Presidente eleito, que discursou nesta quarta, é visto por líderes mundiais como peça importante nos diálogos e negociações mundiais para a transição energética e para limitar o aquecimento global em 1,5°
O presidente eleito do Brasil Luís Inácio Lula da Silva (PT) chegou ao Egito nesta terça-feira (15) para participar de encontros com líderes mundiais na Cúpula das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas (COP27). Visto como uma importante liderança que ‘encurtará caminhos’ nas negociações entre os países para estabelecerem e cumprirem metas para limitar o aumento da temperatura global em 1,5°C, Lula foi recebido com entusiasmo por lideranças de diversos países.
Já na manhã desta quarta-feira (16), o presidente eleito discursou na COP27, afirmando que o Brasil “vai mudar definitivamente”. Lula se comprometeu a combater o desmatamento ilegal no país e também garantiu proteção aos povos originários.
“É importante as pessoas saberem que nós vamos cuidar dos povos indígenas, e por isso nós vamos criar o Ministério dos Povos Originários. Queremos dar cidadania às pessoas. Nós vamos conversar com os governadores. Não queremos fazer nada sem conversar, sem acordar”, disse Lula.
O presidente eleito deixou clara a importância da biodiversidade da região Amazônica para a ciência e reforçou que as riquezas continuarão sendo exploradas, mas de forma consciente e responsável.
“Se a Amazônia tem o significado que tem para o planeta Terra, a importância que os cientistas dizem que tem, nós não temos que medir nenhum esforço para que a gente consiga convencer as pessoas de que uma árvore em pé, uma árvore viva, serve mais que uma árvore derrubada sem nenhum critério e necessidade” disse.
Ainda na manhã desta quarta, Lula recebeu uma carta compromisso, entregue por Helder Barbalho, governador do Pará, em que governadores brasileiros de propõem uma agenda comum de transição climática para a Amazônia.
O documento é assinado pelos nove governadores que integram o Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal e traz propostas de ações que, para a execução, dependem tanto do governo federal como de outros países e empresas internacionais.
“Alavancar os meios para promoção do desenvolvimento sustentável da região, particularmente com ênfase na inovação, no reforço da agregação de valor aos produtos florestais e da biodiversidade, por meio da bioeconomia”, diz trecho da carta.
O texto cita ainda ‘aproveitamento racional das vocações da região’ e ‘dar dignidade aos 29,6 milhões de habitantes de uma região chave para a conservação da biodiversidade e estabilidade climática do planeta’.
Ainda a pedido de Helder Barbalho, Lula solicitou ao secretário-geral da ONU, António Guterres, que a edição de 2025 da conferência seja realizada no Brasil.
Líder mundial mesmo antes de ser empossado
Para o mundo, o Brasil é peça fundamental no jogo contra o aquecimento global e para a transição energética. O país sempre esteve na mira dos líderes do planeta em relação à preservação do meio ambiente, já que é em território nacional que se encontra o maior bioma da terra, a Amazônia, cujo desmatamento durante os últimos anos de governo Bolsonaro acenderam o alerta máximo em todo o mundo.
“Lula é uma esperança na COP. Todos os países que o saudaram após a eleição mencionam a importância de o Brasil ser protagonista nos diálogos e expressam o desejo de negociar com o país que o tema avance de verdade, o que não acontece com o atual governo”, diz Daniel Gaio, secretário de Meio Ambiente da CUT, também presente na COP27
Se com o governo Bolsonaro o diálogo na conferência era de intolerância, chantagem e mentiras, com Lula a conversa será de caminhos efetivos para que tanto o Brasil quanto outros países estabeleçam as metas. O que o mundo espera do Brasil é uma atuação honesta. Em 2021, o governo Bolsonaro mentiu na conferência (COP26), ao afirmar que o país apresentava queda no desmatamento e nas queimadas em nossos biomas.
Dados levantados pelo Sistema de Alerta de Desmatamento do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia mostraram que o desmatamento no ano passado foi o pior em 10 anos de monitoramento do estudo. Em 2022, somente nos primeiros cinco meses a Amazônia perdeu 3.360 Km² de mata nativa.
Outros dados, do Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes), mostram que Lula reduziu em 75% o desmatamento da floresta amazônica entre 2004 e 2010. Já no governo Bolsonaro a destruição aumentou 73% em apenas três anos (2019 a 2021).
Na COP27
Convidado a participar da Cúpula pelo governo do Egito, Lula foi citado já na abertura do evento, no dia 6 de novembro, pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore. “O povo brasileiro escolheu, há poucos dias, parar de destruir a Amazônia”, disse o político e ativista norte-americano.
Logo após a eleição, Lula já mudava o cenário mundial das expectativas sobre a transição energética no mundo. Além de ser convidado a participar do evento e ser ‘estrela’ nas discussões climáticas, os dois maiores financiadores do Fundo Amazônia – Noruega e Alemanha – anunciaram a retomada de investimentos no Fundo.
“Com Lula, o Brasil volta a ser um ator que puxa para frente as negociações e que aponta perspectivas positivas e avanços nas negociações”, pontua Daniel Gaio.
Agenda do presidente eleito
Nesta quinta-feira (17), Lula se encontrará com representantes da sociedade civil brasileira, no Brazil Hub na COP27, e com o Fórum Internacional dos Povos Indígenas/Fórum dos Povos sobre Mudança Climática. Na sexta-feira, segue para Portugal, onde tem encontro com autoridades portuguesas e de onde retornará, no fim de semana, para o Brasil.
Lula também teve encontros com o enviado do governo dos Estados Unidos, John Kerry e com o representante do governo da China, Xie Zhen Hua.
Veja trecho do discurso de Lula na COP 27 sobre a atuação no combate ao desmatamento
“Nós vamos assumir um compromisso com prefeitos. A gente não vai evitar queimada se a gente não tiver o compromisso dos prefeitos. É o prefeito que está na cidade, que sabe de quem é a terra, que sabe onde começou. Não adianta ficar discutindo de Brasília. É importante descer onde está acontecendo as coisas, é importante pactuar e saber que os prefeitos vão ter recursos para que a gente possa cobrar deles alguma coisa. Eu tenho noção de que ao longo do tempo o governo federal foi passando muita responsabilidade e menos dinheiro para os prefeitos. Eu tenho noção que cada vez que a gente faz uma política de desoneração a gente dá ganho para os empresários e sufoca os prefeitos, que vão receber menos dinheiro para fazer aquilo que nós determinamos para eles na Constituição. Não poderia ser um encontro melhor, em um fórum internacional, para dizer para vocês: o Brasil vai mudar definitivamente. A democracia vai voltar a reinar no nosso país e o diálogo será permanente. Nós, políticos, podemos ser adversários em uma ou outra eleição, mas nós não somos inimigos. O presidente da Repúblcia tem a obrigação de conversar com todos em igualdade de condições, sem perguntar a que partido ele pertence, que religião ele professa e que time de futebol ele torce. Nós governamos para o povo brasieiro, e para acabar com a fome no Brasil, com a miséria, com o processo de degradação que nossas florestas estão vivendo, com o sofrimento dos nossos indígenas, nós vamos ter que conversar muito e trabalhar junto, para que o Brasil serja motivo de orgulho para o mundo, e não motivo de desespero como é hoje”