Protestos violentos no país têm origem na pobreza e na fome, não na prisão de Jacob Zuma
*Por Lybon Mabassa, presidente do Partido Socialista da Azânia
Há que se questionar a causa dos protestos violentos e a razão pela qual nosso povo tem saído às ruas para protestar dessa forma. Os que foram corajosos para desafiar a mídia identificaram a pobreza e fome como a verdadeira causa. No entanto, a retórica oficial diz que tudo o que está acontecendo foi desencadeado pela prisão do ex-presidente do Congresso Nacional Africano (CNA) e do país, Jacob Zuma.
De nossa parte, entendemos que a corrupção é inerente ao sistema baseado na propriedade privada dos meios de produção, no qual lobos comem lobos. É um sistema sem escrúpulos, motivado pelo desejo de rápido enriquecimento individual à custa de tudo e de todos. Esse sistema econômico foi privilegiado e escolhido pelo partido no poder, sob as ordens do imperialismo internacional, hoje encabeçado pelos Estados Unidos.
Na África do Sul, a pilhagem é um fenômeno constante no governo do CNA. É impossível nomear um único representante do partido no poder que não esteja envolvido nessa tendência. Para eles, pilhar é quase tão fácil quanto respirar.
Todos os dias ouve-se falar de corrupção de membros do governo, bilhões de rands [moeda sul-africana] evaporam, e mesmo assim nenhum deles é acusado, condenado e preso. Pode-se ler a história dos descalabros financeiros na Eskom, SAA, Denel, a lista é interminável. Essas empresas ruíram em virtude da espoliação e de desfalques escandalosos cometidos em plena luz do dia por executivos nomeados pelo partido no poder. (…)
Hoje, todo o país sofre com apagões devido à corrupção e à pilhagem máxima. A política do partido no poder nada mais é do que um esquema para enriquecimento rápido. É comum que ministros e alguns altos funcionários fiquem ricos de um dia para outro. A questão da prisão de Zuma é na verdade uma cortina de fumaça para encobrir a real cólera do povo, que vive no país mais desigual do mundo, em condições miseráveis, sem terra, sem moradia e sem sistema de saúde adequado.
Povo se ergueu
Ao longo dos anos, o CNA fomentou a pobreza e a miséria da esmagadora maioria da população e até se gabou disso, dizendo que enquanto houvesse pobreza permaneceria no poder. O governo continua a acreditar no poder das cestas básicas, mas não consegue entender que as pessoas querem mais do que isso. O CNA não entendeu que o monstro que criou e alimentou poderia um dia se voltar contra ele. O povo sempre terá a possibilidade e a capacidade de erguer e de reivindicar. O som de sua voz agora é alto e claro: somos pobres e estamos com fome.
Apesar da origem da mobilização inicial, o povo conseguiu impor suas verdadeiras reivindicações, derrotando aqueles que se propuseram a manipulá-los.
Com ou sem Zuma, o que acontece hoje era inevitável. Centros comerciais foram construídos no país em meio a uma pobreza insuportável. Esses shoppings centers são cercados por uma urbanização descontrolada, estimulada por motivos eleitorais. A grande maioria da população que mora no entorno desses centros comerciais está desempregada, e esses jovens estão entre os 74,9% desempregados da África do Sul. Eles ainda sonham e esperam encontrar um emprego que lhes permita comprar nesses shoppings. Isso não corresponde aos planos e aspirações da oligarquia dominante, que continuará a prosperar se sua situação permanecer inalterada. (…)
O verdadeiro culpado é o governo de ladrões, que continua a roubar bilhões de rands. Os membros do governo que tomaram emprestados 500 bilhões de dólares do FMI e do Banco Mundial e dividiram entre si, depois de dizer que o dinheiro havia sido emprestado em nome de nosso povo para ajudar a combater a pandemia de Covid-19.
O governo não apenas roubou o dinheiro, foi ainda mais longe ao se submeter à tirania das patentes; como na Índia, a vacina é produzida na África do Sul, mas não em benefício da população, e sim das grandes corporações farmacêuticas estrangeiras, já que enfrentamos uma devastação total em nosso país.
O saque e o incêndio de shoppings centers mostram o real problema de um governo que não tem feito do povo a sua prioridade (…).
Fonte: O Trabalho