de pagar em dólar”, diz o sindicalista.

Na próxima sexta-feira, a Frente Parlamentar em Defesa da Petrobras promove uma audiência pública em Brasília para debater o assunto.

Edição: Marize Muniz

Foto:  AGÊNCIA BRASIL

CUT Brasil

Argélia: “Os trabalhadores e a juventude se levantam contra a guerra social”

Argélia – artigo publicado em “Fraternité”, nº 127, por  R. Y. Tazibt

Desde sábado, na cidade de Jijel (norte da Argélia), ocorrem manifestações à noite, contra o toque de recolher e as medidas de confinamento a partir das 20h. Houve confrontos com a polícia. Estas revoltas da juventude são o produto direto da dramática situação vivida pelos jovens em particular, uma situação de precariedade, miséria, desemprego e repressão contra as liberdades democráticas.

Em resposta à queda dos preços do petróleo em 2015, os diversos governos, antes e depois do presidente destituído, Abdelaziz Bouteflika, adotaram uma política de austeridade que não poupou nenhum setor.

Além do congelamento dos planos de recrutamento e dos salários, houve a redução drástica dos orçamentos, impostos a todos os setores. Esta política tem provocado a descida ao inferno para amplas camadas da sociedade, levando à explosão da taxa de desemprego, com sinais de grave crise social.

A perda do poder de compra e a generalização da pobreza com sua parcela de infortúnios (haraga (1), mendicância, desnutrição etc.) provocam raiva, indignação e mobilizações em todo o país. A gestão da pandemia Covid-19 pelo governo, que ordenou o fechamento da maioria das atividades econômicas, comerciais e socioculturais, causou um verdadeiro tsunami, afundando na miséria milhões de trabalhadores e suas famílias.

O caráter social do Estado, principal conquista da independência nacional, é atacado com incrível violência. As privatizações, interrompidas por dez anos, estão de volta à mesa. O ministro do Planejamento que diz que o “governo não tem painel de controle”, fez várias declarações anunciando o “desmonte do setor público”. Como resposta aos gritos de angústia dos trabalhadores que há meses estão sem salário, o ministro da Indústria tem apenas o projeto de retomada da parceria público/privada, que sempre foi uma política de pilhagem do patrimônio público.

O ministro das Finanças, por sua vez, anunciou o fim do sistema de subsídios do Estado até, no mais tardar, no segundo semestre deste ano, de acordo com o “parecer” do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. Milhões de argelinos estão mergulhados no caos social, sem salários, demitidos de seus empregos.

Setenta mil comerciantes e artesãos fecharam as portas, centenas de milhares de pequenas e microempresas estão à beira da falência. Dezenas de empresas públicas, como Eniem, Enad, German, Sider etc., estão sufocadas pelas dívidas e pela falta de medidas de proteção, preparando assim o terreno para sua liquidação e para a destruição de empregos em um país onde a taxa de desemprego subiu oficialmente mais de cinco pontos em cinco anos, passando de 10 para 15,3%.

Nada menos que cem mil graduados universitários entram no mercado de trabalho a cada ano com chances quase nulas de encontrar um emprego de verdade com um salário real. São setores inteiros da juventude que se encontram em um total desalento.

Como mostram as inúmeras mobilizações de trabalhadores do setor econômico e do serviço público, as argelinas e os argelinos que foram às ruas aos milhões por uma mudança radical do sistema recusam-se a morrer à míngua.

A manutenção da mão de ferro pelo ciclo de libertações/intimações e condenações de ativistas, sindicalistas e militantes visa criar um clima de terror a fim de evitar a mobilização contra o curso liquidador de tudo o que foi construído desde a independência.

Ao mobilizar-se e organizar a defesa das empresas públicas, dos serviços públicos, das escolas, das universidades, os trabalhadores e a juventude defendem as bases materiais da nação. Eles defendem o seu direito de viver livremente e dispor de todos os seus direitos políticos, socioeconômicos e culturais.

A unidade de ação UGTA-Snapap, imposta pelos trabalhadores do âmbito do Ministério do Comércio, mostra o caminho a ser seguido para deter a guerra social lançada pelo governo contra as aquisições e conquistas da revolução de 1954.
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(1) Este termo argelino designa a emigração ilegal através do Mediterrâneo.

Tradução Adaias Muniz

O

Governo Piñera segue assassinando chilenos

No dia 5 de fevereiro, novamente um trágico acontecimento enluta o Chile. Na Província de Valdívia, Região dos Rios, na cidade de Panquipulli, a polícia assassinou a sangue frio o jovem artista de rua Francisco Martínez Romero, que ganhava a vida fazendo malabarismo nas vias públicas.

Tal como relatam testemunhas, Francisco chegou à cidade há quatro anos e era conhecido de todos, não aceitava esmolas e gostava de ganhar o dinheiro com o qual sobrevivia e alimentava seus cachorros. Ultimamente fazia malabarismo com espadas (sem fio) nas esquinas do centro da cidade. Também ajudava vizinhos em pequenas tarefas, como carregar sacolas nas saída de compras. Os mesmos vizinhos afirmam que Francisco estava sendo assediado por carabineiros que apesar de conhece-lo muito bem pediram sua identificação.

O fato reabre a polêmica sobre o Controle de Identidade Preventivo, que faculta à polícia deter qualquer pessoa sem nenhum motivo, com esta desculpa e que não há controle sobre a aplicação da lei.

Esta norma aprovada em 2016, no governo Bachelet, legaliza o controle preventivo sobre todas as pessoas, no último momento deixaram de fora os menores de idade.

Em 2019 o governo Piñera conseguiu ampliar o controle a partir dos 16 anos (o projeto era a partir dos 14 anos), com o apoio da Democracia Cristã.

O violento fato de ontem desencadeou a reação das pessoas e a cidade, habitualmente tranquila, se encheu de barricadas. Os prédios da prefeitura, dos carabineiros, do tribunal da polícia local e outras dependências públicas foram queimados pelas pessoas indignadas.

Como esperado, as autoridades protegeram a ação policial e trataram os envolvidos no protesto como criminosos, cobrindo com um manto de impunidade os verdadeiros culpados.

Javier Márquez, Santiago, 6 de fevereiro 2021

Bolsonaro abandona programa para inclusão de pessoas com deficiência

Entidades reivindicam aplicação de sistema de avaliação criado pela Universidade de Brasília para a promoção de políticas de inclusão social

O governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) até agora não cumpriu programa de avaliação de pessoas com deficiência no país, instrumento considerado fundamental para a inclusão dessa parcela da população por meio de políticas sociais. Sob coordenação da Universidade de Brasília (UnB), o ‘Índice de Funcionalidade Brasileiro Modificado’, como é chamado o sistema de avaliação, foi finalizado em 2016, após ser aplicado a mais de 17 mil pessoas em 50 cidades espalhadas por todo o Brasil.

O instrumento foi encomendado pelo Governo Federal, na gestão de Dilma Rousseff, para ser uma nova forma de avaliar o nível de deficiência entre os brasileiros.O índice prevê um modelo único de avaliação biopsicossocial, devendo ser realizado por equipe multiprofissional e interdisciplinar, conforme estabelece a Lei Brasileira de Inclusão (LBI).

O problema é que, segundo a LBI, o instrumento deveria ter sido aplicado até 2018. Hoje, em 2021, ainda não há nenhuma movimentação do Governo Bolsonaro no sentido de realizar a aplicação do índice.

No Brasil, cerca de 45 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência. Isso representa quase 25% da população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Conceito ampliado

De acordo com Daiane Mantoanelli, assistente social e representante da CUT no Conselho Nacional da Pessoa com Deficiência (Conade), o instrumento prevê não apenas uma avaliação médica, mas também psicológica, fisioterápica e social dos brasileiros com deficiência.

“Anteriormente nós tínhamos um conceito muito pautado no modelo médico. A gente olhava apenas a questão da incapacidade da pessoa com deficiência. Mas cabe ao poder executivo criar instrumentos para avaliação da deficiência. E que deve ser biopsicossocial, com caráter interdisciplinar. O poder executivo precisa criar um instrumental para mensurar essa deficiência. Vai mensurar toda a questão das barreiras, dos impedimentos. O impacto é que não vou precisar ter ‘500 mil laudos’, mas um único laudo que ateste a deficiência em todas as áreas”, afirma Daiane.

Para a especialista, esse é um modo importante para o Governo Federal entender as necessidades da população com deficiência e aplicar ações sociais para criar uma sociedade mais igualitária e com justiça social.

No entanto, segundo Daiane, o atual governo já deixou claro que não pretende governar para as minorias.  “Cada pessoa com deficiência está inserida em um contexto social. São pessoas que não têm acesso a políticas públicas, de saúde, de educação, de transporte”, diz Daiane.

Instrumento inédito

Lailah Vasconcelos Vilela, auditora fiscal do trabalho especializada em pessoas com deficiência, salienta que o instrumento apresenta uma estrutura bem fundamentada e é inédito não apenas no Brasil, mas no mundo.

Para ela, o índice é uma forma de universalizar todas as políticas nacionais voltadas às pessoas com deficiência num único documento. Lailah ressalta que a falta de interesse do Governo Federal em aplicar o instrumento é político e financeiro.

A Secretaria Nacional da Pessoa com Deficiência aprovou em março do ano passado o Índice de Funcionalidade Brasileiro Modificado como instrumento adequado de avaliação da deficiência. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pela ONU em 2006, compreende que a deficiência resulta da interação das lesões ou patologias pessoais com as barreiras sociais que impedem a participação plena da pessoa na sociedade.

Edição: Helder Lima

Foto: ARQUIVO DA AGÊNCIA BRASIL

CUT Brasil

Funcionários do BB fazem nova paralisação contra desmonte do governo Bolsonaro

Greve de 24 horas é resposta ao plano de “reestruturação” anunciado em janeiro, que prevê o fechamento de centenas de agências e postos, além do corte de 5 mil funcionários e redução de direitos

São Paulo – Em estado de greve, após assembleia realizada na semana passada, os funcionários do BB, o Banco do Brasil, devem fazer uma nova paralisação de 24 horas nesta quarta-feira (10). Eles protestam contra o plano de “reestruturação” anunciado pelo governo Bolsonaro no mês passado. O plano prevê a demissão voluntária de 5 mil funcionários e o fechamento de 112 agências, 242 postos de atendimento e sete escritórios.

Além disso, os bancários reclamam do descomissionamento de caixas e outras funções. Também questionam a desgratificação para funcionários com mais de 10 anos de vínculo e a remoção compulsória.

Além da fragilização dos direitos da categoria, os representantes dos trabalhadores afirmam que os cortes e fechamentos vão precarizar o atendimento ao cliente. Cidades correm ainda o risco de perderem sua única agência bancária.

Por outro lado, a direção do banco alega que as funções extintas serão substituídas por ferramentas eletrônicas de atendimento. Mas os correntistas de baixa renda muitas vezes não têm acesso à internet para poder executar transações pelo aplicativo. Os meios virtuais também são uma barreira para idosos e aposentados.

O objetivo desses cortes é economizar, de acordo com fontes do governo, cerca de R$ 300 milhões ao ano. “Dinheiro de pinga”, disse o coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), João Fukunaga, quando comparado com os R$ 6,7 bilhões de lucro registrado pelo banco público no ano passado.

Trilha da privatização

De acordo com Fukunaga, em entrevista ao programa Brasil TVT no último domingo (7), esse plano do governo, que os funcionários têm chamado de “desmonte”, aponta para uma futura privatização. Um dos indícios é que, ao mesmo tempo em que reduz o atendimento e ataca os direitos dos funcionários, a direção do BB anunciou aumento do pagamento para os acionistas. “Logo em seguida, anunciam uma mudança no payout dos dividendos aos acionistas, aumentando de 35,5% para 40%, justificando assim a reestruturação”.

Segredo de estado

Outro agravante, segundo os funcionários, é que a direção do BB se recusa a negociar os termos dessa “reestruturação”. Além da falta de diálogo, os trabalhadores sequer sabem quais agências e postos serão fechados. O dirigente afirma também que o sigilo com que a proposta vem sendo tratada indica que a proposta não veio da direção do banco, mas diretamente do governo Bolsonaro. “Da forma que o banco está trabalhando nela, como se fosse um segredo de estado, quer dizer que veio pronta do Ministério da Economia”, disse Fukunaga.

Nesta segunda-feira (8), os bancários e a direção do BB tiveram uma reunião mediada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Mais uma vez, o banco não prestou esclarecimentos sobre o plano de reestruturação. As partes têm um novo encontro marcado nesta terça-feira (9). “Queremos que o banco suspenda os procedimentos, enquanto estivermos negociando. Mas o banco se nega a negociar”, afirmou o secretário-geral da Contraf-CUT, Gustavo Tabatinga. 

Em função disso, os trabalhadores acreditam que apenas a mobilização da categoria é capaz de forçar o comando do BB a negociar. No último dia 29, os bancários do BB realizaram a primeira paralisação contra o desmonte. A greve ainda foi antecedida de dois de protestos realizados durante o mês de janeiro, que mobilizou a categoria nas ruas e nas redes.

Rede Brasil Atual

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