Pablo Gomes – Jornalista e cineasta

O avanço da OTAN no leste europeu e a intensificação da crise na Ucrânia acendeu mais um alerta no mundo inteiro. Desta vez, uma ameaça de guerra na Europa que pode se estender rapidamente para outros continentes.

Nas últimas semanas, Washington tem alegado que há uma ameaça iminente de que a Rússia pode invadir a Ucrânia a qualquer momento. Embora Moscou negue a possibilidade de um ataque, Washington já enviou mais de 8 mil soldados para a região. Moscou alega que o objetivo de Washington é colocar a Ucrânia contra a Rússia, intensificando ainda mais as tensões políticas e militares entre os dois países, que desde a derrubada do presidente pró-russia Viktor Yanukovych em 2014, enfrenta conflitos na fronteira com a Rússia,  provocados por forças paramilitares ligada a grupos fascistas e neonazistas.

A mais recente crise faz parte da pressão dos EUA para que a Ucrânia entre na OTAN. Moscou tem respondido com firmeza às provocações de Washington e afirma que não irá tolerar a entrada da Ucrânia à organização. “Não somos nós que estamos movendo  em direção à OTAN, é a OTAN que está se movendo em nossa direção. Por isso, dizer que a Rússia se comporta de forma agressiva, no mínimo não corresponde à lógica do senso comum”, afirmou recentemente o presidente russo Vladimir Putin em uma coletiva de jornalistas europeus.

A Ucrânia faz parte de uma região estratégica para os russos e obviamente Moscou também tem seus interesses geopolíticos e econômicos. No entanto, não é preciso se esforçar muito para compreender que Washington e seus aliados é quem são a grande ameaça. É Washington que nos útlimos vintes anos invadiu países soberanos como o Afeganistão e o Iraque e que tem desestabilizado por duas décadas, países como a Líbia, Síria e Paquistão. Os conflitos na Ucrânia e a crise política em 2014 também foram orquestradas por Washington. Moscou tem consciência do perigo de ter tropas da OTAN estacionadas ao lado de sua fronteira.  Além disso, com a entrada da Ucrânia na OTAN, Washington pretende ter mais controle das regiões do Mar Negro, Mar Caspio e da Caucasia, isolando a Rússia e bloqueando seu acesso à regiões do Oriente Médio, Asia central e das fronteiras ocidentais da China, locais onde o país tem pontos militares estratégicos.

Embora a Rússia já tenha afirmado que não irá tolerar a entrada da Ucrânia à OTAN, Washington afirma que tal decisão é inegociável e que já prepara sanções econômicas contra Moscou. Na última semana, os EUA ameaçaram cortar o acesso russo ao sistema financeiro global SWIFT para transações em dólares, o que exclui a Rússia de boa parte da vida economica mundial.

Na última sexta-feira (11/02/2022), oficiais americanos voltaram a dizer que uma guerra entre EUA e Rússia é iminente. Enquanto isso, CNN, The New York Times e parte da grande imprensa americana tenta convencer os americanos de que uma guerra contra a Rússia é novamente parte da odisseia de Washington em favor da democracia. Ao mesmo tempo, grupos críticos de um eventual conflito entre EUA e Rússia também tem minimizado a gravidade dos fatos. O jornalista americano Glenn Greenwald chegou a retuitar um comentário no Twitter que ironiza a estratégia da Casa Branca como “excelente”. “Se a Rússia realmente invade a Ucrânia, o mundo ficará sabendo que Washington estava dizendo a verdade. Se não tem invasão, Biden emerge como o líder que fez Putin se acovardar”.

Washington tem noção que um conflito entre EUA e Rússia não ficaria apenas isolado no leste europeu. Tal guerra rapidamente se alastraria pelo continente europeu puxando França, Alemanha, Espanha, Itália, Reino Unido e demais potências para o lado da OTAN, e obrigando a entrada de aliados da Rússia, como é o caso da China, para o lado oposto. Isso sem falar do fato de que a Rússia tem armamentos nucleares, o que obrigaria Moscou a usar seu arsenal nuclear em caso de um conflito mais intenso. A devastação de um conflito nuclear causaria uma crise humanitária jamais vista na história da humanidade.

Muitos podem achar que tal cenário apocalíptico seja um exagero. No entanto, tanto o Departamento de Estado dos Estados Unidos quanto o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha já ordenaram a saída de diplomatas e cidadãos que ainda estão na Ucrânia. O mesmo alerta foi dado por embaixadas do Reino Unido, Japão, Nova Zelândia, Holanda, Coreia do Sul e Austrália, que também aconselham que cidadãos de seus países deixem o quanto antes a Ucrânia por questões de segurança. O próprio presidente dos Estados Unidos já havia declarado e pedido para que cidadãos americanos deixassem o país porque as “coisas podem sair do controle rapidamente” e acrescentou que o conflito pode se tornar numa “guerra mundial”.

O desejo de Washington por guerra é uma ação deliberada. Com a crise global do capitalismo e as tensões geopolíticas aprofundadas por essas crises, o imperialismo americano e seus aliados não tem outra opção a não ser atacar seus adversários políticos e econômicos, neste caso, a China e a Rússia.  Nos EUA, a catástrofe sanitária causada pelas medidas criminosas anti-vacina e anti-lockdown nos últimos dois anos, além da perda de trabalho e direitos, tem criado uma uma grande insatisfação da classe trabalhadora contra as adminstrações Trump e Biden. Uma guerra seria a desculpa perfeita das elites mundiais para não só lucrar com o aparato militar, mas  atacar qualquer resistência interna da classe trabalhadora aos desmandos com a pandemia do COVID-19. Uma guerra contra Rússia cria as condições perfeitas para as elites americanas implantarem um programa nacionalista que tira do foco os problemas internos criados por elas mesmas ao mesmo tempo que demoniza adversários políticos como a China, Rússia e Irã.

A classe trabalhadora no mundo inteiro (sobretudo americanos e russos) precisa se opor a qualquer tentativa da burguesia de criar uma guerra que poderá rapidamente se espalhar pelos cinco continentes. Um conflito armado entre EUA e Rússia dificilmente ficaria isolado e custaria a vida de milhões de pessoas. A tragédia da COVID-19, intensificada pela condução criminosa e incompetente da burguesia, é um exemplo claro de que líderes mundiais não pensariam duas vezes em colocar a população mundial em risco novamente, mesmo que desta vez, em vez de centena de milhares de mortos, o número de vítimas fatais ultrapasse a barreira de milhões.

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