Menos de um ano depois de terem sido expulsos, quando o governo federal iniciou uma série de grandes operações no território yanomami para expulsar 20 mil garimpeiros, eles estão voltando e ameaçando o povo Yanomami. Segundo a Funai, houve uma redução de 80%. Mas, de acordo com o Ibama, nos últimos 4 meses, a presença deles voltou a crescer.
Onze meses depois do início da força-tarefa do governo federal, garimpeiros ilegais estão voltando a explorar a Terra Indígena Yanomami em Roraima.
Aviões de garimpeiros sobrevoam a maior reserva indígena do Brasil. O espaço aéreo no território Yanomami está fechado e é monitorado pelas Forças Armadas – a área do tamanho de Portugal tem 30 mil indígenas -; só com autorização de órgãos federais é possível voar no local.
Garimpeiros foram surpreendidos pelo helicóptero do Ibama quando o avião onde estavam decolava de uma pista clandestina. O piloto joga o avião em direção ao helicóptero da fiscalização e consegue fugir.
Nesta quinta-feira (7), outro avião caiu na reserva por causa de problemas técnicos. Os bandidos fugiram.
Esta semana, o Ibama está fazendo diversas operações e, em uma delas, flagrou um dos maiores garimpos, que estava desativado, de volta à atividade. Pelo alto, o cenário é de destruição do meio ambiente. Crateras são abertas no meio da floresta. Em volta, a água é suja e contaminada pelo mercúrio.
Garimpeiros foram surpreendidos em um barco, mas conseguiram fugir para dentro da mata antes da chegada dos fiscais. Os agentes do Ibama destruíram motores e equipamentos usados na extração de ouro e cassiterita.
Em janeiro, o governo federal iniciou uma série de grandes operações no território Yanomami para expulsar os 20 mil garimpeiros. Segundo a Funai, houve uma redução de 80%. Mas, de acordo com o Ibama, nos últimos quatro meses, a presença deles voltou a crescer.
“Depois de maio, as ações fiscalizatórias arrefeceram, perderam a frequência, e atividade foi retornando, principalmente com o suporte logístico aéreo. E, então, essas aeronaves clandestinas continuam voando no território. Elas estão dificultando muito o combate ao garimpo ilegal aqui”, afirma Felipe Finger, fiscal do Ibama.
Hoje, as operações sofrem com problemas de logística. As Forças Armadas desativaram um ponto de apoio dentro da reserva, que permitia o reabastecimento dos helicópteros de fiscalização.
“É uma grande ação conjunta. A logística de ressuprimento do Ibama e de outros órgãos, aqui dentro, é feita pelas Forças Armadas e, agora, a gente está aguardando eles retomarem esse ressuprimento aqui para a gente intensificar as ações novamente”, diz Felipe Finger.
A volta dos garimpeiros coincide com uma piora na saúde dos yanomamis, que ainda sofrem com a malária e desnutrição. Em um barco, a mãe carrega a filha doente a caminho do Polo de Surucucu. Segundo o Conselho Distrital de Saúde Indígena, a menina está com malária. Em outra imagem, a mulher aparece voltando à aldeia para enterrar a filha, que não resistiu.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, de janeiro a outubro de 2023, 215 yanomamis morreram: 90 por causas infecciosas, como pneumonia e malária.
Em maio, as Forças Armadas desmontaram os hospitais de campanha que funcionavam nos polos de Surucucu, dentro da reserva e também na Casa de Saúde Indígena, a Casai, em Boa Vista. Na Casai, uma mulher yanomami contou à equipe do Jornal Nacional que está internada por causa de diarreia e vômitos, e que os indígenas que ficaram na aldeia também estão doentes porque a água do rio está contaminada pelo garimpo.
O líder Yanomami Dario Kopenawa disse que os antigos problemas de falta de atendimento e superlotação voltaram.
“A minha observação: malária tem cura, desnutrição tem cura, diarreia tem cura, verme tem cura. Então, na Terra Yanomami, o principal vetor com que estamos sofrendo hoje em dia, não tem infraestrutura. O posto de saúde tem de ser abastecido, tem de ser qualidade, tem que ser mais profissionais para fazer tratamento na Terra Yanomami”, diz Dario, vice-presidente da Associação Yanomami Hutukara.
O Palácio do Planalto declarou que a Força Nacional de Segurança Pública tem intensificado as atividades na Terra Yanomami e que e o Ministério da Saúde enviou agentes com medicamentos e testes rápidos para realizarem a busca ativa de pacientes de malária.
Fonte: G1