A diferença entre o número de eleitores evangélicos que indicam voto em Jair Bolsonaro e no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem caindo consideravelmente desde a eleição de 2018. Segundo a última pesquisa a explicitar a intenção de votos desse segmento, o PoderData. Realizada de 22 a 24 de maio, o estudo mostra que o atual presidente lidera no primeiro turno, entre esse nicho religioso, com 46% a 33% sobre o petista. Na pesquisa anterior (divulgada em 12 de maio) a diferença era muito maior: 52% a 25%.

Entre católicos, o quadro favorece Lula: é de 44% a 35% na pesquisa desta semana, e foi de 47% a 30% na anterior.

Porém, há muita discrepância entre as pesquisas. A do Ipespe, por exemplo, considerando período semelhante, detectou 47% a 32% para Bolsonaro no segmento evangélicos entre os dias 16 e 18 de maio. Duas semanas antes, a diferença a favor do presidente era menor (43% a 35%).

Independentemente dos números, é de se destacar a significativa redução do apoio de religiosos praticantes a Bolsonaro desde a eleição de 2018. As estimativas feitas a partir de boca de urna do Datafolha a três dias do segundo turno daquele ano indicavam que Bolsonaro tinha 69% ante 31% de Fernando Haddad entre os cristãos evangélicos.

“O que vemos hoje ainda é um número alto, significativo, que representa uma articulação importante de grupos evangélicos, especialmente lideranças, no apoio a Bolsonaro. Porém, o que se observa é uma redução no que foi o apoio em 2018 e ao longo do governo Bolsonaro até agora”, diz a jornalista Magali Cunha, pesquisadora de mídias, religiões e política do Instituto de Estudos da Religião (Iser).

Preocupação com a vida

A clara redução do apoio evangélico a Bolsonaro desde que foi eleito revela “uma preocupação maior dos evangélicos com a vida”, opina a pesquisadora. “É difícil seguir apoiando esse governo quando se tem que viver, pagar as contas, quando tem o desemprego, o preço da gasolina, a deterioração do sistema de saúde e educação.”

O perfil dos evangélicos é, em sua maioria, de pessoas empobrecidas da periferia, mulheres e pessoas negras, lembra Magali. “Ainda que recebam orientação da parte de lideranças, especialmente as midiáticas, que têm benefícios e articulações com o governo, não é possível para essas pessoas continuarem apoiando o governo diante da realidade da vida.” Hoje, o número de evangélicos é estimado em 30% da população brasileira.

  • A analista também sublinha ter havido mudanças na campanha da esquerda e sua aproximação com os evangélicos. “Tanto a campanha de Lula quanto de Ciro Gomes fazem articulações de evangélicos progressistas atuando com mais eficácia, com maior preocupação com o discurso e com a linguagem”, diz. Essas articulações buscam uma abordagem mais eficaz do eleitorado evangélico, com mudança de linguagem e mais respeito por essa população”.

Na sua avaliação, isso tende a surtir efeito. “É positivo, principalmente na aproximação das lideranças que não são as midiáticas (as corporações evangélicas que apoiam Bolsonaro), mas das que estão no dia a dia das comunidades, nas pequenas igrejas. Essas têm recebido maior atenção. Isso certamente tem e terá efeito durante as campanhas”, avalia Magali Cunha.

“Imposição do medo”

Por outro lado, as lideranças “midiáticas” bolsonaristas continuam trabalhando com campanha política de viés eleitoral e conteúdos carregados de desinformação sobre a esquerda, especialmente Lula, e favoráveis ao governo Bolsonaro. A “imposição do medo” é permanente. As lideranças religiosas pró-Bolsonaro fomentam a ideia de inimigos da igreja como ameaça à liberdade religiosa.

Nesse sentido, uma mudança de abordagem e de linguagem, tratando os evangélicos como cidadãos comuns, como quaisquer outros, ao invés de estigmatizá-los, é importante para evitar perdê-los para o discurso bolsonarista, insiste Magali.

Fonte: Rede Brasil Atual

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