Natércia Lopes – Matemática, Doutora em Ciências da Educação e Professora da UNEAL e Semed/Maceió

A universidade é um espaço de diálogo, de amadurecimento, de construção do conhecimento. Um espaço que deve garantir o acesso, permanência e bem estar da comunidade que a compõe. Contudo, percebemos que a Universidade ainda não está preparada para lidar com a diversidade. Temos estudantes que são expulsas/os de repúblicas por causa de sua orientação sexual, pessoas que desistem da universidade porque não conseguem ser aceitas pela comunidade acadêmica, projetos de pesquisa sobre sexualidade que não conseguem orientação, além da resistência em se falar sobre temas que abordem a sexualidade dentro dos espaços acadêmicos.

Por que isso acontece? Qual a dificuldade que as pessoas têm em aceitar o outro do jeito que ela/e é? A sociedade tenta englobar todas/os dentro de um binário, em que as pessoas que nascem com pênis são automaticamente homens, e que nascem com vagina são automaticamente mulheres, quando na realidade temos uma grande diversidade de gênero.

Podemos conceituar as identidades de gênero mais comuns em cisgênero (quando a pessoa se identifica com o sexo biológico que nasceu) e transgênero (quando não se identifica). Com relação à orientação sexual, podemos citar a homossexual (atração pelo mesmo gênero), heterossexual (atração pelo outro gênero), bissexual ou pansexual (atração por dois ou mais gêneros), ou assexual (pouca ou nenhuma atração sexual). Essas são algumas das ligações afetivas que envolve a sexualidade humana. Algo simples de se entender, mas que sofre constante tentativa de controle moral por quem está na Academia.

A destruição dos conhecimentos – saberes e culturas – da população LGBTQIA+ dentro das instituições de ensino refletem também uma legislação que vem excluindo a pauta sobre identidade de gênero e sexualidade dos debates. Esses retrocessos aos avanços conquistados sobre a pluralidade sexual é fruto de uma sociedade cisheteronormativa e que entende que a heterossexualidade é compulsória, ou seja, ela deve ser seguida por todas/os.

A violência que se pratica dentro dos espaços de ensino com a comunidade LGBTQIAP+ a empurra para “guetos”, dificultando a sua socialização no meio acadêmico, pois seus corpos são incômodos nas universidades, considerados anormais, e carregam o peso do preconceito.

Ao mesmo tempo, há um todo contraditório em que se organizam as relações dentro das universidades. Apesar de ser lócus de práticas de LGBTfobia, deliberadamente, a universidade é também um espaço de libertação para muitas pessoas que querem transicionar seus corpos, assumirem sua orientação sexual ou identidade de gênero.

A Teoria das Representações Sociais que eu trabalho há 11 anos, busca as bases de Emile Durkheim para explicar como se constroem as ideias da/o sujeita/o sobre o mundo e como ela/e faz para se comunicar. O paradigma de Moscovici vai em direção à explicação das mudanças e inovações sociais, ele afirmava que a representação social é mutável, é dinâmica, é um fenômeno, e não um conceito como afirmava Durkheim. Uma outra diferença era que Durkheim acreditava que os fatos sociais independem das pessoas, e são coercitivos, ou seja, a sociedade obriga o indivíduo a se adaptar às normas já criadas. Moscovici acreditava que a sociedade forma o indivíduo, assim como é formada por ele, a sociedade e o indivíduo estão em mesma posição. A convergência entre os dois teóricos reside no fato de que as pessoas tendem a agir segundo a pressão normativa, e isso talvez explique um preconceito introjetado nas pessoas sobre a sexualidade humana.

Contudo, Moscovici defende que uma representação pode ser mudada quando se compreende seu processo de construção e onde ela está ancorada. Deste modo, as universidades precisam assumir, normativamente, o papel de defensoras dos direitos humanos e diversidade, e para isso, todo corpo docente, discente, técnica/o-administrativa/o deve se envolver, além da comunidade externa. A universidade precisa encarar que é um problema curricular a ausência de conteúdos sobre sexualidade nas ementas das disciplinas obrigatórias do curso, e que não só no mês do Orgulho LGBTQIAP+ essa pauta deve ser evidenciada na academia, mas deve estar presente nos projetos pedagógicos dos cursos e essas/es estudantes devem ser acolhidas/os.

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