Desde a posse de Pedro Castillo em 28 de julho não houve dia sem provocações e ameaças contra o seu mandato vindas da coligação fujimorista. A própria Keiko declarou “somos um muro de contenção frente à ameaça latente de uma nova Constituição comunista e de mudanças estruturais”. Um deputado da direita, Rospiglioni, disse “só nos resta acabar com esse governo, antes que ele acabe com o Peru”.
O partido de Castillo, Peru Livre (PL), com 37 dos 130 deputados eleitos, foi marginalizado nas comissões parlamentares, enquanto um procurador acusa o líder do PL, Vladimir Cerrón, e o primeiro ministro Guido Bellido, de desvio de dinheiro na campanha eleitoral.
Toda essa raiva é porque Castillo insiste na convocação de uma Constituinte e os grupos de poder e empresários não abrem mão da Constituição de 1993 que lhes permitiu saquear o país com as privatizações, o pagamento da dívida externa e a dominação política contra a maioria oprimida.
A saída virá da luta
No último dia 10 de agosto, em Chiclayo, maior cidade da região de Lambayeque (norte do país), houve uma grande mobilização unitária contra a empresa privada Epsel de água potável. Puxada pelo Sutselam (sindicato de seus trabalhadores), que promoveu uma paralisação na data, ela foi engrossada por outros sindicatos e organizações como a CGTP local e a Assembleia Popular regional.
A passeata que tomou as ruas centrais da cidade levantou palavras de ordem como “Fora Epsel e água de qualidade para todos”, “Fora privatizadores das empresas açucareiras”, “Não à demissão de dirigentes sindicais”, terminando diante da sede da empresa. O ato final decidiu impulsionar assembleias populares em outras cidades da região e enviar à Lima uma delegação com as reivindicações para entregar à Castillo. Na ocasião, dirigentes sindicais e políticos chamaram a massificação da campanha para apoiar o referendo pela Constituinte.
Como disse, em 17 de julho, um dirigente da CGTP-Lambayeque na assembleia nacional de delegados dessa central sindical: “Existe um plano golpista de Keiko e da direita contra Castillo. Nas ruas o povo colocou no centro a Assembleia Constituinte. Temos que impulsionar desde as bases as assembleias populares e as assembleias macro-regionais da CGTP. Há que se tomar cuidado com frentes como a de Democracia e Governabilidade que não nascem da resistência das massas e não levantam a Assembleia Constituinte”.
Tal fala foi uma resposta ao informe de Gerónimo López, secretário geral da CGTP que, apesar de apoiar a coleta de firmas pela Constituinte, propôs às bases ajudar a formar a Frente pela Democracia e Governabilidade, constituída por todos que apoiaram Castillo no 2º turno e hoje agem para “moderar” o seu discurso. O 15º congresso da CGTP foi convocado para o próximo mês de novembro.
Só a auto-organização dos trabalhadores e setores populares terá força para impor a convocação de uma Constituinte Soberana no Peru, diante de um Congresso de maioria contrária e do clima golpista alimentado pela direita.
Fonte: O Trabalho