150 petroquímicas e refinarias em 160km de extensão: risco de ficar doente no ‘Corredor do Câncer’ é 50 vezes maior do que no resto dos EUA; negros são as principais vítimas
Cristina J. Orgaz, BBC
O câncer parece estar em toda parte na vida de Eve Butler.
“Na minha rua, eu conheço três pessoas, duas da mesma família, que tiveram câncer ao mesmo tempo. Meus irmãos têm amigos que morreram prematuramente ou estão doentes. Eles têm problemas respiratórios, leucemia, asma...”
Butler, que também teve câncer de mama, mora em St. James County, na Louisiana, lugar conhecido nos Estados Unidos como “Corredor do Câncer”.
Nestes 160 km entre Baton Rouge e a cidade turística de New Orleans, existem mais de 150 instalações petroquímicas e refinarias.
O odor de gasolina impregna o ar e as substâncias tóxicas emitidas por elas são classificadas como potencialmente cancerígenas pela Agência Federal de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês).
O risco de contrair câncer entre seus habitantes, em sua maioria negros, é 50 vezes maior do que a média nacional, segundo a EPA.
Em condados como Saint John the Baptiste, o risco de contrair câncer é de 200 a 400 pessoas por milhão e está associado às emissões de óxido de etileno e cloropreno, duas toxinas poderosas.
Os números contrastam com o resto do Estado da Louisiana, que é entre 6 e 50 por milhão.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse logo após chegar à Casa Branca que deseja abordar “o impacto desproporcional na saúde, meio ambiente e economia nas comunidades de cor, especialmente em áreas duramente atingidas como o Corredor do Câncer da Louisiana“.
“O Departamento de Qualidade Ambiental da Louisiana tem a responsabilidade primária de implementar os programas da Lei do Ar Limpo, incluindo o monitoramento das emissões e da qualidade do ar, e o cumprimento das regulamentações“, disse um porta-voz da EPA.
O departamento de qualidade ambiental do Estado, por sua vez, argumenta que “a qualidade do ar na Louisiana é muito boa“.
“Cumprimos a regulamentação. Respeitamos todos os critérios da EPA sobre poluentes“, disse Gregory Langley, porta-voz do departamento da Louisiana responsável pela saúde ambiental, à BBC.
Eve Butler, no entanto, tem uma experiência diferente do que contam as autoridades da Louisiana.
“Não só cheira diferente. Em algumas ocasiões, saí sem guarda-chuva. Começou a chover e meu cabelo e rosto ficaram molhados. Dias depois, minha pele começou a cair. Sou uma pessoa de pele morena e parecia que eu estava com queimaduras de sol“, disse Butler à BBC.
De sua janela, ao se levantar todas as manhãs, o que se vê são seis tanques de armazenamento usados pela empresa petroquímica instalada em frente à sua casa.
“A grama está descolorida, as árvores não são mais tão verdes quanto antes e, às vezes, coisas pretas crescem em algumas das plantas que até recentemente eram saudáveis“, diz ele.
Fonte: Pragmatismo Político
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