Emissoras holandesa, espanhola, irlandesa e eslovena disseram que iriam se retirar do festival
Israel foi liberado na quinta-feira (4) para participar do Festival Eurovision de 2026 pelo organizador, levando a Espanha, Holanda, Irlanda e Eslovênia a se retirarem por causa da guerra em Gaza e mergulhando a competição em uma das maiores polêmicas de sua história.
As emissoras que ameaçaram boicotar o evento citaram o número de mortes em Gaza e acusaram Israel de desrespeitar as regras destinadas a proteger a neutralidade do concurso. Israel acusa seus críticos de montar uma campanha global de difamação contra o país.
Imediatamente após o anúncio do organizador do concurso, as emissoras holandesa, espanhola, irlandesa e eslovena disseram que iriam se retirar, o que significa que os cantores de seus países não competirão no concurso que atrai milhões de telespectadores em todo o mundo.
Ben Robertson, um especialista em Eurovision do website de fãs ESC Insight, disse que a integridade do concurso está em seu ponto mais baixo.
“Nunca na história do concurso tivemos tal votação, e tal divisão, entre as emissoras membros da União Europeia de Radiodifusão,” disse.
Tanto o governo quanto os líderes da oposição israelense celebraram a inclusão do país.
Golan Yochpaz, CEO da emissora israelense KAN, comparou os esforços para excluir Israel a uma forma de “boicote cultural”.
Rebatendo os países que se retiraram, o Ministro das Relações Exteriores, Gideon Saar, disse no X: “A desgraça está sobre eles.”
Irlanda diz que participação é ‘inadmissível’
O Festival Eurovision remonta a 1956 e alcança cerca de 160 milhões de telespectadores, de acordo com a EBU — mais do que os quase 128 milhões registrados para o Super Bowl dos EUA deste ano, de acordo com números da Nielsen.
A participação de Israel dividiu opiniões na competição, que tem um histórico de envolvimento em rivalidades nacionais, questões internacionais e votação política.
O concorrente de Israel em 2025, Yuval Raphael, estava no festival de música Nova, um alvo do ataque de 7 de outubro de 2023 pelo grupo militante palestino Hamas contra Israel que desencadeou a guerra em Gaza.
Um total de 1.200 pessoas foram mortas e 251 feitas reféns no ataque do Hamas, de acordo com as contagens israelenses. Mais de 70.000 pessoas foram mortas em Gaza no conflito subsequente, de acordo com as autoridades de saúde no enclave.
A emissora irlandesa RTE disse sentir que “a participação da Irlanda permanece inadmissível dado a terrível perda de vidas em Gaza e a crise humanitária que continua a colocar a vida de tantos civis em risco.”
Jose Pablo Lopez, chefe da emissora estatal espanhola RTVE, disse no X: “O que aconteceu na Assembleia da EBU confirma que a Eurovisão não é um concurso de canções, mas sim um festival dominado por interesses geopolíticos e fraturado.”
A RTV Slovenija disse que, juntamente com a Espanha, Montenegro, Holanda, Turquia, Argélia e Islândia, solicitou uma votação secreta sobre a participação de Israel, mas ela não foi realizada.
A emissora pública islandesa RUV disse que seu conselho tomará uma decisão na quarta-feira (3) sobre se participará da próxima Eurovisão, que será realizada em Viena em maio.
“Eu me sinto triste por outros países não competirem no próximo ano,” disse Jurij Vlasov, fã da Eurovisão em Tel Aviv, de 33 anos, acrescentando que a música da Holanda deste ano era sua favorita.
Na Áustria, que apoiou Israel, os fãs da Eurovisão saudaram sua inclusão, embora alguns na Espanha tivessem a visão oposta.
“Por que a população, ou uma parte da população, não deveria participar?”, disse Bernhard Kleemann, residente de Viena. “Se os países decidem não participar porque condenam o governo e o primeiro-ministro, essa é a decisão deles.”
“Nascida das cinzas da Segunda Guerra Mundial”
Em vez de votar sobre Israel, a EBU disse que seus membros apoiaram regras destinadas a desencorajar governos e terceiros de promoverem desproporcionalmente canções para influenciar os eleitores, após alegações de que Israel impulsionou injustamente seu concorrente de 2025.
“Este voto significa que todos os Membros da EBU que desejam participar do Festival Eurovision de 2026 e concordam em cumprir as novas regras são elegíveis para participar,” disse o comunicado.
O Presidente de Israel, Isaac Herzog, agradeceu aos apoiadores de seu país, dizendo que esperava que o concurso continuasse a defender a “cultura, a música, a amizade entre as nações”.
A Alemanha, uma das principais apoiadoras da Eurovisão, havia sinalizado que não participaria se Israel fosse barrado. O Ministro da Cultura da Alemanha, Wolfram Weimer, disse ao jornal Bild que saudava a decisão.
“Israel pertence ao Festival Eurovision, assim como a Alemanha pertence à Europa,” disse ele.
Martin Green, diretor do concurso, disse que os membros da EBU mostraram que queriam proteger a neutralidade da competição.
“A Eurovisão nasceu das cinzas da Segunda Guerra Mundial,” disse ele. “Foi concebida para nos unir, e teremos solavancos na estrada, e vivemos em um mundo complicado, mas esperamos que seja uma situação temporária, e vamos seguir em frente.”
Fonte: CNN Brasil






