Chamado de ‘Bolsonaro do Paraguai’, candidato da extrema-direita que alegou fraude na eleição presidencial é preso. Assim como o ex-mandatário brasileiro, Cubas estimulou um golpe de estado, fez incitação à violência e ameaças. A diferença é que lá ele acabou detido, enquanto Jair Bolsonaro continua em liberdade
A Procuradoria do Paraguai determinou nesta sexta-feira (5) a prisão de Paraguayo Cubas, candidato da extrema-direita derrotado na última eleição presidencial. Cubas não resistiu à prisão, feita na cidade de San Lorenzo.
Também conhecido como ‘Bolsonaro do Paraguai’, Cubas comandou protestos para contestar os resultados das urnas. A eleição foi acompanhada por observadores internacionais e não há nada que tenha colocado os resultados em xeque.
No Paraguai, as eleições presidenciais têm um só turno. A população votou no último dia 30 de abril. O vencedor da eleição foi o candidato de centro-direita, Santiago Peña (43%). A esquerda ficou em segundo lugar com Efraín Alegre (27%) e Paraguayo Cubas, da extrema-direita, somou 23% dos votos.
Assim como Jair Bolsonaro no Brasil, Cubas estimulou episódios de agressão física, ameaças e incitação à violência. Ele se apresentava nas eleições como candidato antissistema, que rejeita as instituições tradicionais da política.
Mesmo tendo ficado em terceiro na votação, apoiadores de Cubas fizeram dois dias de protestos em Assunção alegando, sem apresentar nenhuma prova, que houve fraude.
Em 2019, durante uma ação policial na fazenda de um brasileiro, Cubas chegou a pedir a morte de 100 mil brasileiros — que ele disse ser o número aproximado de brasileiros vivendo no Paraguai que seriam bandidos.
Eleição do Paraguai foi exceção entre ‘ondas políticas’ da América Latina
Diferente do que vem acontecendo em outros países da América Latina, a maioria do eleitorado paraguaio voltou a optar por um candidato à presidência do tradicional Partido Colorado, fundado no século 19, logo após a Guerra do Paraguai (1864-1870) e que está no poder, de forma quase ininterrupta, há quase 80 anos.
O eleitor paraguaio possui o perfil predominantemente conservador, dizem analistas. “As mudanças são difíceis para o paraguaio”, disse Esteban Caballero, professor da Flacso, falando de Assunção.
“Ao contrário do Chile, do Brasil, da Colômbia, de Honduras, não houve alternância e muito menos, digamos, uma guinada à esquerda. Em 2017, 2018, houve uma guinada (regional) à direita e agora dizem que existe uma guinada à esquerda. Mas não foi o caso do Paraguai. Não é o caso do Paraguai”, disse.
Uma oposição “desunida”, na opinião do sociólogo paraguaio José Carlos Rodríguez, acabou contribuindo para a nova vitória dos “Colorados”, como são chamados os que integram o Partido Colorado. “No Brasil, Lula reuniu vários setores, até adversários políticos, e assim venceu Bolsonaro. Aqui no Paraguai não foi assim”, disse Rodríguez.
Nos últimos anos, a Bolívia elegeu o presidente Luis Arce (2020), os chilenos elegeram o presidente Gabriel Boric (2021), os peruanos elegeram Pedro Castillo (que assumiu em 2021 e não concluiu o mandato) e a Colômbia elegeu Gustavo Petro, o primeiro presidente de esquerda do país, no ano passado. No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu vitorioso na eleição com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Mas o conservadorismo e a oposição “desunida” seriam apenas alguns dos motivos para o resultado da eleição no Paraguai, diferente das “ondas regionais”.
O Partido Colorado (Associação Nacional Republicana, ANR) é visto como “enraizado” em muitos setores do país e o fato de o Paraguai definir a eleição em um turno único, sem ter segundo turno, dificulta ainda mais a união da fragmentada oposição em torno de um único candidato.
Além da eleição de Santiago Peña, os “Colorados” venceram em 15 dos 17 departamentos (Estados) do país e a maioria das cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado.
Caballero afirmou que no eleitorado paraguaio, de cerca de 4,8 milhōes de votantes, muitos não são do Partido Colorado. Mas os que votam nos ‘Colorados’ são fiéis ou dependem (financeiramente) da legenda.
“O Paraguai tem cerca de 350 mil empregados públicos. A grande maioria é Colorado. E eles têm familiares. Faça as contas, são mais votos ainda no Colorado. O emprego é precário no país e o que paga melhor é o Estado. Ao mesmo tempo, estão os fornecedores (setor privado) que fazem negócios com o Estado e assim vai se formando um círculo de apoio ao Partido Colorado”, disse Caballero.
Fonte: Pragmatismo Político