Ao menos 576.600 pessoas na Faixa de Gaza sitiada enfrentam “fome catastrófica”, alertou a Organização das Nações Unidas (ONU) em novo relatório nesta quinta-feira (21).
As informações são da agência de notícias Anadolu.
“Toda a população de Gaza — cerca de 2.2 milhões de pessoas — vivem em crise ou entre os piores níveis de insegurança alimentar aguda”, afirmou o relatório de Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), publicado pelo Programa Alimentar Mundial (PAM) e outras ongs e agências.
O IPC é uma plataforma multilateral que analisa dados para determinar a gravidade de crises alimentares conforme padrões científicos reconhecidos internacionalmente.
Segundo o relatório, cerca de 26% dos palestinos de Gaza — 576.600 pessoas — “exauriram seus suprimentos alimentares e suas capacidades de enfrentar a fome catastrófica (Fase 5) e a crise de fome” que assola o território densamente povoado.
Cindy McCain, diretora executiva do PAM, reiterou: “Alertamos sobre a catástrofe iminente por semanas. Tragicamente, sem meios de segurança e acesso contínuo, que tanto pedimos, a situação é desesperadora e ninguém em Gaza está livre da fome”.
Caso a situação corrente de “conflito intenso e restrição humanitária” persista, o documento prevê “risco de fome aguda dentro dos próximos seis meses”.
Ao ecoar apelos por um cessar-fogo, declarou McCain: “Não podemos cruzar os braços e ver as pessoas morrerem de fome. É preciso acesso humanitário já, para levar aos civis socorro humanitário que pode salvar suas vidas”.
Especialistas do PAM destacaram que a população de Gaza “esgotou todos os seus recursos, com seus meios de subsistência destruídos, junto de padarias e lojas, enquanto famílias não conseguem encontrar alimento”.
Relatos confirmam que famílias inteiras ficam sem comida por dias e que adultos pulam suas refeições para que as crianças possam comer.
“Não são somente números, mas sim indivíduos — crianças, mulheres e homens por trás de estatísticas alarmantes”, observou Arif Husain, chefe de economia do PAM. “A complexidade, a magnitude e a velocidade com que se desenrola a crise não têm precedentes”.
O documento pede acesso de assistência alimentar e multissetorial em caráter emergencial para conter as mortes — não apenas pelas bombas, mas também pela desnutrição.
“A pausa de sete dias confirmou que o PAM e nossos parceiros podem fornecer socorro caso as condições permitam e a abertura da travessia de Kerem Shalom [na fronteira com Israel] pode abrir caminho a novos fluxos em Gaza”.
Os acessos humanitários por Rafah — com Egito, no extremo sul — e Kerem Shalom, porém, são imensamente insuficientes para responder às demandas resultantes pela destruição da infraestrutura civil na Faixa de Gaza.
Kerem Shalom (em árabe, Karm Abu Salem) é a única travessia comercial de Gaza. Mais de 60% da ajuda ao território passavam pelo terminal antes de Israel impor um embargo militar absoluto contra a população, no início de outubro.
Ao promover o cerco — sem comida, água, eletricidade ou medicamentos —, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, descreveu os palestinos como “animais”.
A retórica desumanizante corrobora denúncias sobre a intenção israelense de esvaziar Gaza de sua população nativa para anexar o território — isto é, limpeza étnica.
Israel lançou intensos bombardeios contra a Faixa de Gaza desde 7 de outubro, deixando 20 mil mortos, 50 mil feridos e dois milhões de desabrigados, de uma população de 2.4 milhões de pessoas, além de milhares de desaparecidos sob os escombros.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.
Fonte: Monitor do Oriente