Redução de custos e ajuda estatal estão entre os principais fatores; mais de 1,3 mil agências foram fechadas em um ano

A crise econômica, agravada pela pandemia, fez com que a fome no Brasil retornasse a patamares anteriores à criação do Bolsa Família. O número de desocupados cresceu 19,7% em 2020. Em fevereiro e março deste ano, a produção industrial recuou duas vezes seguidas. Porém, nem todos os setores são atingidos igualmente. Prova disso são os balanços do 1º trimestre dos bancos Itaú, Santander e Bradesco, divulgados esta semana.

O Santander, com sede na Espanha, obteve lucro líquido de R$ 4,012 bilhões, uma alta de 4,1% em relação ao mesmo período do ano anterior e de 1,4% em relação ao 4º trimestre de 2020. Foi o maior lucro trimestral do banco desde 2010.

O Itaú Unibanco teve um salto ainda mais expressivo. O lucro líquido foi de R$ 6,398 bilhões, uma alta de 63,5% em relação ao mesmo período de 2020 e um crescimento de 18,7% no trimestre.

O Bradesco também teve aumento significativo no balanço divulgado esta semana. O lucro líquido saltou 4,2% no trimestre e chegou a R$ 6,5 bilhões, uma alta de 73,6% sobre o 1º trimestre de 2020.

Provisionamentos

Para interpretar esses dados, o Brasil de Fato entrevistou a economista Vivian Machado, mestre em Economia Política e técnica do Dieese, na subseção da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (CONTRAF-CUT).

“No 1º trimestre do ano passado, houve queda nos balanços, mas não necessariamente por problemas na atividade financeira. O que houve é que, diante de um cenário imprevisível, com a pandemia decretada, os bancos subiram o provisionamento, temendo uma explosão da inadimplência (não pagamento de empréstimos e outros compromissos)”, explica.

O provisionamento a que ela se refere são reservas que os bancos criam para cobrir perdas futuras estimadas. Ocorre, entretanto, que o cenário para as instituições financeiras foi menos desastroso do que se imaginava, devido a planos emergenciais de crédito lançados pelo Banco Central.

“Esse é uma das razões do crescimento expressivo que se observa em relação ao 1º trimestre de 2020”, completa.

Em relação ao último trimestre do ano passado, o crescimento é mais tímido. Segundo a especialista, isso mostra que “os bancos viram ao longo do ano que a inadimplência não caiu, e todo o provisionamento excedente foi sendo revertido.”

Redução de despesas

Vivian Machado avalia que o impacto negativo da elevação do câmbio, ao longo de 2020, praticamente não foi sentido neste 1º trimestre.

Um dos fatores centrais para entender o crescimento da lucratividade é a redução das despesas, por meio do fechamento de agências e da demissão de trabalhadores.

“Os bancos firmaram um compromisso com os sindicatos de não demitir durante a pandemia, mas quebraram esse acordo a partir de junho”, lembra. Santander e Bradesco, por exemplo, fecharam 10.933 postos de trabalho entre março de 2020 e março de 2021. O Itaú foi o único que aumentou o número de funcionários, com 1,8 mil postos de trabalho a mais.

“A maior parte desse saldo do Itaú veio da incorporação de uma empresa de tecnologia, adquirida pelo banco no ano passado. Ou seja, não quer dizer que eles abriram todas essas vagas”, pondera a especialista.

Em plena migração para o formato digital, os bancos privados fecharam 1.343 agências durante a pandemia. O recordista absoluto nesse quesito foi o Bradesco, com 1.088 postos encerrados no período.

“Não é justo socialmente, enquanto concessões públicas, eles estarem cada vez mais demitindo, fechando postos de trabalho, especialmente em um momento delicado como esse. Os bancos alegam que estão digitalizando tudo porque é interesse do cliente, mas tem muita gente que precisa da agência. Se não tivesse essa procura, as lotéricas e a Caixa Econômica não estariam sempre cheias”, afirma Machado.

“Eles economizaram R$ 750 milhões em três ou quatro itens das despesas administrativas do ano passado só por conta do home office. Enquanto isso, os trabalhadores têm mais despesa com energia, com alimentação”, completa.

O primeiro a ser socorrido

Menos de uma semana após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar a pandemia de covid-19, o governo brasileiro liberou R$ 3,2 trilhões para os bancos renegociarem prazos para os créditos já concedidos.

“Mesmo já sendo um setor solvente e muito capitalizado, e até por isso conseguiram passar pela crise de 2008, os bancos foram os primeiros a serem socorridos no início da pandemia”, aponta a economista.

“Embora os juros tenham caído, as receitas de operação de crédito cresceram. As taxas ainda são extremamente elevadas, e isso faz com que os bancos privados lucrem muito. Eles vêm tendo ganhos tributários significativos também. Estão pagando menos impostos e recebendo mais créditos tributários de volta”, acrescenta.

Por outro lado, mais de ano depois do início do surto, os bancos só usaram 23,7% do valor liberado para socorrer a economia brasileira. A missão de atender à população e às pequenas empresas durante a crise sanitária ficou praticamente restrita aos bancos públicos, segundo dados do Banco Central. “Os bancos privados focaram nas grandes empresas, que é onde eles estão seguros e sabiam que não iriam perder”, finalisa Machado.

Os balanços das instituições públicas, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, serão divulgados nas próximas horas desta quinta-feira (6).

Fonte: Brasil de Fato

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