Multidão protestou junto à Alesp, enquanto deputados discutiam o plano de concessão da Sabesp à iniciativa privada
No dia em que diferentes categorias realizaram uma greve histórica na região metropolitana de São Paulo, milhares de pessoas foram às ruas para protestar contra os projetos de privatização de serviços públicos por parte do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O ato desta terça-feira (28) junto à sede da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) reuniu representantes de sindicatos, movimentos populares e muitos cidadãos que se opõem à sanha privatista do governador bolsonarista. Ao mesmo tempo, deputados debatiam a proposta de privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que pode ser a primeira vítima dos planos de entrega dos bens públicos.
“Nós vamos denunciar esses deputados que votarem a favor da privatização em prejuízo do povo paulista. Nós vamos continuar lutando e denunciando, porque onde privatizou, a tarifa aumentou, como no Rio de Janeiro. Se compararmos as tarifas do Rio de Janeiro com São Paulo, na Sabesp, é uma disparidade absurda”, destacou Renê Vicente, trabalhador da Sabesp e diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema).
Além dos funcionários e funcionárias da companhia de saneamento, a greve desta terça reuniu os trabalhadores do Metrô de São Paulo e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), empresas também ameaçadas de privatização; além dos profissionais da educação pública, em meio a ameaça de cortes bilionários no orçamento do setor.
Clarisvaldo Pereira é profissional de saúde e atua no distrito de Anhanguera, na zona norte de São Paulo. Ele foi até à Alesp protestar contra as condições da escola Basica Escola Estadual Professora Zoraide de Campos Helu, que fica às margens da rodovia Anhanguera e foi o colégio da rede pública estadual da capital com o pior resultado em 2017 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), principal indicador de qualidade da educação primária no país.
Pereira disse que, diante das condições precárias da escola, preferiu não matricular os filhos na instituição, mas nem por isso desistiu de buscar por melhorias para a comunidade onde vive. “Eu resolvi lutar. A gente espera que venhamos a ser atendidos, e essa escola passe da pior escola do estado, se não for para a melhor, que fique entre as melhores. A pior escola a gente não quer mais. A população não quer mais”, disse ao Brasil de Fato.
A presidenta do Sindicato dos Metroviários e Metroviárias de São Paulo, Camila Lisboa, afirmou que as categorias estão mobilizadas por motivos muito maiores que as ameaças aos postos de trabalho, e lembrou que há muito mais em jogo.
“O que motivou os trabalhadores a fazer a greve foi também a defesa de seus empregos, mas não apenas isso. A defesa dos serviços públicos de qualidade também é parte da motivação dessa greve. Os processos de privatização que aconteceram, tanto no transporte sobre trilhos, quanto na água e saneamento básico, mostram que os serviços pioraram e a tarifa aumentou”, resumiu.
Os trabalhadores do sistema metroferroviário de transportes reivindicam ainda a reintegração de oito funcionários demitidos devido à greve do último 3 de outubro. Um deles é Altino de Melo Prazeres Junior, que foi presidente do sindicato da categoria e segue na luta.
“Ele está fazendo isso [demitir trabalhadores] para intimidar a população, intimidar os trabalhadores, porque estão resistindo à privatização. E nós vamos continuar lutando. Foi o que nós fizemos hoje e vamos continuar fazendo para evitar que essas importantes empresas públicas, que têm vários problemas, reconhecemos isso, que elas não sirvam para enriquecer um punhado de bilionários e depois aumentar a tarifa e piorar os serviços”, destacou.
A vereadora da capital paulista Luana Alves (PSOL), que participou do ato na Alesp, passou o dia junto aos trabalhadores mobilizados, tendo visitado piquetes junto às sedes da Sabesp. Para ela, o dia de luta mostra força da classe trabalhadora no estado mais rico do país.
“Hoje é um dia de resistência popular, mostra também como há organização popular nas bases. Trabalhadores do Metrô, da CPTM, professores, funcionários da Sabesp… O movimento popular está disposto a também fazer o enfrentamento”, concluiu.
Fonte: Brasil de Fato