A Polícia Civil não teve que investigar muito para descobrir quem contratou dois carros de som que espalharam mensagens antivacina de crianças contra a Covid-19, em Novo Hamburgo, na região metropolitana de Porto Alegre.

A contratação foi feita pelo empresário bolsonarista Elácio Hugendobler, como ele mesmo assume em vídeo postado nas redes sociais nesta quinta-feira (27), onde aparece ao lado do deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS).

Vacina não é experimental

Dois automóveis – uma Fiorino e um Fiat Uno, foram filmados por moradores de diferentes bairros da capital nacional do calçado, nesta quarta-feira (26). No alto-falante, os veículos transmitiam a mensagem abaixo: 

“Atenção, pais. Nós todos temos o dever de saber que não é obrigatória a vacina experimental em nossos filhos. As escolas não podem exigir e muito menos impedir o acesso de nossos filhos às salas de aula por não terem feito a vacina. E os fabricantes não garantem a eficácia e não se responsabilizam pelos efeitos colaterais, tendo em vista que muitos tiveram problemas”. 

Os veículos foram apreendidos pela Guarda Municipal e levados para o depósito do Detran. Já os condutores foram encaminhados para a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento do Município.

Eles não foram presos em flagrante. Nos depoimentos optaram por ficar em silêncio e depois foram liberados. O caso é investigado pelo delegado Rafael Sauthier, da 1ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo. 

Empresário e deputado são apoiadores de Bolsonaro

Bolsonarista e financiador de campanhas políticas alinhadas ao presidente da República, Hugendobler é dono de lojas de autopeças no Vale do Sinos. Ele também foi pré-candidato a vereador pelo PRTB nas últimas eleições, mas não chegou a concorrer.

No vídeo de sete minutos divulgado nas redes sociais, ele afirma que sua intenção foi alertar sobre a não obrigatoriedade da vacinação infantil. “Nós temos o direito, os pais de todo o Brasil têm direito de decidir se vão vacinar os filhos ou não”, defendeu.

Bibo Nunes, também bolsonarista, disse: “viu só, nada demais. Não aconteceu nada. Eu fico chateado, como cidadão, Solange, vocês todos que aqui estão, lutando por levar simplesmente a verdade para as pessoas e acabam se incomodando”.

Apologia ao crime

Tanto os motoristas que divulgaram as mensagens antivacina como o empresário podem responder por apologia ao crime. Trata-se de infração de medida sanitária preventiva, em meio à pandemia que já deixou mais de 620 mil mortes no Brasil, com base no artigo 268 do Código Penal (infringir determinação do poder público, destinada a impedir a introdução ou propagação de doença contagiosa). 

“Ainda não decidimos se serão enquadrados e qual o enquadramento. Vamos tomar depoimento do empresário e dos divulgadores das mensagens, antes”. disse o delegado. 

O prefeito em exercício de Novo Hamburgo, Márcio Lüders (MDB), disse que a Prefeitura vai solicitar que os autores da mensagem sejam denunciados ao Ministério Público. Ele ressaltou que o imunizante para crianças foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Caso façam de novo essas mensagens, vamos apreender os veículos outra vez. Espalhar fake news é crime”, alertou Lüders. 

Hugendobler está envolvido também em outras irregularidades. Ele participou da invasão da Câmara de Vereadores de Novo Hamburgo em 15 de setembro de 2021, para protestar contra votação da nova planta de valores do IPTU municipal. Ele foi indiciado criminalmente por furto de um equipamento de som.

No ano passado, o empresário e a esposa confirmaram ao jornal NH que ajudaram a bancar os custos da viagem de apoiadores de Bolsonaro para os atos antidemocráticos e golpistas de 7 de setembro que foram realizados em Brasília.

Fonte: CUT RS

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