Por PAULO MEMÓRIA – jornalista e cineasta

Começa a se delinear o quadro sucessório das eleições de 2022 e o projeto de país que pretende a sociedade brasileira para as próximas gerações. Diz o dito popular que “o futuro a Deus pertence”, mas outro dito popular, nos ensina que “a voz do povo, é a voz de Deus”. Em última instância, apesar das distorções de um atrasado arcabouço jurídico que influência o resultado eleitoral em um país de democracia frágil, quem termina decidindo os rumos futuros do país é o povo, que já desromantizei há tempos. Temos um povo completamente desprovido de quaisquer resquício de quem decide seu proprio destino ideológicamente.

A nossa sociedade migra da esquerda a direita pelas conveniências de momento. Faz um movimento pendular de Lula e Dilma a um Jair Bolsonaro em quatro anos. O que baliza o aumento ou diminuição do apoio ao governo Bolsonaro, não são as reformas anti-populares, o fascismo latente do chefe de Estado brasileiro ou o negacionismo e mediocridade dos que integram o governo terraplanista. A avaliação da popularidade governamental é definida pela concessão do auxílio emergencial para a maioria das pessoas que dele se beneficiam. Somos mesmo o pais da cachaça, samba e futebol. O personagem representado por Carlos Alberto Ricelli em Eles Não Usam Blck Tie, filme de 1981, de Leon Hirszmam, adaptação da peça de Gianfrancesco Guarniere, resume a nossa consciência moral. Assista ao filme e entenderá. Posto o princípio que norteia a civilização brasileira, o cenário da eleição presidencial se resume aos mesmos personagens na cena política brasileira: Lula e Fernando Haddad pelo PT, Bolsonaro por uma legenda fisiológica qualquer e de aluguel do centrão, como foi o PSL em 2018, só que desta feita devendo ser uma legenda maior, como o PSD dos indefectíveis Gilberto Kassab e do presidente da câmara dos deputados Arthur Lira, o sempre arrivista das classes dominantes, travestido de outsider Ciro Gomes, João Doria pelo PSDB, com a probabilidade do MDB ocupando sua vice, mas que também poderá dar o vice-presidente do PT, tudo de acordo com as convergências convenientes de seus interesses regionais e adequação ao termômetro das pesquisas de ocasião, Gulherme Boulos pela esquerda identitária alojada no PSOL, o Governador do Maranhão Flávio Dino, pelo envergonhado ideológico PCdoB, o inquisidor ex-juiz Sérgio Moro (diante dos graves crimes cometidos na Lava Jato, cada vez mais carta fora do baralho) e finalizando a lista, o animador de auditório Luciano Huck, pelo Plin-Plin, um dos mais antigos partidos em atividade na vida pública brasileira. Esta equação deverá se encaminhar, noves foras, para uma eleição maniqueísta no segundo turno, entre os candidatos que possuem os 30% de consolidação dos votos no primeiro turno, no caso, a candidatura a ser definida pelo PT e a de Bolsonaro, que contará com a extrema direita, parte da direita do centrão (no exótico Brasil o centrão é de direita), parte da venal direita neoliberal do DEM e de toda sorte do fisiologismo político, religioso, militar, judicial e midiático existente. Na oposição, o nome petista, Lula ou Haddad, representará o projeto social-democrata, que só vencerá se sinalizar para uma aliança com segmentos conservadores éticos da sociedade, com um candidato a vice-presidente deste campo ideológico, a exemplo do ex-governador de São Paulo Claudio Lembo ou de um empresário da envergadura moral de José Alencar, o leal vice-presidente nos dois governos Lula e combatente da “usura” do juros subversivos do bancos. Um bom nome para este campo progressista, seria o da empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza. O erro que o PT não pode mais cometer, é o de ter um candidato a vice igual a da eleição de 2018, de soma de resultado igual a zero, cujo discurso da candidata mais parecia o de marketing para venda de livro direcionado a uma fútil classe média liberal moderninha em bienais.

Deixe uma resposta