André Cabral – Historiador e professor
O Afeganistão vive décadas em guerras tribais estimuladas por invasões de forças militares estrangeiras no país, como as soviéticas e as estadunidenses. Do ponto de vista étnico O Afeganistão é uma sociedade tribal, a população tem uma composição formada por grupos: pachtun, tajique, hazara, uzbeque, aimaq, turcomano, baluchis, pashais, nuristanis, gujjar, árabe, brahui, qizilbash, pamiri, quirguiz, sadat e outros.
No aspecto geográfico (Ásia central) sempre foi ponto estratégico, em especial para o estabelecimento de rotas comerciais entre Ocidente e Oriente. Sendo assim, alvo de muitos exploradores, como persas, macedônios, turcos e mongóis em sua história.
Na história contemporânea das agressões estrangeiras, a primeira ocorreu ainda na chamada Guerra Fria, com a URSS invadindo em 24 de dezembro de 1979, com cerca de 8.500 homens enviados diretamente para Cabul. Os soviéticos destituíram do poder Hafizullah Amin. Com a invasão soviética nasceu uma oposição armada: os mujahidin, utilizando táticas de guerrilha e com forte apoio estadunidense, sendo que a Central Intelligence Agency (CIA) foi encarregada de financiar, treinar e armar os “rebeldes”.
Nesse contexto da Invasão soviética, surge a liderança saudita que lutou ao lado dos mujahidins, Osama bin Mohammed Laden e cerca de 4 mil sauditas. No Afeganistão, sem condições financeiras, passou a dedicar-se integralmente à causa islâmica, destaque para o grupo egípcio “Al Jihad”, liderado por Ayman al-Zawahiri. Aproximou-se dos Talibãs, grupo ironicamente financiado pelos Estados Unidos e Arábia Saudita. Tornou-se amigo e confidente do seu chefe, o Mulá Omar.
Nas disputas entre Estados Unidos e União Soviética, e mais recentemente, União Europeia, Israel, Arábia Saudita e Irã, financiaram grupos considerados terroristas como Estado Islâmico, (EI), Al-Qaeda, Talibã e o Hezbollah.
A pretensão dos países invasores é explorar a vasta quantidade de recursos minerais, transformando a região em ligação estratégica entre a Ásia e Europa, no ponto geopolítico imbricado aos interesses das grandes corporações multinacionais.
Discorrer hoje sobre a atual questão afegã é regressar para os ataques de 11 de setembro 2001 às Torres Gêmeas e ao Pentágono nos Estados Unidos. Após os ataques, o então presidente George W. Bush iniciou uma campanha contra o terrorismo e ao que ele chamou de “Eixo do Mal” iniciando a chamada “Guerra ao Terror”. Os Estados Unidos adotaram uma política unilateral e ideológica nomeando Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Coreia do Norte e Cuba de colaboradores do terrorismo e que o Afeganistão escondia o líder da Al-Qaeda, Osama bin Mohammed Laden, que eles tinham financiado em 1979 contra a invasão soviética. Invadiram o Afeganistão em outubro de 2001 e o Iraque em março de 2003.
Foi após os ataques terroristas realizados nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, que os EUA invadiram e derrotaram a República Islâmica liderada pelo Talibã. Para isso, foram enviados 800.000 soldados americanos.
Essa escalada, com a justificativa da guerra contra o ‘terror”, foi patrocinada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a União Europeia e Israel, os países como Síria, Líbia e Iraque se encontram hoje mergulhados no caos e na guerra civil.
Segundo Julian Assange “O objetivo é usar o Afeganistão para lavar dinheiro fora do espaço tributário americano e do espaço tributário europeu e trazê-lo de volta para as mãos das elites de segurança transnacionais”.
O caos e crise humanitária em que se encontra hoje o povo afegão, com a retirada das tropas estadunidenses, onde milhares de pessoas se aglomeram às portas do terminal aéreo controlado por soldados dos EUA, na esperança de conseguir deixar o Afeganistão, são responsabilidades do invasor estadunidense e de sua política genocida. E só para lembrar: os invasores não são os Talibãs como a mídia internacional propaga. O que devemos fazer é defender a autodeterminação dos povos e sua soberania, que vêm sendo atacadas durante décadas por interesses escusos.