André Cabral – Historiador e professor

Quando refletimos sobre a questão migratória na história da humanidade desde os primórdios, migramos da África para outras partes do planeta e vislumbramos nossa origem ancestral. O processo das invasões europeias na América, África e Ásia e o processo de exploração e escravização dos migrantes europeus em dois séculos, XVI e XIX, produziram vítimas naquilo que se constituiu como um verdadeiro genocídio para desenvolver o capitalismo.

Ao falarmos em migrações, queremos dizer movimentos de saída e chegada de pessoas entre países. É importante ressaltar que o termo migração internacional pode ser subdividida em emigração (refere-se a pessoas que saem do país) e imigração (refere-se a pessoas que entram no país). O que motiva as migrações são questões econômicas, repulsão de emigrantes, crises, guerras, conflitos em geral, fome, etc.

O contexto para o processo de refugiados atual envolve principalmente os continentes africano, europeu e o Oriente Médio; a rota de fuga é o Mar Mediterrâneo e por lá cruzam refugiados que partem da Líbia e de outros países próximos e que morrem antes de chegar a Europa

A crise dos refugiados na atualidade se configura em uma crise humanitária só vista na Segunda Guerra Mundial. Segundo a Organização Internacional de Migração, até 3.283 pessoas morreram ou desapareceram em 2014 no Mediterrâneo durante a tentativa de migrar para a Europa. Este número subiu para 3.782 em 2015 e atingiu o seu pico em 2016 com 5.143 vidas perdidas. As estimativas globais são de que mais de 22 mil imigrantes morreram entre 2000 e 2014.

Os conflitos provocados pelos Estados Unidos, Inglaterra, França, Israel e outros, sobre o pretexto da “luta contra o terrorismo”, fruto dos atentados de 11 de setembro 2001 promoveram uma escalada de emigração no Iraque, Líbia, Afeganistão e Síria. Os dados globais apontam que o deslocamento causado por conflito fatores permanece em um nível recorde. No final de 2018, o número de pessoas deslocadas internamente devido a violência e conflitos atingiu 41,3 milhões. A Síria foi a nação que teve o maior número de pessoas deslocadas, com 6,1 milhões até o final de 2018. Mais de 30% da população do país foram deslocados devido a conflitos e violência.

Diante da pandemia, a situação dos imigrantes piora segundo os dados do relatório “Internacional Migration 2020 Highlights” elaborado pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (UNDESA, na sigla em inglês). “Centenas de milhares de migrantes ficaram retidos, impedidos de regressar aos seus países, enquanto outros foram forçados a regressar aos seus países de origem, e o mundo testemunhou, ao longo de 2020, o fechamento de fronteiras e graves interrupções nas viagens internacionais.

Outros desdobramentos são fruto da questão migratória que renasce na Europa como xenofobia, neonazismo e intolerância religiosa para com os imigrantes que professam o Islã. Isso devido, basicamente, às diferenças socioculturais existentes entre pessoas de países diferentes e, principalmente, à relação tensa entre os trabalhadores dos países ricos e os estrangeiros, vindos de países mais pobres, que disputam os mesmos postos de trabalho.

A PEGIDA, sigla para Patriotische Europäer Gegen die Islamisierung des Abendlandes ou Europeus Patriotas, é uma organização que se opõe à imigração de muçulmanos na Alemanha; diferentes regiões também ocorre a questão da migração como (muro na fronteira dos Estados Unidos com o México, muro na cidade de Celta, Espanha), de modo a dificultar cada vez mais a entrada de imigrantes. Para o ministro do Exterior da Hungria, Peter Szijjarto, o objetivo principal deveria ser ter o controle sobre a fronteira externa da UE. Aqueles que entrarem na Hungria de forma ilegal, destruindo a infraestrutura que protege a fronteira, estarão cometendo um crime e poderão ser condenados à prisão ou à extradição”,

Há séculos, os EUA e a Europa, utilizam a mão de obra imigrante (ilegal); pagando e sujeitando-se aos contrabandistas, essas populações fogem da fome e das guerras, submetem-se ao trabalho semi-escravo e precário, com a conveniência dos empresários desses países, são utilizados para construir as riquezas da burguesia hipócrita da União Europeia e dos EUA.

Assim, podemos dizer que a imigração atual é um novo navio negreiro, onde bebês morrem congelados, grávidas agonizam e homens perecem doentes e famintos.

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