Os grandes bancos privados brasileiros tiveram uma alta de 60% no lucro médio obtido neste 2º trimestre em relação ao ano passado. Apenas no trimestre, Bradesco, Itaú e Santander lucraram juntos R$ 21,5 bilhões. Isso apesar da economia ainda estar patinando, com centenas de milhares de pequenas e médias empresas falidas com a crise e a pandemia. Apesar do desemprego se manter em nível recorde, com mais de 15 milhões de desocupados e outros quase 20 milhões com algum trabalho de período reduzido, mas insuficiente. Apesar da renda dos trabalhadores derreterem diante de uma inflação impiedosa.

O endividamento das empresas atingiu alta histórica (61% do PIB) e 70% das famílias brasileiras estão afundadas em dívidas. O recente lucro dos bancos tem vindo inclusive daí: empréstimos feitos durante a pandemia que tiveram garantias dadas, como parte do pacote emergencial, pelo Banco Central. E agora, que este retoma a elevação na taxa Selic, os bancos manterão seus elevados lucros, ganhando juros da dívida pública.

Na mesma toada, o governo fez aprovar na Câmara nesta semana uma nova reforma trabalhista que, entre outros ataques a direitos, cria uma modalidade de trabalho sem férias, 13º ou FGTS e cria outra modalidade sem carteira assinada, direitos trabalhistas ou previdenciários – além de dificultar a fiscalização trabalhista, inclusive perante trabalho escravo.

É por tudo isso que Bolsonaro não será tão facilmente abandonado pelo grande capital, pela mídia que este financia ou pelas instituições podres, como o Congresso, o Judiciário e as Forças Armadas – a despeito do incômodo diuturno por eles sentido com lambança que o presidente faz questão de escancarar. Não por acaso, na Câmara, em que o impeachment se mantém trancado e engavetado, 228 deputados (incluindo boa parte da bancada do Centrão, do PSDB, Novo etc.) votaram na proposta golpista e estapafúrdia de Bolsonaro de voto impresso – muito acima do esperado, ainda que insuficiente para aprova-la.

Enquanto isso, o governo tenta recuperar sua popularidade a 2022. Ele espera a manutenção da retomada do mercado internacional de produtos exportados pelo Brasil (commodities agrícolas e minerais). Algo de impacto duvidoso, já o setor primário-exportador emprega pouco, tendo efeito limitado sobre a economia brasileira como um todo. Ademais, boa parte da alta de tais produtos já ocorreu neste ano.

Mas para tentar turbinar a popularidade de seu chefe, Guedes procura expedientes para elevar gastos (incluindo algum aumento no Bolsa Família), driblando o Teto de Gastos do qual se finge guardião. Um deles será o calote do pagamento dos precatórios (dívidas do estado a famílias e empresas cujo pagamento já foi determinado judicialmente) – usando-os como moeda (desvalorizada) nos processos de privatização.

Nada disso será suficiente para reduzir a insatisfação popular. Em todo o caso, só a luta do povo – nas ruas e com uma retomada das mobilizações sindicais e grevistas, além dos movimentos sociais – que poderá impedir o golpe e derrotar definitivamente Bolsonaro e os defensores de suas políticas.

Alberto Handfas

Fonte: O Trabalho

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