Pablo Gomes – Jornalista e cineasta

A classe trabalhadora internacional deve inequivocavelmente condenar a invasão e ataques russos que estão acontecendo neste momento na Ucrânia. A guerra contra a Ucrânia é um crime contra a humanidade e serve apenas para os interesses das oligarquias em Moscow, Kiev e Washington, além das demais potências militares e econômicas por toda a Europa. Trabalhadores ucranianos, russos e de outros países que estão sendo ou poderão ser afetados com a escalada dos conflitos, são as maiores vítimas da violência no leste europeu.

A invasão russa à Ucrânia não é resultado de uma decisão recente por parte de Moscou. Na verdade, é consequência de uma série de eventos das últimas três décadas que envolvem agressões diplomáticas, ameaças imperialistas e golpes políticos. Desde o fim da União Soviética, a promessa de que a OTAN não se estenderia para o leste europeu foi quebrada diversas vezes. Primeiro em 1999, com a adesão da Polônia, República Checa e Hungria. Anos depois, em 2004, com a entrada da Romênia, Eslovaquia, Eslovenia, Lituânia, Latvia, Estônia e Bulgaria. A expansão continuou em 2009 com a adesão da Albânia e Croácia, e em 2020, da Macedônia do Norte. A extensão da OTAN para o leste é uma movimentação deliberada por Washington e membros do Tratado para controlar regiões estratégicas no leste europeu, noroeste da Ásia e nos mares Negro e Cáspio. Não é preciso se esforçar muito para entender a preocupação de Moscou com tal movimentação. Não é preciso ser nenhum gênio para ver que a Rússia tem sido alvo da OTAN nas útlimas três décadas.

A Ucrânia (que faz fronteira com a Rússia) tem sido uma das regiões mais cobiçadas tanto por Moscou quanto por Washington-OTAN desde a dissolução da União Soviética. Sua localização geográfica com acesso à reservas de gás, petróleo e ferro; e ao Mar Negro e de Azov, é de extrema importância para o controle geopolítico do leste europeu e norte da Ásia. Portanto, a cobiça por influênca na região não é à toa. As tensões começaram a se intensificar em 2013 com a pressão de Washington para que a Ucrânia assinasse um acordo de livre mercado com a Europa ocidental. No entanto, o então presidente Viktor Yanukovych (que era pró-russo) negou-se a assinar tal acordo, desencadeando uma série de protestos pelo país (apoiados pela União Europeia e Washington) que culminou com o golpe de 2014 e a desposição de Yanukovych.

Mas o golpe de 2014 e a queda de Yanukovych criou ainda mais tensões no país. Primeiro, com uma série de protestos violentos entre simpatizantes e não simpatizantes do golpe, que culminou com uma intervenção militar russa no leste e sudeste da Ucrânia, resultando na criação dos protoestados autoproclamados de Donetsk e Lugansk. Na Crimea, que tem uma população majoritariamente russa, um referendo em março de 2014 aprovou a independência da região e sua separação da Ucrânia. Esses acontecimentos políticos causam uma guerra civil  que se inicia pelo sul e leste do país entre  separatistas e milícias neonazistas ucrânianas como o Batalhão de Azov, que hoje atua oficialmente como parte da Guarda Nacional do governo de Volodymyr Zelenskyy.

O “Protocolo de Minsk”, acordo assinado em 2015 por representantes da Ucrânia, Russia e Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, para por fim à guerra no leste do país e implementar cessar-fogo imediato, sofreu vários fracassos. Um dos motivos de tal fracasso tem ligação direta com a sabotagem de Kiev (com grande influência de Washington) que diminuiu qualquer possibilidade de estabilidade nas regiões. Além de bloquear diálogos estratégicos com Donbas, milícias ucranianas ligadas ao governo foram acusados de assassinar um líder separatista de Donetsk- um dos signatários do acordo de Minsk.

A “gota d’água” que levou às tensões mais recentes, está ligada às pressões de Washington para que a Ucrânia se torne membro da OTAN. Obviamente, Moscou também tem seus interesses imperialistas. Anexar regiões da Ucrânia e ter controle político do país faz parte dos planos da criminosa elite russa. Vladimir Putin é um oligarca, autocrata e representate da elite corrupta de Moscou, que se beneficiou das aquisições de propriedades do Estado com o fim da União Soviética. Putin é um capitalista e seus interesses políticos na Ucrânia são apenas para o benefício da elite russa e de seus aliados. A classe trabalhadora russa não terá nenhum vantagem com a atual invasão, pelo contrário, homens, mulheres e crianças serão expostos à violência e brutalidade dos conflitos. Até o momento já são mais de 4 mil soldados russos mortos no combate, sem falar na possibilidade de um conflito nuclear entre Rússia e EUA que deixaria milhões de mortos no país.

Do outro lado, o governo ucraniano, presidido Volodymyr Zelenskyy, um ex-comediante que agora trabalha como fantoche dos interesses de Washington.  Este fim de semana,  Zelenskyy convocou a população ucraniana para “defender o país”, numa tentativa cínica e vergonhosa de usar civis como escudo humano para defender os interesses da oligarquia ucraniana e de Washington-OTAN. Em vez de ser denunciado pelos meios de comunicação, tal monstruosidade tem sido vista pela mídia corrupta e decadente do ocidente como uma “ação de heroísmo” do presidente. Até o momento, dados oficiais já registraram centenas de civis mortos nos combates, além das milhares de pessoas feridas e de outras milhares que estão fugindo do país, criando mais uma nova crise de refugiados na Europa.

A classe trabalhadora tem lado. E seu lado é contra a guerra. Seu lado não é a favor de Putin, nem do governo ucraniano e tampouco de Washington. Seu lado não é a favor dos capitalistas. Para salvar seus lucros e o sistema capitalista, a classe burguesa é capaz de tudo- includindo uma guerra mundial que poderá rapidamente se transformar num conflito nuclear. Assim como no filme Não Olhe Para Cima, por mais cômico e trágico que possa soar,se pudessem, as elites não hesitariam em fugir para o espaço enquanto o mundo todo fosse destruído. A classe trabalhadora no mundo inteiro precisa se levantar contra a guerra na Ucrânia. E para isso, é preciso compreender que seu maior inimigo é o sistema capitalista- causador de crises econômicas, pobreza, epidemias e guerras. A resposta para o fim da guerra na Ucrânia não está nas mãos de Putin nem de Biden, mas em um movimento político socialista, internacionalista e anti-capitalista que una os trabalhadores do mundo inteiro contra a classe burguesa e suas contradições- causadoras da atual crise e das guerras imperialistas.

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