Para entender um pouco mais da polêmica envolvendo a proposta de implantação das escolas militares pela Semed em Maceió, entrevistamos o professor Kleber Bezerra, que leciona na Escola Municipal Professor Antídio Vieira e na Universidade Estadual de Alagoas. O professor Kleber Bezerra foi um dos criadores da gestão democrática nas escolas de Maceió, durante o mandato do prefeito Ronaldo Lessa (1993-1996) e da secretária de educação Maria José Viana.

1- Professor, por que os professores da Escola Municipal Professor Antídio Vieira rejeitam a proposta de implantação das Escolas Cívico-Militares do governo federal proposta pela Secretaria Municipal de Eduação?

Resposta – Os professores rejeitam a implantação das Escolas Cívico-Militares  pela forma como essa decisão foi tomada, sem discussão com a comunidade, de cima para baixo. E rejeitam também pelo conteúdo, pois tal projeto, de perfil ultraconservador, faz parte das estratégias negacionistas, obscurantistas e reacionárias no contexto da guerra cultural tão presente em nosso tempo.

2- Por que a escola militar é incompativel com o projeto político pedagógico da Semed?

Resposta – A escola militar é um golpe contra a escola pública, portanto, é uma estratégia nos marcos da autocracia burguesa e na conjuntura da ascensão fascista para moldar  a formação  dos filhos dos trabalhadores às exigências do grande capital.  Que exige,  em pleno processo  de reestruturação, um currículo que destile conformismo, adaptabilidade, empatia e um conjunto de competências socioemocionais que devem ser a base para a formação de um sujeito despossuído de tudo, inclusive de sua consciência de classe. Além de intensificar  os instrumentos de controle sobre o trabalho escolar, descaracterizando assim a função social e política de escola, como também, retira a autonomia dos professores que com muito protagonismo educam para a vida nossos alunos.

O programa das escolas cívico-militares, fere o princípio da gestão democrática,  implantado  há anos nesta rede municipal de educação, fruto das lutas históricas e honradas de abnegados trabalhadores e trabalhadoras da educação, na qual tive a honra de ajudar a construir.

3- Diante da posição do prefeito JHC de implantação das escolas militares, como está a mobilização para reverter essa situação?

Resposta – O que defendemos com empenho é a gestão democrática, uma escola inclusiva e alegre, laica e com liberdade de ensinar e aprender. Contrapomos-nos tanto às agendas educacionais ultraliberais centradas na competitividade, quanto aos ultraconservadores e reacionários.

Assim, estamos nos mobilizando no âmbito da escola e seu entorno, reunindo com frequência nosso conselho escolar, nossos educadores, grupo de pais, buscando também o necessário apoio do Conselho Municipal de Educação (COMED) e nosso sindicato (SINTEAL), angariando forças para barramos essa ofensiva ameaçadora. Não esquecendo aqui a liderança e apoio da nossa coordenadora pedagógica Josefa Amancio (Lúcia), que tem desde o início nos apoiado. Também iremos participar de um seminário de 28 a 30/04, com diversas entidades para construirmos iniciativas e lutas comuns. Quero aqui reafirmar nossa defesa da escola pública, democrática, laica e com liberdade de ensinar e aprender. Uma educação enquanto um campo de humanização, um campo de produção de sentidos e afetos, produtora de direitos humanos para todos e todas.

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