Natércia Lopes – Matemática, Doutora em Ciências da Educação e Professora da UNEAL e Semed/Maceió

De acordo com a ONU, no mundo uma em cada três mulheres sofrem violências. Buscamos falar sobre o empoderamento feminino e as questões de equidade de gênero, mas, a bem da verdade, na criação dos meninos quase nada mudou nos últimos 50 anos. Os homens continuam sendo criados tendo que manter um conjunto de ideias e crenças simplesmente por pertencerem ao sexo masculino. Homem não chora, não pode ser sensível, não pode ter nenhuma característica que remeta a algo feminino, afinal, menino usa azul e menina veste rosa. É a ideia de que quanto mais distante o homem está do universo feminino mais “macho” ele será.

Parte da sociedade acredita que para ser homem é preciso seguir regras que constituem a “masculinidade”, que o mantenha como um ser viril, que tenha valor no grupo a que pertence. Comportamentos manipuladores, assediadores, de traição, diminuição e objetificação das mulheres é algo esperado vindo dos homens.

O menino precisa se revestir de potência e legitimar sua posição superior às mulheres porque ele tem o falo, o mesmo “pau” que era carregado nos antigos festivais em honra ao Deus grego Dionísio para simbolizar a força geradora da natureza. A forma como se tem ensinado aos meninos a mostrarem sua força acaba por transformar uma parcela da sociedade em seres altamente agressivos em palavras e atos.

Essas atitudes ficam ecoando na mente humana e, com o passar do tempo, são internalizadas e acabam definindo a maneira de agir do homem. A mulher, por sua vez, é o ser que precisa ser obediente, sensível, que não pode sentar de pernas abertas, que deve servir ao homem, fazer o trabalho doméstico, ser prendada, educada e a famosa “bela, recatada e do lar”. Os homens, desde meninos, têm toda liberdade com o corpo, podem se relacionar com muitas mulheres, mas não podem brochar, porque isso é uma afronta à sua virilidade.

Os arquétipos mencionados até aqui precisam ser desconstruídos. Os homens precisam encontrar as formas de conviver entre eles, dados os altos índices de violência entre os homens, que se estendem contra as mulheres. Não é à toa que a maior população carcerária do Brasil é constituída por homens; acidentes de trânsito também são em sua maioria causadas por homens. O machismo acaba matando não só as mulheres, mas eles próprios.

Lutamos contra esses comportamentos machistas, defendemos a equidade de gênero, buscamos eleger pessoas que levantam a bandeira feminina e que, verdadeiramente, apoiam as mulheres, porém, infelizmente, a chamada masculinidade tóxica, construída socialmente, ainda pode ser percebida em declarações como “vamos comer ela!”, “procurem uma princesa!”, “imbrochável!”. Ocorre que tais declarações só reafirmam o machismo enraizado em nossa sociedade e no meio político. O machismo do homem viril, marcado pela força, que nunca fraqueja, que é superior por ser o detentor do falo, que é mito por ter um poder sexual incomum. Ele se coloca numa posição acima de todas as mulheres e de outros homens, e, nesse pacote de discursos de mentalidade patriarcal, a sociedade perde. Todas e todos saímos fragilizados.

Mal saímos do agosto lilás, um mês de conscientização e combate à violência contra as mulheres e entramos no mês primaveril, no entanto, ao invés de flores, recebemos um soco no estômago ao perceber que quem tinha a obrigação de colaborar com a formação da consciência política e da constituição da cidadania de nossa população, acaba por nos colocar como centro de um vexame global.

Deixo esta reflexão e meu repúdio a todo e qualquer ato de intolerância, opressão e/ou de violência contra as mulheres.

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