Proerd não reduziu uso de drogas por crianças e adolescentes em escolas públicas de SP, aponta pesquisa

Estudo da Universidade Federal de São Paulo avaliou programa de prevenção a uso de drogas comandado pela PM em 30 escolas da rede estadual da capital com mais de 4 mil alunos dos 5º e 7º anos do ensino fundamental.

A implementação do Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência) não se mostrou eficaz em 30 escolas públicas estaduais da cidade de São Paulo, ou seja, não preveniu o uso de drogas em crianças e adolescentes. Pesquisa realizada pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) com 4.030 alunos do 5º e 7º anos do ensino fundamental analisou a efetividade do programa de origem norte-americana que é aplicado no Brasil pelas Polícias Militares desde 1992.

Com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), os pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Unifesp sortearam escolas que não receberam o programa nos últimos três anos e as separaram em dois grupos: o “intervenção”, que recebeu 10 aulas de instrutores do Proerd, e o “controle”, que não recebeu as aulas. Dois questionários foram aplicados em 2019 para os dois grupos, um antes da intervenção e outro nove meses depois. Também foram feitas entrevistas com 19 policiais militares que atuaram como instrutores do Proerd no estudo. Foram avaliados tanto o uso de drogas quanto prática e vitimização de bullying, cujos pontos são abordados no currículo do programa que foi reformulado em 2014 no Brasil, a partir de uma reestruturação feita pelo Dare, da polícia de Los Angeles, em 2008, criando o Keepin’it real, traduzido para o português como Caindo na Real.

Tanto o grupo que recebeu as aulas quanto o que não recebeu, das duas classes, não tiveram resultado estaticamente significativo sobre uso recente ou iniciação ao uso de drogas nem sobre vitimização ou prática de bullying. A droga mais prevalente entre os estudantes é o álcool. No primeiro questionário, 17,31% do grupo “controle” do 5º ano iniciou o uso de álcool; após nove meses, 16,31%. Já no grupo “intervenção”, 18% iniciaram o uso de álcool, enquanto 16,27% usou álcool após as aulas do programa. No 7º ano, 34,93% dos alunos responderam ter iniciado o uso de álcool no primeiro questionário do grupo “controle”; nove meses depois o uso aumentou para 37,7%. No grupo “intervenção”, passou de 35,74% para 39,51% após as aulas.

Além disso, na parcela de adolescentes que disseram praticar binge drinking (consumo de cinco ou mais doses de álcool em uma ocasião) tinham três vezes mais chance de manter esse consumo ao final do estudo. 40 alunos do grupo “intervenção” reportaram essa prática, sendo que 24 mantiveram o consumo. No grupo “controle”, dos 35 que informaram a prática, 12 a continuaram.

A pesquisa também identificou que participar do Proerd aumentou em 93% a chance de um estudante de 7º ano reportar que tinha a intenção de utilizar cigarro no futuro e em 62% mais chances de reportar que não irá recusar ou não sabe se irá recusar maconha se ofertada por um amigo da família do que um estudante do grupo que não recebeu as aulas.

Em entrevista à Ponte, uma das autoras do estudo, a pesquisadora Juliana Yurgel Valente, explicou sobre os problemas relatados pelos policiais e as hipóteses para a não efetividade do programa em São Paulo. A pesquisa também está sendo desdobrada para analisar o conteúdo das apostilas utilizadas nas escolas.

Leia a matéria completa e a pesquisa: https://ponte.org/proerd-nao-reduziu-uso-de-drogas-por-criancas-e-adolescentes-em-escolas-publicas-de-sp-aponta-pesquisa/

Fonte: A Ponte

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