Quando se fala em acidentes envolvendo carros autônomos, é provável que a imagem que venha à sua cabeça seja de um Tesla. Afinal, entre junho de 2021 e maio de 2022, os veículos da marca causaram 70% dos acidentes com carros equipados com piloto automático nos Estados Unidos. Além disso, ao longo dos anos, já foram registradas 18 mortes envolvendo esses veículos.

A informação é de um relatório da Administração Nacional de Segurança no Tráfego Rodoviário (NHTSA), órgão regulador de trânsito do país. A pesquisa analisou 394 acidentes envolvendo carros com piloto automático adaptativo, 273 deles foram com modelos da Tesla. A empresa de Elon Musk tem mais de 800 mil veículos semiautônomos em circulação nos EUA. A segunda marca com maior número de ocorrências foi a Honda, com 90.

As mortes mais recentes causadas por perda de controle de veículos equipados com piloto automático da Tesla foram na China, quando um Model Y desgovernado atropelou dois pedestres. Diante de tantos sinistros, até o nome do equipamento, “Autopilot” ou “piloto automático”, em português, está sendo questionado, pois daria aos clientes a impressão de que os carros podem dirigir sozinhos, quando, na verdade, só podem prestar auxílio ao condutor.

Por que tantos acidentes?

Ricardo Takahira, integrante da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), explica que apesar do carro autônomo parecer cada vez mais distante da realidade por conta dos acidentes, ele já existe no campo, em plantas fabris e em outros cenários logísticos.

“A questão é que existe uma falsa ideia de que esses carros vão rodar primeiro na cidade, mas esse é o último lugar para eles, pois são áreas com muitos eventos, muita coisa pode dar errado”, informa.

O engenheiro explica que a maioria dos acidentes, principalmente os fatais, aconteceram em cidades ou regiões inadequadas para a tecnologia atual de carros autônomos, justamente devido à quantidade de pessoas e objetos que o veículo precisa reconhecer e desviar.

“O carro autônomo é como uma criança aprendendo a reconhecer o mundo. Na agricultura e na mineração, por exemplo, que são ambientes controlados, eles já atuam há muito tempo ajudando no transporte de material”, diz Takahira.

Por que acontece tanto com a Tesla?

Apesar de a Tesla ser a empresa em evidência quando o assunto é carro autônomo, por ter muito mais carros em circulação, existem várias outras investindo no setor, como Amazon, Google, Apple, etc.

“A questão é que os carros do Google, por exemplo, empresa que está se dando melhor nessa corrida, são equipados com Lidar, um radar que fica em cima do veículo. É feio, mas garante a precisão que apenas as câmeras GPS não dão.”

O engenheiro explica que os modelos da Tesla não utilizam essa tecnologia, se apoiando em imagens de câmeras, que podem falhar. “A Tesla usa computação visual, um sistema que não tem tanta redundância quando o da Google. Ou seja, se uma sujeira ou excesso/falta de luz atrapalha a visão da câmera, por exemplo, ele deixa de funcionar. Para mais segurança, é preciso ter uma fusão de sensores, como sonar, radar e lidar, mas é claro que também sai mais caro”, diz Takahira.

Em seu site, a própria Tesla alerta sobre a necessidade de os sensores estarem sempre limpos. “Certifique-se de que todos os sensores (se equipados) e câmeras estão limpos antes de cada viagem. Consulte Limpeza das câmeras e dos sensores para obter mais informações. As câmeras e sensores sujos, as condições ambientais, como a chuva, e as marcações de faixa desbotadas podem afetar o desempenho do piloto automático”, alerta a montadora.

A infraestrutura do local onde o veículo é utilizado também influencia na segurança do sistema. “É fácil perceber que o local onde aconteceu o acidente com o Tesla na China não era apropriado. Era uma via de bairro, com baixa sinalização que mal tinha faixas de rodagem. Não é um ambiente para rodar com esse sistema de piloto automático, ele não vai reconhecer os obstáculos”, pondera.

Fonte: Uol

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