Um dos nomes mais importantes das Ciências Humanas no Brasil, o filósofo, escritor e professor Roberto Romano morreu nesta quinta-feira (22), aos 75 anos, devido a complicações decorrentes de Covid-19. Segundo seu enteado, Roberto Franco Moreira, ele estava internado desde o dia 14 de junho no Instituto do Coração (InCor), ligado ao Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Romano era professor titular aposentado do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp e uma das vozes mais respeitadas no meio acadêmico.

Autor de vários livros, entre eles Brasil: Igreja contra Estado (Editora Kayrós, 1979), Conservadorismo romântico: Origem do totalitarismo (Editora da Unesp, 2001), Silêncio e Ruído: a sátira em Denis Diderot (Editora da Unicamp, 1996), Razão de Estado e outros estados da razão (Editora Perspectiva, 2014), Romano era graduado em Filosofia pela USP e doutor em Filosofia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris. O filósofo também era colunista do Jornal da Unicamp.

“Nossa universidade lamenta profundamente o falecimento do professor Roberto Romano”, disse o reitor da Unicamp, Antonio José Meirelles. “Após enfrentar complicações em consequência da Covid-19, ele se soma às tantas vítimas da pandemia em nosso país, decorrentes da pouca atenção que parte de nossas autoridades deram a esta tragédia que acomete o mundo”, completou.

O reitor destacou o papel de Romano como o de um intelectual de primeira grandeza. “Sempre se caracterizou pela defesa do ensino público e das nossas instituições de fomento à ciência e tecnologia”, pontuou. Segundo Meirelles, Romano representou uma voz eloquente a favor da ética nas instituições e no desenvolvimento das relações humanas. “Uma ética baseada na busca da igualdade e da solidariedade”. E completou: “Posicionou-se sempre com firmeza pelas políticas de inclusão em nossas universidades e pela justiça social em nosso país. Temos muito orgulho de tê-lo tido como membro de nossa comunidade universitária. Expressamos nossas condolências a seus familiares, amigos e colegas e nossa grande tristeza por esta perda”.

Profundo conhecedor da realidade social e histórica do Brasil, Romano era conhecido pela defesa incondicional dos direitos humanos e por sua profunda capacidade de analisar a conjuntura política. Em seus livros, artigos e entrevistas transparecem não apenas impecável fundamentação acadêmica, mas também uma vida cheia de histórias, de lutas e de um gande esforço para compreender a realidade nacional, do passado e do presente. 

Natural da pequena cidade de Jaguapitã, no norte do Paraná, próximo à divisa com São Paulo, Romano era casado há 50 anos com a socióloga Maria Sylvia de Carvalho Franco, autora do livro Homens livres na ordem dos escravocratas (São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros, Universidade de São Paulo, 1969) e egressa da turma de Florestan Fernandes. O filósofo também deixa dois enteados: Luíza Moreira, que é professora nos Estados Unidos, e Roberto Moreira, cineasta e professor na USP. Duas netas completam o núcleo familiar. 

Quando jovem, Romano mudou-se com a família para  Marília, onde cursou o ginásio e o ensino médio. Nessa época, ingressou na Juventude Estudantil Católica. Durante a ditadura militar, em 1969, foi preso e encaminhado, inicialmente, para o Centro de Informações da Marinha (Cenimar). Logo em seguida, foi conduzido à sede do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), em São Paulo. Ficou cerca de dois meses no Dops, onde foi torturado. No final de 1970, depois de ouvido pela Auditoria Militar, foi libertado e iniciou o curso de filosofia na USP. Ao final, foi absolvido por falta de provas.

Atento à realidade brasileira, Romano acompanhava com apreensão a evolução da pandemia no país. Em artigo publicado no Jornal da Unicamp, em junho de 2020, intitulado “Brasil: o assassinato do espírito”, o filósofo mais uma vez lançou um olhar crítico sobre a conduta negacionista do governo federal. “Se o presidente classifica trágica moléstia como “simples gripe” e nega os saberes científicos ao impor fármacos, estamos na aurora do fascismo”. E concluiu: “Magníficos Reitores, sois representantes de cientistas e professores aos milhares e, por tal motivo, alvos imediatos. Desejo a todos, pleno sucesso na tarefa tormentosa de honrar a autoridade ética e acadêmica dos campi. O projeto obscurantista será vencido”.

Fonte: Unicamp

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