O Conselho Estadual de Segurança Pública de Alagoas (Conseg/AL) abriu no dia 31/05, uma Reclamação Disciplinar contra a tenente-coronel do Corpo de Bombeiros de Alagoas (CB/AL), Camila Paiva, por “possíveis transgressões disciplinares”, para investigar a conduta da oficial. Camila participou de um protesto contra o presidente Bolsonaro no dia 29/05, em Maceió.

Em defesa de Camila Paiva, o Movimento Policiais Antifascismo de Alagoas publicou uma nota acusando o Conseg de perseguição política. Leia abaixo a nota:

NOTA DE APOIO À TENENTE-CORONEL CBM CAMILA PAIVA

O Movimento Policiais Antifascismo-AL se solidariza com Camila Paiva, Tenente Coronel do Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas, em decorrência das perseguições políticas que vem sofrendo.

Se as disfunções do militarismo permitem ataques a uma oficial, minimamente imaginamos, para além dos casos que se tornam conhecidos, o quanto sofrem as praças, homens e mulheres dessas instituições, com perseguições, assédio moral, sexual e outros tipos de violências, sem sequer poderem manifestar opinião.

Antes de exercermos nossa profissão somos mulheres e homens, cidadãs e cidadãos, pais, mães, filhas e filhos. Somos seres humanos! E nessa perspectiva, temos direitos que garantem nossa mais legítima e básica condição humana que é a de pensar e expressar nosso pensamento.

É urgente que discutamos a desmilitarização das forças de segurança para o bem da sociedade e dos membros das instituições, que tem cada vez mais adoecido no exercício da profissão. Não há argumento lógico, que vise o interesse coletivo, para manutenção desse modelo.

Hierarquia, comando, são características presentes em qualquer instituição, seja na igreja, numa empresa privada, num partido político e outros. Assim também não é preciso ser militar para apresentar estética militar.

O que se tem vivenciado com essa experiência, é a utilização de regimentos internos para perseguir membros, sob os mais
diversos aspectos. Essa é uma cultura atrasada que não se coaduna com os princípios basilares da democracia.

Acompanhamos caso recente da soldado Jéssica que, após ter tido coragem de denunciar oficial assediador, sofreu dura perseguição, o que culminou com sua exoneração do quadro da Polícia Militar de São Paulo.

Sabemos do histórico patriarcal e machista que está arraigado nas instituições de segurança dado que, inclusive, o acesso a mulheres era negado até recentemente. Fato que contribui para que estas estejam mais sujeitas aos efeitos do militarismo.

Em Alagoas, na ‘terra dos marechais’, o fato de uma mulher chegar a Patente de Tenente-Coronel parece despertar sentimentos negativos em algumas pessoas, em decorrência do machismo e misoginia existentes.

É inadmissível que num estado democrático de direito, uma pessoa seja perseguida políticamente por expressar suas ideias. A utilização desses mecanismos faz parte de um período histórico que não deve se repetir.

O Conselho de Segurança Pública de Alagoas não pode servir a estes objetivos, o que requer imediato arquivamento dessa denúncia incabida, lastreada nas costumeiras perseguições do militarismo.

As instituições públicas não podem servir a estes fins, sobretudo de forma seletiva. Senão onde estavam as instituições quando em seu governo, a presidenta Dilma sofreu diversos ataques de militares? ou quando, em redes sociais, publicamente se sabem de ataques ao governador do estado, advindos de militares estaduais? O CONSEG não pode se submeter ao ‘R-Quero’ militar, cujo viés é notadamente ideológico nesse caso.

Humilhações públicas, perseguições políticas afetam não só a dignidade da pessoa, mas sua família e todas e todos que lutam por uma sociedade mais justa e menos desigual.

É preciso tornar as trabalhadoras e trabalhadores militares da segurança pública, pessoas partícipes da democracia brasileira, com atuação em sindicatos, para que discutam condições de trabalho; que possam participar de partidos políticos, livremente, e que de fato se reconheçam não como robôs, máquinas, mas como pessoas pensantes, seres humanos que são! O policial e o bombeiro devem se reconhecer como trabalhador, com direitos e deveres.

Nos solidarizamos a todas irmãs e irmãos que sentem-se tolhidos pelo militarismo, em especial à Camila Paiva, Tenente-Coronel do Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas!

Movimento Policiais Antifascismo AL

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