PAULO MEMÓRIA – jornalista e cineasta
Hoje, pretendo falar sobre pessoas muito especiais, que grande parte da sociedade brasileira sequer sabe que existem. Alguém já disse que os verdadeiros heróis não usam capa. Os nossos paladinos mais verossímeis podem ser encontrados naquele vizinho meio exótico, em um membro da família considerado meio estranho ou naquele cidadão esquisito que encontramos nas ruas e praças vez por outra, carregando sacos de ração e garrafas de água tarde da noite. Estes personagens, na verdade, são seres iluminados, humanos diferenciados, que trazem no coração um amor imensurável pelo próximo, pela vida e pelos animais. Eles são os protetores independentes ou individuais destes últimos. Para esta comunidade de homens e mulheres, não existe lugar, hora ou obstáculos que os impeçam de ir até onde esteja um animal em situação de risco, agredido, abandonado ou doente, muitas vezes em estado lastimável e agonizando em via pública, em estado físico e emocional deplorável, ensanguentados e até fétidos, pela sujeira e por estarem com feridas purulentas e exsudadas há dias, semanas, meses e até anos. Para eles não há dificuldade, nojo ou medo para resgatá-los.
A proteção animal é um universo duro, triste e incompreendido. Duro porque lhes são impostas muitas limitações estruturais e materiais para que os resgates possam ser feitos, triste pela constatação diária da situação de abandono e desprezo pelos quais os animais estão passando e incompreendido pela ignorância e indiferença dos seres humanos e pelo total descaso do poder público em relação ao sofrimento dos nossos bichinhos, que se encontram constantemente vulneráveis. Nada disso, entretanto, abala a convicção e o altruísmo daqueles que não desistem de lutar pela vida de seres que a maioria das pessoas acreditam ser menos importantes. Não são, todas as vidas importam, desde que respeitadas as características de cada uma delas. Eu não me acovardo em afirmar que para os protetores, os animais são até mais importantes do que os homens. Para um defensor dessas vidas, o ditado popular que diz, “quanto mais conheço os homens, mais gosto dos animais”, tem outra conotação. São anjos dedicados a salvar, cuidar e tentar adoções responsáveis para aqueles animais que são resgatados por eles. Um excelente Filme sobre este tema, que parece um documentário, mas que é um drama, tem o sugestivo título de “Coragem Nativa” (Bold Native no original), de 2010, dirigido pelo diretor americano Denis Hennelly, cujo roteiro fala de um ativista animal, que tem como proposta de vida, libertar o máximo possível de animais, prisioneiros das indústrias frigorífica, farmacêutica e de entretenimento, dos laboratórios de produtos cosméticos, dentre outras que exploram, torturam e matam animais, para obterem seus lucros milionários. O grande sonho desse ativista e seu grupo, é o de um mundo onde os animais sejam tratados de forma justa e não como propriedades Pets. Por esta razão, o grupo passa a ser tratado como terrorista pelas autoridades, inclusive pelo FBI. Assim são os protetores, que se não são vistos como “terroristas”, são tratados como excêntricos ou como um “bando de malucos”, dedicados há algo sem sentido para os que assim os enxergam. No fundo, isto apenas revela o estágio de atraso que o Brasil ainda se encontra, no que diz respeito à Causa Animal. Tenho um profundo respeito pelos protetores independentes, inclusive porque me considero um deles, uma vez que faço resgates diretos. Eu que os conheço bem, sei que são verdadeiros abnegados na execução do que acreditam e são verdadeiros representantes na terra, de São Francisco de Assis, o Santo Protetor da natureza e dos animais. Precisamos urgentemente de uma rede protetora de animais, que será movida, única e exclusivamente, pelo amor aos bichos em todos os quadrantes possíveis.