O encontro do governador Paulo Dantas (MDB) com o mega bilionário José Paulo Lemann provocou revolta entre os professores e especialistas em educação em Alagoas. O encontro aconteceu na Inglaterra, e o governo postou nas suas redes sociais: “Tenho certeza de que voltarei para Alagoas com ideias e novos projetos para revolucionarmos a educação de nosso estado.” A partir daí, começou uma enxurrada de questionamentos, já que Lemann e sua Fundação são ferrenhos defensores da privatização da escola pública.

Paulo Dantas (MDB) e outros governadores participam de um curso de gestão pública em Oxford, patrocinado pela fundação.

É uma viagem extraordinariamente importante para o futuro da educação pública porque, na bagagem, está o futuro da gestão democrática nas escolas. Implantada por Ronaldo Lessa, esta gestão entrou em colapso na era Renan Filho + Luciano Barbosa na Secretaria de Educação e hoje está na UTI, respirando por aparelhos. O futuro governador se prepara para desligar os botões que (ainda) a mantêm viva.

Tudo isso sob um fino manto de silêncios intencionais das nossas instituições. Talvez o Sinteal seja um dos poucos críticos.

Estamos falando de um modelo de privatização da escola pública absolutamente sutil: não se coloca a placa “vende-se” na portão, como aconteceu com o saneamento básico. As escolas da rede seguem públicas mas a mentalidade da gestão passa a ser privada.

Ou seja: crê-se que o público está em crise e a solução está no mercado, regulando o parâmetro de qualidade do ensino.

É onde entra a Fundação Lemann. Criada em 2002 e presidida por José Paulo Lemann, tem como foco uma educação pública de qualidade e liderança para o impacto social.

São palavras elegantes que, em verdade, significam mesmo: um Estado tratado como empresa, o orçamento público tido como lucro e os cidadãos “obrigados” a “darem resultados” sendo “merecedores” de uma tal cultura meritocrática.

Talvez no Canadá, na Dinamarca ou na Suíça isto poderia prevalecer. Afinal, a maior parte do povo vive financeiramente bem, as elites estão comprometidas com o social e nem existe analfabetismo.

Onde esse estado de bem estar social funciona em Alagoas?

E em qual lata de lixo vai se colocar os “perdedores”?

Essa coleção de soluções rápidas e fáceis para problemas seculares encantou governadores. Nossos registros históricos (fallas provinciais, mensagens governamentais) contêm muitos destes episódios.

Não é diferente agora. E com o acréscimo de que tudo está na contramão da gestão democrática. Quando o então governador Ronaldo Lessa implantou lá atrás este modelo, percebia-se que alunos, técnicos, professores conheciam melhor a realidade da escola, buscando alternativas mais apoio da Secretaria de Educação. Por isso que diretores não eram mais indicados por deputados, prefeitos e vereadores e sim eleitos pela comunidade escolar.

A pressão político-partidária foi enfraquecendo a necessidade de eleições nas escolas, prevalecendo, na marra, o modelo do passado: o político indicando o diretor amigo para as escolas públicas.

Em “O Curso de Gestão para Aprendizagem da Fundação Lemann como Processo de Institucionalização do Gerencialismo nas Escolas de Educação Básica Alagoanas: Implicações para a Democratização da Educação”, Vera Maria Vidal Peroni e Cristina Maria Bezerra de Oliveira mostram que a crise da gestão democrática, o modelo e a padronização exigidas pela Fundação Lemann mais uma gerência que vai de cima para baixo (Seduc-escolas) funcionam como uma espécie de controle, “um processo cada vez maior de alienação do trabalho docente”.

Resumo: “O professor recebe o material pronto; ele não deve mais ser um intelectual que produz o conhecimento, o que tem profundas implicações para a democratização da educação”.

A Secretaria de Educação centraliza poderes quase imperiais. Com a diferença de que o empresariamento da educação retira da Seduc o peso da responsabilidade de escolas com baixo rendimento em índices educacionais. E transfere a “culpa” a diretores que jogam a carga nos professores, sacudindo nos alunos.

Este jogo de empurra não tira Alagoas dos piores indicadores nacionais na educação. E transforma a Seduc num pelourinho e o secretário (hoje secretária) num capitão do mato, à caça dos que fogem do modelo padronizado de aulas prontas mais formação de professores descolada da realidade (afinal uma escola da Pariconha e outra de Maceió não podem ser tratadas como se os dois municípios fossem absolutamente iguais, e não são).

Vão para o tronco os “perdedores”, os que não alcançaram os resultados. Quem se deu bem é premiado. Quem não, fica para trás.

“Vence” a Seduc e sua condição narcisista, misturada à arrogância, mantendo um relacionamento abusivo com todas as escolas mais professores e técnicos.

Talvez o governador não precisasse gastar combustível de avião, diárias e carregar uma legião para buscar em Oxford respostas que estão em Alagoas para problemas alagoanos.

Redação com Reporter Nordeste

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