O FRACASSO DO IMPEACHMENT E A CUMPLICIDADE DOS DEMOCRATAS NA TENTATIVA DE GOLPE DE DONALD TRUMP

No último dia 13 de fevereiro, o ex-presidente norte americano Donald Trump foi novamente absolvido pelo senado  em seu segundo julgamento de impeachment. Desta vez, ele era acusado de conspiração e de incitar a insurreição contra o Capitólio no dia 6 de janeiro após discursar a apoiadores. A tentativa de golpe de estado resultou em centenas de pessoas feridas e cinco pessoas mortas.

A votação do impeachment no senado no dia 13 terminou em 57 senadores votando a favor do impeachment contra 43. No entanto, a casa não obteve uma maioria de dois terços que seria necessária para condenar o ex-presidente.

Trump sai fortalecido após a segunda tentativa de levá-lo a um impeachment e boa parte disso deve-se principalmente à política do Partido Democrata, que é totalmente refém e alinhada ao Partido Republicano e aos interesses da burguesia. Ironicamente, o comportamento de senadores democratas durante o julgamento de Donald Trump era de minimizar qualquer responsabilidade dos atos anti-democráticos e conspiratórios ao partido republicano. Sem ser criminalizado pela tentativa de golpe, Trump ganhou mais força política dentro do partido e em torno dos aliados.

Embora Donald Trump seja a principal liderança dos atos golpistas que começaram muito antes das eleições em novembro do ano passado, senadores republicanos como Ted Cruz (Texas) e Josh Hawley (Missouri) também foram cúmplices na tentativa de golpe orquestrada por Trump e republicanos para roubar o resultado das eleições presidenciais. As mobilizações golpistas que culminaram com a insurreição do dia 6 de janeiro não foram apenas resultados de uma ação momentânea que saiu do controle, mas fruto de uma estratégia política consciente por parte dos republicanos e seus aliados, que começou muito antes das eleições. No entanto, em nenhum momento, as articulações golpistas dos republicanos teve resistência das lideranças democratas, que  limitaram-se a culpar Donald Trump pelo discurso de fraude eleitoral.

Durante todo o julgamento de impeachment de Trump, o partido democrata também tentou acobertar o papel golpista de conspiradores em postos oficiais dentro do governo e até mesmo no congresso americano, como é o caso dos senadores Cruz e Hawley. Na sexta-feira, a Casa havia aprovado a convocação de testemunhas para ser ouvida no processo de impeachment, mas tanto republicanos quanto democratas desistiram de convocá-los de última hora, o que fortaleceu ainda mais o ex-presidente.

Uma das testemunhas seria a deputada republicana Jaime Herrera Beutler, que denunciou que Trump tinha dito a um importante congressista republicano que a multidão que invadiu o Capitólio estava “mais chateada” com sua derrota nas eleições do que os legisladores. No entanto, os democratas alegaram que “um julgamento mais longo poderia frustar os esforços do presidente Joe Biden de superar logo as controvérsias em torno de seu antecessor” já que o julgamento poderia se estender por vários dias com a convocação de testemunhas.

Outra importante testemunha, o senador do Alabama Tommy Tuberville, que é aliado de Trump, revelou que ele mesmo tinha conversado com o ex-presidente no dia 6 de janeiro enquanto a multidão tentativa invadir o Capitólio. Na conversa, Tuberbille teria dito para Trump que o vice-presidente Mike Pence já tinha sido levado para um lugar seguro. Esse testemunho destrói a falácia do ex-presidente de que ele não tinha noção da gravidade do que estava acontecendo no Capitólio nem de que ele tinha sido informado que o vice-presidente poderia estar correndo perigo. No entanto, o partido democrata não fez nenhum esforço para manter as testemunhas no processo como também atuou junto com os republicanos para que o impeachment acabasse dando em absolutamente nada.

Assim como a tentativa de golpe de Donald Trump e parte dos republicanos foi planejada deliberadamente, a cumplicidade e a apatia com a gravidade dos acontecimentos de 6 de janeiro por parte dos democratas também faz parte de um projeto político. Assim como os republicanos, o partido democrata representa as elites norte americanas, Wall Street e os interesses militares. Enfrentar a ameaça golpista de Trump e dos republicanos exigiria dos democratas um processo que denunciasse não somente o ex-presidente americano e meia dúzia de líderes fascistóides, mas também grande parte da elite americana que apoiou os atos anti-democráticos. Além disso,  o medo do partido democrata de que uma denúncia efetiva dos atos anti-democráticos crie na classe trabalhadora uma revolta que ocupe as ruas e fuja do controle dos dois partidos burgueses é o que mais apavora não só democratas e republicanos, mas toda a elite  econômica norte-americana.

Tais posicionamentos políticos aprofundarão ainda mais a crise política nos EUA, intensificada com a crise econômica mundial e a pandemia do COVID-19. A ameaça fascista de Trump não terminou em janeiro de 2021, muito pelo contrário, ela está se desenhando com mais força à medida que o partido democrata move-se para a direita e não apresenta nenhuma resposta genuína para os anseios da classe trabalhadora. E como já ficou bem claro, o partido democrata não somente aprofundará os ataques à classe trabalhadora como também não tem nenhum interesse em defender a democracia americana da ameaça fascista que se aproxima.

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