Estudantes, professores e pais de alunos rejeitaram por 300 votos a 24 a tentativa de militarização da escola estadual Nyrce Villa Verde, em Juiz de Fora, Minas Gerais. A votação é uma barreira para a tentativa de implantação desse projeto, que chegou a ser aprovado em outras escolas.

Desde o lançamento do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim), em 2019, aproximadamente 120 foram militarizadas no Brasil e o MEC almeja transformar pelo menos mais 100 até 2023. Com orçamento que saltou de R$ 14 milhões em 2020 para R$ 46 milhões em 2021, o programa está a todo vapor.

Em meio a uma precarização geral das escolas públicas do país, com corte de verbas e o fim de programas pedagógicos variados, este programa de escolas cívico-militares é empurrado com a promessa de multiplicar investimentos e elevar o nível pedagógico.

O governo Bolsonaro comemora o processo acelerado, que privilegia sua base de apoio nas Forças Armadas e Polícia Militar. Ainda assim, tem esbarrado na resistência de quem não aceita ficar refém dessa chantagem financeira contra a escola pública.

Disciplina ou medo?
Um dos argumentos mais utilizados em favor da implementação do modelo é de que diante da insegurança generalizada e de uma suposta falta de disciplina, a hierarquia militar poderia contribuir para uma melhor fluidez e atenção ao ensino-aprendizagem.

A verdade, no entanto, é que depois de implementada, toda livre organização dos estudantes e a liberdade de cátedra dos professores vai pelo ralo.

No último dia 5 de maio um vídeo gravado numa escola cívico-militar do DF circulou por todo o país. Nas imagens é possível ver um PM que trabalha na escola ameaçar um adolescente, falando com todas as letras: “te arrebento, moleque!”. O motivo? O estudante participou do protesto que repudiava a exoneração da vice-diretora depois de divergir dos militares no interior da escola. Nada mais simbólico.

Na escola estadual Nyrce Villa Verde, em Juiz de Fora, a tentativa de empurrar a militarização incomodou os estudantes e gerou uma forte resistência. “Foi tudo muito rápido, menos de 24h”, comentou Felipe, aluno do Ensino Médio. Uma assembleia foi convocada para consultar a comunidade e por isso os estudantes resolveram chamar “uma reunião dos representantes, onde nós tivemos a ideia de pegar cartolinas e montar algumas frases defendendo a educação pública”, relatou Alice, também estudante da escola.

“Prejudicaria muitos de nós, retiraria nossa identidade. As escolas cívico-militares impõem padrões ridículos sobre os alunos, e caso não os sigam, são convidados a se retirar. O Nyrce é um colégio de “comunidade”, afetaria os projetos da escola pois, mesmo dizendo que não, iam fazer daquele colégio uma prisão, os alunos não teriam direito de se expressar”, complementou Alice, justificando a mobilização.

Com isso, a juventude lotou a quadra da escola e foi determinante para a votação que decidiu por ampla maioria um entusiasmado “não à escola cívico-militar!”. Agora os estudantes planejam reforçar o conselho de representantes de sala de aula e prosseguir a construção de um grêmio estudantil.

Fonte: O Trabalho

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