Paulo Memória – Jornalista e cineasta
Glauber fica! E ficou, apesar dos prognósticos pessimistas de que o Deputado Federal Glauber Braga (PSOL-RJ) conseguiria reverter a decisão tomada na Comissão de Ética, indicando a cassação do seu mandato parlamentar, mudando esta posição no plenário da Câmara dos Deputados. O Deputado Glauber, é, indiscutivelmente, uma das lideranças que mais tem crescido no campo popular-democrático e progressista brasileiro. Tem se consolidado como uma referência nos segmentos da esquerda nacional, ocupando um espaço da esquerda tradicional em nosso país, que tem se afastado cada vez mais das bases sociais nas quais alicercou sua ascensão aos poderes executivo e legislativo.
O motivo para a cassação de Glauber, segundo o relator do processo na Comissão de Ética da câmera federal, Deputado Paulo Magalhães (PSD/BA), foi uma ridícula justificativa de “quebra de decoro parlamentar”, em que ele teria “agredido” um membro do MBL – Movimento Brasil Livre, um provocador de extrema-direita, que não citarei o nome para não lhe dar palco. Este meliante há anos persegue o Deputado Glauber em seus eventos políticos no Rio de Janeiro, na persistente tentativa de desestabilizá-lo emocionalmente, com provocações de baixo calão e outras intimidações morais e até de violência física. As abordagens do referido néscio, nada tem haver com o embate político, sendo, tão somente, truculências e virulências verborragicas.
Glauber sempre contornou, em um exercício de extrema paciência, que tenho lá minhas dúvidas se eu teria, as afrontas deste tal integrante do Movimento Brasil Livre, que acaba de se transformar em um partido de viés assumidamente neo-nazista, chamado “Missão”. Observando que a tática de tentar tirar Glauber do sério não estava atingindo seus objetivos, este delinquente do MBL, saber-se lá a serviço de quem, aumentou o tom das agressões a Glauber, passando a frequentar os corredores da Câmara dos Deputados, em Brasília, focado nos ataques e impropérios contra o deputado do PSOL fluminense.
O desordeiro então extrapolou todos os limites da convivência civilizada, ao começar a desrespeitar e difamar a mãe de Glauber, ex-prefeita da Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, Saudade Braga, já gravemente enferma quando ocorreu este episódio. Era uma gestora conhecida pela sua competência administrativa e respeitada até pelos seus adversários políticos, como sendo uma mulher íntegra no trato da coisa pública e no convívio democrático. Foi o estopin para que Glauber, em um reflexo absolutamente compreensivel, reagiu expulsando aos empurrões, o marginal do recinto da Câmara dos deputados, dando margem para a construção da narrativa de que teria agredido o mesmo. Não é isso o que assistimos nas gravações do fato ocorrido. A única coisa que constatamos nas imagens, é a indignação de um filho, contra a tentativa de desmoralização da história e da imagem pública da sua mãe, sem condições de se defender e que, lamentavelmente, faleceu pouco tempo depois dos fatos aqui expostos.
E o mais interessante é que o relator deste processo contra Glauber, como dito anteriormente, foi o deputado do PSD baiano Paulo Magalhães, sobrinho do notório Antonio Carlos Magalhães, que foi julgado e absolvido no mesmo Conselho de Ética anos atrás, precisamente por agredir a socos e pontapés, o jornalista Maneca muniz, que lançava a época, um livro de denúncias contra seu tio ACM. Já nesta recente votação do conselho de ética, a cassação do mandato de Glauber foi aprovado por 13 votos favoráveis e 5 contrários, fazendo valer o ditado popular que cita os tais “dois pesos, duas medidas”.
Esta foi a primeira excrescência neste julgamento de cartas marcadas. Com a vitória da direita na Comissão de Ética, o processo foi remetido ao plenário daquela casa legislativa, onde são necessários 257 votos para cassar o mandato de um deputado, pena sugerida que foi abrandada por surpreendentes 311 votos a favor da suspensão do exercício do mandato do psolista por seis meses, ao invés de cassá-lo, o que o tornaria inelegível pelos próximos 8 anos. Mas o desrespeito à Glauber não para por aí. O insignificante presidente da Câmara dos Deputados Hugo Motta (Republicanos/PB), um fantoche do ex-presidente da casa, deputado Artur Lira, conseguiu superar o aloprado membro do MBL que perseguia Glauber, em uma agressão ainda mais grave.
Glauber teve que protagonizar, mais uma vez na condição de vítima, uma das mais bizarras cenas na história do parlamento brasileiro, quando, na ocasião em que presidia uma sessão regimental da câmara, foi surpreendido pelos policiais legislativos, arrancando-o a força da mesa dos trabalhos, com a autorização do atual presidente daquele poder legislativo, Deputado Hugo Mota, que ordenou ainda a derrubada do sinal da TV Câmara, fechou o plenário e expulsou a imprensa do local, numa típica cena da época da ditadura militar.
O pequeno ditador ou como diria o grande Leonel Brizola, “um filhote da ditadura”, Hugo Mota entrará para os pósteros nacionais como o novo Áureo de Moura Andrade, de triste memória, que, como presidente do Senado federal declarou vaga a presidência da república, abrindo caminho para o Golpe Militar de 64, que depôs o Presidente João Goulart. Posso ouvir a voz de Tancredo Neves ecoando novamente no plenário da Câmara dos Deputados, aos gritos indignados pela deposição de Jango: “canalhas, canalhas, canalhas” .











