Natércia Lopes – Professora da Uneal e da Semed Maceió
Moisés e os Israelitas vagaram pelo deserto. Depois de dias de caminhada vieram fome e sede, e o povo de Israel queria voltar a ser escravo dos egípcios. Mas, Deus não poderia deixar seu povo morrer no deserto, e de forma miraculosa, Deus manda o Maná. Moisés bate em uma rocha e água começa a jorrar. E as necessidades foram satisfeitas.
No Monte Sinai, Moisés, que era o único que poderia falar com Deus, sobe o Monte e fica por 40 dias para receber o código de conduta que deveria ser seguido pelos israelitas. Mas, o povo prometido, sem um Rei, desespera-se, retira das mulheres suas joias e faz um bezerro de ouro para idolatrar. Moisés, então, persegue todos a mando de Deus, quebra o bezerro de ouro e continua a ser adorado.
Essa história é contada nas “Escrituras Sagradas”, datada do século XV a. C., e nos mostra um homem com imensa intimidade com o seu superior, e que recebe das mãos dele a base da legislação sagrada que cristãos seguem até hoje. Por outro lado, temos uma população subserviente, escravizada, buscando uma suposta libertação, que poderia ter vindo quando há o afastamento de seu grande profeta, mas aí eles buscam outra forma de exercerem sua idolatria.
Se trouxermos esse enredo para nosso Estado, podemos pensar quantos Moisés temos em Alagoas… Seria o nosso estado uma terra fértil para produção de “bezerros de ouro”?
Essa passagem bíblica é mais que uma relação entre fé e obediência, ela mostra a necessidade de um povo ter um rei; alguém para exercer a submissão, a ponto desta situação ser confortável para eles.
É a dependência que incapacita para uma abolição de uma condição colonial. Um povo fragilizado, no qual fora incutido em suas mentes que deveriam servir cegamente e que a ausência de um dominador desconserta toda uma estrutura de quem não tem outra perspectiva.
Há expressa a necessidade de ter um ícone que representa a ostentação, a força, o luxo; algo que nos distraia desta vida medíocre e alguém para seguirmos. A necessidade de se ter um rei, alguém para obedecer porque somos fadados a sermos súditos e não sabemos como sair desta miséria. E por falar em miséria, cabe ressaltar que Alagoas é um dos 4 estados brasileiros com maiores percentuais da população vivendo em situação de extrema pobreza.
Fazer com que uma população consiga enxergar que não precisa de um dono para viver é um processo semelhante aos tantos colonizados que se revoltaram com a vida que levavam e se negaram a continuar sendo escravizados. Contudo, não basta livrar da escravidão quando estas pessoas continuam enfraquecidas, sem acreditarem na força que têm para mudar seu próprio rumo, porque aí elas vão procurar fazer um bezerro de ouro, ou seria, na linguagem de hoje, um influenciador? E vocês, já perceberam quantos “influenciadores” temos construídos em Alagoas? Um Estado com uma pobreza histórica e arraigada, com uma população que depende de políticas públicas para se alimentar, que, segundo o Ministério da Cidadania, durante a pandemia, 35% sobrevivia com 89 reais por mês, e com uma concentração de renda na capital onde 10% dos mais ricos detêm 46% da soma da renda de toda população. Um Estado que possui a maior taxa de analfabetismo do País, com 17,1 % de pessoas que não sabem ler, é o mesmo que hoje desponta como celeiro de lideranças para o Brasil e para o mundo.
Será que o trinômio miséria – falta de escolarização – idolatria favorece o surgimento destas influências?
A Educação como prática para liberdade, tanto pregada por Freire, não é aceita pela elite formada pelos tantos “moisés” porque promove a conscientização do povo sobre seu lugar no mundo e a reflexão sobre esse estar no mundo resultando na abertura para a realidade.
Concluo dizendo que visualizar uma sociedade sem cabrestos é um trabalho de consciência política que vem pela Educação. É preciso acreditar na luta de classes, na oposição entre opressores e oprimidos e no conhecimento como forma de não perpetuar a domesticação, dominação e opressão.
Democracia, criticidade, consciência, liberdade, são conceitos fundamentais para termos cidadãos que pensam, produzem, e que não necessitam criar bezerros de ouro porque não são manipulados.