O PSDB anunciou nesta terça-feira (30) a fusão com o Podemos, marcando o apogeu de sua morte política, anunciada ainda em 2014, quando Aécio Neves, candidato do partido à Presidência da República naquele ano não aceitou a derrota para Dilma Rousseff (PT) naquela eleição.
O PSDB, que surge a partir de uma dissidência do então PMDB para ser um partido de quadros com viés social-democrata, inclusive colocando em seu nome essa corrente de pensamento político, aos poucos foi indo para a direita ao ponto de se tornar o porta-voz do neoliberalismo no Brasil.
Mas as derrotas eleitorais para o PT a partir de 2002 fizeram o PSDB adotar subterfúgios da extinta UDN – União Democrática Nacional –, partido de direita que teve como principal instrumento de ação política o denuncismo e o falso moralismo para combater opositores de caráter nacionalista e progressista.
Foi o PSDB que ajudou a plantar a semente do que hoje chamamos de bolsonarismo, ao colocar no centro da mesa do debate público temas morais e as agora chamadas fake news, como o caso da foto falsa de Dilma, mais jovem, com um rife ao seu lado; da bolinha de papel na cabeça de José Serra ou mesmo que Dilma era “abortista”.
Evidente que tudo isso com a anuência e, em muitos caso, com a coparticipação da mídia hegemônica.
Mas o principal, o início do fim, se deu quando Aécio Neves se recusou a aceitar a derrota eleitoral para a então presidenta Dilma Rousseff, reeleita em 2014.
Os tucanos tentaram surfar a onda das jornadas de 2013, usadas, ao lado da Lava Jato, como instrumento de desestabilização política e econômica no Brasil, que resultou no golpe judicial-midiático de 2016.
A aposta àquela época era de que a derrocada do PT colocaria de volta o PSDB na gerência do Estado brasileiro, mas a dose do veneno foi tão forte que fez sair das cavernas que se encontravam após a redemocratização, os saudosistas da ditadura civil-midiática-militar de 1964.
O PT, mesmo sob ataque diuturno por cerca de uma década, manteve-se onde estava, como principal representação política da esquerda no Brasil. Já o PSDB, viu o furacão do ressurgimento do nazifascismo lhe atropelar e o jogar para fora da pista.
O PSDB, que foi central para o surgimento do bolsonarismo, foi, a cada ano, ficando menor e menor. Enquanto o PT, vítima de seu udenismo moderno, resistiu, voltou à Presidência do país em 2022, e caminha – mesmo com problemas – ao seu corpo pré-processo de golpe, culminado em 2016 e que teve sua cereja no bolo com a prisão ilegal de Lula em 2018.
Mesmo desgastado e com suas principais lideranças fora do jogo eleitoral – como José Dirceu, Genoíno, Dilma e Lula –, o PT seguiu figurando entre os dois primeiros colocados na eleição presidencial de 2018.
Ao realizar fusão com o Podemos, originalmente chamado Partido Trabalhista Nacional (PTN), o que restou do PSDB, com Aécio Neves como uma das principais figuras, encerra a trajetória de figuras políticas que combateram a ditadura, a exemplo de Mário Covas, e que se propunham a implementar no Brasil as teses da social-democracia europeia.
De potência política na década de 1990 até meados da década de 2010, o PSDB se tornou completamente irrelevante. Em Alagoas, chegou a ser hegemônico, mas termina sua passagem pela política brasileira como um nanico.
O PSDB só não será apagado da História por completo porque comandou a Presidência da República com Fernando Henrique Cardoso e, ironia da vida, por ter sido central no processo do golpe de 2016 e da ascensão da versão atual no nazifascismo no Brasil.
A grande lição que esse processo histórico do PSDB deixa é que partidos políticos precisam pensar em médio e longo prazos, construindo e projetando lideranças, formulando concepções de sociedade e buscando sempre dar um passo de cada vez, entendendo que força política é resultado de acumulação histórica.
O PSDB pós-Fernando Henrique quis comer a comida crua e entrou numa guerra interna fraticida. Por isso, teve indigestão, infecção e agora em abril de 2025, morreu.
Fica a lição para quem acha que a luta política é imediatista, algo típico de lideranças sem visão mais larga da vida real. Ou seja, sem visão estratégica.
Talvez, somente talvez porque nunca saberemos, uma vez que não existe contra-fatos, se o PSDB tivesse parado o rompante de menino mimado de Aécio Neves em 2014, os tucanos ainda fossem relevantes da política brasileira, mesmo que abandonando o ideal inicial do partido. Talvez.
Tchau, PSDB. Pelos caminhos que escolheu, não deixará saudades. Exceto por quem anseia por um neonazifasismo à brasileira que coma com talheres.