Milionário pagava viagens para juiz conservador da Suprema Corte dos EUA

O juiz Clarence Thomas, um conservador, é o mais antigo da Suprema Corte dos Estados Unidos —ele está no cargo desde 1991.

Na semana passada, a agência ProPublica revelou que Thomas aceitou convites de férias do magnata do mercado imobiliário Harlan Crow durante duas décadas —houve uma viagem em quase todos os anos; uma única ida à Indonésia, em 2019, teria custado até US$ 500 mil (R$ 2,5 milhões), de acordo com a agência sem fins lucrativos.

Veja abaixo quem é o milionário que financiou as viagens do juiz conservador e também quem é Clarence Thomas e quais foram os grandes marcos da vida pública de Thomas.

O amigo milionário do juiz

Harlan Crow, de 74 anos, o empresário do caso, já nasceu em uma família rica que faz negócios com imóveis. A companhia Crow Holdings foi fundada pelo pai de Harlan.

O amigo do juiz da Suprema Corte dos EUA já ocupou o cargo de diretor-executivo da empresa que o pai dele fundou, mas, agora, ele é o presidente do conselho de acionistas.

A empresa tem um patrimônio de US$ 19,6 bilhões (quase R$ 100 bilhões).

A companhia familiar cresceu mesmo no pós-Guerra. Em 1971, a Crow era considerada a maior dona de imóveis para locação dos EUA, mas esse não era o único negócio: a empresa também tinha hotéis e indústrias.

Segundo a mídia americana, nos anos 1980 a empresa estava muito endividada, e Harlan Crow conseguiu evitar uma falência.

Crow já fez doações para causas conservadoras. Ele é diretor do American Enterprise Institute, um think tank de direita que promove o livre mercado e um papel ativo na política externa dos EUA.

Ele está no conselho de pelo menos outras três fundações de direita nos EUA:

  • Fundação George W. Bush.
  • Sociedade Histórica da Suprema Corte.
  • Hoover Institution.

A Crow Holdings doou mais de US$ 3 milhões, principalmente para causas e campanhas republicanas, incluindo o governador do Texas, Greg Abbott, e para uma coalização conservadora para o estado do Texas.

Não se sabe, no entanto, quais foram as doações pessoais do amigo de Clarence Thomas.

O site Politico descobriu uma doação para um centro de militância politica de direita, o Liberty Central, que foi fundado por Ginni Thomas, a mulher de Clarence Thomas.

Como é a amizade?

Na sexta-feira, Thomas publicou um comunicado no qual afirma que ele e a mulher, Ginni, consideram Harlan e a mulher dele um casal de amigos próximos.

“Como amigos, nós participamos de diversas viagens de família durante os mais de 25 anos em que nós os conhecemos”.

O juiz conservador

Clarence Thomas é, hoje, o juiz mais antigo da Suprema Corte dos Estados Unidos. Ele foi nomeado para a Corte em 1991, pelo então presidente George H.W. Bush (pai do presidente George W. Bush).

Thomas foi o segundo juiz negro da Suprema Corte dos EUA.

Ele conta que foi criado pelos avós, pequenos fazendeiros do estado da Geórgia. A casa onde a família vivia não tinha encanamento, de acordo com ele.

Na época, Bush defendeu a nomeação ressaltando os méritos de Thomas, mas de acordo com a mídia da época, o então presidente tinha interesse em não se mostra hostil aos afrodescendentes dos EUA (nas eleições em que foi eleito houve um episódio considerado racista).

Ele nunca foi conhecido por defender direitos civis. Thomas já elogiou o trabalho da romancista russo-americana Ayn Rand, que escrevia romances que serviam como parábolas de uma ideologia conservadora.

Thomas havia sido presidente da Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego.

Anita Hill

Nessa comissão, Thomas trabalhou com uma advogada formada em Yale chamada Anita Hill.

Durante o processo de nomeação de Thomas no Congresso, ela testemunhou que sofreu assédio sexual quando ele era seu chefe.

Ele foi aprovado no Senado com uma votação de 52 a favor e 48 contra.

O principal juiz conservador da Suprema Corte nos primeiros anos de Clarence Thomas no cargo era Antonin Scalia, que havia sido nomeado em 1986.

Os juízes conservadores têm opiniões consideradas politicamente conservadoras e também são favoráveis a uma interpretação mais literal dos textos constitucionais.

Dez anos em silêncio

Até 2016, Thomas se notabilizou por ter passado mais de dez anos na Suprema Corte sem fazer perguntas.

Ele se pronunciava ao votar, mas ficou uma década sem fazer nenhuma pergunta aos advogados e promotores que apresentaram seus casos na Suprema Corte.

Uma das explicações que deu para o próprio silêncio é que os outros juízes faziam muitas perguntas.

Ginni Thomas

A mulher de Clarence Thomas, Ginni, é uma militante conservadora de extrema direita.

Nas eleições de 2020, ela apoiou Donald Trump. Não só isso, a mulher do juiz também pressionou deputados de dois estados (Arizona e Wisconsin) para que eles não certificassem a vitória nas urnas de Joe Biden.

Fonte: G1

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