Em 15 de junho, o Comando Nacional de Paralisação da Colômbia (CNP) anunciou, através de Francisco Maltés, presidente da Central Unitária de Trabalhadores (CUT), a suspensão das mobilizações que ocorriam todas as quartas-feiras, desde 28 de abril, em todo o país. Maltés convocou para 20 de julho uma concentração diante do Congresso em Bogotá para a entrega de iniciativas e projetos de lei que seriam discutidos em assembleias populares.

Em 16 de junho, a Rede Socialista da Colômbia, que integra o Comitê Internacional de Ligação e Intercâmbio (CILI), publicou a Declaração Política da qual extraímos os trechos abaixo (com intertítulos da redação):

Rebelião popular contundente
“O povo colombiano foi protagonista da greve geral mais longa e massiva de nossa história, um grande acontecimento, com inéditas, enormes e pacíficas jornadas cotidianas de protesto nas ruas ao longo do país. Durante 45 dias de luta testemunhamos a irrupção da juventude e das mulheres, constituindo a chamada primeira linha que se colocou à frente das mobilizações, não só para defender, com seus escudos artesanais, as multidões rebeldes da brutal repressão das forças armadas estatais e paramilitares, mas também para mostrar ao país e ao mundo que decidiram lutar contra a pobreza, a miséria, o desemprego, a exploração e o não futuro ao qual foi submetido o nosso povo, principalmente os/as jovens, durante décadas de governos oligárquicos, neoliberais e despóticos. Em especial contra os mais de 20 anos do regime genocida e corrupto de Álvaro Uribe Vélez, presidente em corpo alheio do subpresidente Duque, e seus cúmplices, banqueiros, latifundiários, empresários, políticos, militares, paramilitares e máfias narcotraficantes. (…)

A contundência da rebelião popular obrigou o governo a retroceder em seus propósitos de descarregar o peso e os custos da crise econômica, agravada com a crise sanitária gerada pela Covid-19, sobre a classe trabalhadora, os setores mais pobres da população e as classes médias, e ele foi forçado a desistir do regressivo projeto de reforma tributária, a arquivar o projeto de Lei 010, a declarar que haverá matrícula zero no segundo semestre das Universidades públicas, todas elas conquistas indiscutíveis, que o governo seguramente tentará voltar a impor maquiados ou com outras roupas. (…)

Papel opaco da oposição eleitoral
Neste cenário de luta de classes, rebeldia popular e democrática nas ruas, a oposição política eleitoral jogou papel bastante opaco. (…) Gustavo Petro, apesar de ser apontado como promotor do ‘paro’, se expressou como suporte do governo Duque, como demonstram os fatos: chamou à desmobilização do movimento de massas mais potente em décadas na Colômbia, com o argumento de que o objetivo da queda da reforma tributária já fora conquistado, capitulou com a proposta de ‘rodear Duque para defendê-lo de Uribe’, culpou os bloqueios de gerar violência, não reconhece que jogaram um papel de fortalecimento do protesto pacífico, quando deveria registrar que a violência foi o recurso das forças armadas do governo e seus pistoleiros paramilitares para desmantelá-los, acusou os jovens de não entender a situação (…).

O traço principal da luta popular nessas sete semanas de genuína rebeldia é o surgimento de uma nova oposição política, que exerceu a gesta democrática, social e popular nas ruas, no protesto social, nos pontos de resistência, na cena cultural, com uma identidade básica de propósitos pelos quais lutaram nesta magnífica rebelião; trata-se de uma nova forma de ação política, de ruptura na prática com os partidos da oligarquia, mas também com os extremismos de esquerda e guerrilheiros, bem como com os populismos de esquerda eleitoral e do chamado centro. (…)

“Duque tchau, tchau, tchau!”
É paradoxal e contraditório que o Comando Nacional de Paralisação não tenha acolhido o que foi mais agitado, gritado e cantado, com adaptação do hino ‘partigiano’, pelas multidões nas ruas – “Duque tchau, Duque tchau, tchau, tchau” – como clara mensagem de que entendiam que o ‘uribato’ (de Uribe, NdT) e seu governo fazem parte do problema e não da solução, com a consequente exigência da renúncia deste governo incapaz e genocida.

Essa palavra de ordem continua válida e o povo deve agitá-la com maior força, pois a dupla Uribe-Duque é a única responsável da crise, da violência e dos crimes de lesa humanidade (…). Este governo não representa a unidade da nação e, portanto, se deve exigir a sua renúncia e antecipar as eleições, eleger um governo provisório e iniciar um processo constituinte. É o que deve ser debatido nas assembleias populares, sindicais, estudantis, de bairros, nos pontos de resistência, enfim, generalizar a deliberação neste sentido.

A decisão de último momento, adotada de forma unilateral pela FECODE (federação de educadores, NdT) e o Comando Unitário (das quatro centrais sindicais), sem contar com o consenso do CNP, de suspender o ‘paro’, com o eufemismo de ‘mudar de tática’, é sem dúvida um ato divisionista e desmobilizador, injustificável de todo ponto de vista. Essas duas importantes organizações não representam a imensidão do ‘paro’ e em respeito a essa realidade deveriam promover o debate entre todas e todos os atores desta magna rebelião, para avaliar o ânimo da gente e tomar uma decisão coletiva sobre o rumo que deveria tomar a luta. É claramente equivocado promover a desmobilização, para remetê-la a uma hipotética vitória eleitoral em 2022.

Fora com todos!
Resistência, Resistência, Resistência!
A luta continua!“

Fonte: Portal O Trabalho

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