André Cabral – Historiador e professor
Quando falamos em corrida espacial e corrida armamentista, rememoramos a geopolítica da Guerra Fria, momento no qual EUA e URSS, a partir de 1957, inauguraram uma nova fase desse confronto internacional, quando a corrida espacial ficou caracterizada pela intensa exploração do espaço e pelo desenvolvimento de ogivas nucleares, deflagrando um conflito de cunho científico e tecnológico. Essa disputa se iniciou com lançamento do Sputnik 1, o primeiro satélite artificial, que transportou a cadela Laika, desenvolvido pela União Soviética, sendo que logo depois os Estados Unidos lançaram o Explorer 1.
Nessa disputa pela conquista espacial, os soviéticos foram pioneiros ao enviarem o primeiro homem ao espaço, Yuri Alekseyievich Gagarin, junto com German Stepanovich Titov (Vostok 1). Em resposta, os estadunidenses enviaram a Apollo11, tripulada por Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins: eles foram os primeiros seres humanos a irem à Lua.
Ainda nessa conjuntura da bipolaridade, outra tecnologia abalava o mundo: as armas nucleares. O primeiro teste até hoje, duas bombas nucleares foram detonadas durante uma guerra: a Little Boy de Hiroshima e a Fat Man de Nagasaki, ambas em 1945, pelos Estados Unidos no Japão no fim da Segunda Guerra Mundial; partindo de momento as grandes potências opostas da Guerra Fria começaram a ser agressivas uma com a outra.
Segundo as estatísticas atuais, os Estados Unidos e a Rússia detêm 90% do arsenal atômico do planeta, seguidos pela China, França, Reino Unido, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte. Tal corrida da conquista espacial e das ogivas nucleares se combinam na busca constante de alimentar a indústria de armas, assim como foi no passado.
Na atualidade, a Agência Espacial Americana (NASA) lança sondas que chegaram a quase todos os planetas próximos à Terra , ao Sol, à asteroides e até mesmo ultrapassaram a fronteira do Sistema Solar, caso das Voyage 1 e 2. Mas, em 2019, a agência anunciou “a volta das viagens tripuladas ao Cosmos”, na paranoia é encontrar um planeta habitável. Nessa busca frenética, a Agência Espacial Chinesa voltou a explorar o solo lunar, com um módulo de pesquisa que conseguiu coletar e trazer para a Terra material da superfície do objeto celeste; a Índia quer chegar à Lua; a Rússia pretende lançar a própria estação espacial; o Japão, por sua vez, quer explorar (sem tripulação) um dos satélites de Marte, e os Emirados Árabes lançaram-se rumo ao planeta vermelho, na primeira missão espacial árabe. Já a União Europeia trabalha em parceria com a Nasa e deve participar da estação espacial na Lua, em 2024.
No nosso século, a corrida espacial apresenta uma novidade: agências espaciais privadas, como é o caso da Space X, do bilionário Elon Musk, que pretendem explorar o Cosmos e vender seus serviços e tecnologias para os programas espaciais governamentais.
Os benefícios para uma parte da humanidade foram fantásticos como, por exemplo, o desenvolvimento de computadores de bordo. As câmeras dos celulares também são fruto da pesquisa espacial: elas foram criadas, originalmente, no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa para equipar sondas, assim como a luz de Led, etc…
Mas há quem argumente sobre o lado negativo dessa escalada tecnológica rumo ao espaço sideral, como afirmar Maia Cross, professora das relações internacionais da Universidade de Northwestern dos EUA “O perigo é quando sentimos que temos que usar uma arma ou irmos sozinhos ao espaço”. Entre as preocupações apontadas, destacam-se as seguintes: ‘’Em 2007, a China lançou uma arma para destruir um de seus satélites, o que causou um alvoroço internacional”.
“No fim de março de 2019, o governo indiano lançou um míssil antissatélite que atingiu e destruiu um de seus satélites também”. Logo após, pondera Cross: “Todos os atores envolvidos encontram-se em uma corrida para alcançar a superioridade ou o domínio, e são tão movidos pelo pânico que, antes que você perceba, todos estão armados até os dentes.”
Concluímos que todo esse desenvolvimento tecnológico da guerra fria até hoje não visou o desenvolvimento da humanidade mais sua destruição, como o ataque nuclear ao Japão no final da Segunda Guerra Mundial, onde os estadunidenses lançaram sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Beneficiados são as ditas potências econômicas, a indústria Bélica e os interesses geopolíticos.