“Não estávamos à espera da associação generalizada entre o aumento do tempo de tela e sintomas de ansiedade, depressão, desatenção e hiperatividade”, diz uma das autoras
Um estudo canadense encontrou uma associação entre níveis excessivos de uso de tela com a piora dos sintomas de saúde mental em crianças durante a pandemia. Publicada pela JAMA (Journal of the American Medical Association) Network, a pesquisa defende que as intervenções dos formuladores de políticas públicas são “urgentemente necessárias” para promover a utilização “saudável” de determinados dispositivos.
“Também é importante garantir que as crianças tenham acesso a recursos adicionais de saúde mental e apoio social e fornecer aos professores e terapeutas treinamento sobre o uso problemático da mídia para ajudar as crianças a se recuperarem do isolamento e do estresse da pandemia”, pontua o estudo. “Embora pais e cuidadores individuais possam adotar estratégias de redução de danos para promover o uso saudável da tela em crianças, dada a situação única e desafiadora da pandemia de covid-19, acreditamos que as intervenções dependerão fortemente de mudanças políticas sistêmicas.”
“Pensávamos que o tempo gasto em videochamadas estaria associado a menos sintomas negativos de saúde mental, mas percebemos que as videochamadas não conferem qualquer tipo de proteção”, diz uma das pesquisadoras, Catherine Birken, ao site Público. “Não estávamos à espera da associação generalizada entre o aumento do tempo de tela e sintomas de ansiedade, depressão, desatenção e hiperatividade.”
Como foi feito o estudo
O estudo analisou um total de 2.026 crianças, com 6.648 observações realizadas entre maio de 2020 e abril de 2021. Aproximadamente 52,5% (785) das crianças já eram acompanhadas devido a problemas de saúde mental e quase 16% tinham perturbações do espectro do autismo. Os pais foram convidados a preencher questionários, em momentos distintos, sobre os comportamentos e sintomas de saúde mental de seus filhos, bem como seu tempo gasto sendo de exposição à TV e mídia digital, videogames, aprendizagem eletrônica e bate-papo por vídeo.
Entre as crianças mais jovens, que tinham em média 5,9 anos, o maior tempo de TV ou mídia digital foi associado a mais problemas de conduta, além de hiperatividade e desatenção. Em crianças mais velhas e jovens, que tinham em média 11,3 anos, o uso excessivo de tela resultou em maior depressão, ansiedade e desatenção. Mais tempo de videogame também foi associado ao aumento da depressão, irritabilidade, desatenção e hiperatividade.
Segundo a pesquisa, níveis mais elevados de tempo de aprendizagem eletrônica também foram associados a maior depressão e ansiedade.
Limite de duas horas
Além do elevado uso da tela e do isolamento social durante a pandemia, os autores dizem que o agravamento da saúde mental pode estar relacionado a mudanças no sono, falta de exercícios físicos e de outras atividades sociais. Bullying online, notícias estressantes e anúncios prejudiciais também podem estar contribuindo para o problema.
Os pesquisadores lembram que a Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Pediátrica Canadense recomendam não mais do que uma a duas horas de uso de tela por dia para crianças.
Fonte: Rede Brasil Atual