Jornalistas da BBC e da DW denunciam propaganda antiética pró-“israel” e favorável ao extermínio de palestinos
A cobertura midiática do novo capítulo do genocídio perpetrado por “israel” contra o povo palestino tem sido marcada por uma cumplicidade e propaganda jamais vistas na imprensa internacional. No centro das recentes polêmicas estão duas organizações de destaque na mídia ocidental: a BBC e a Deutsche Welle (DW). Ambas têm enfrentado denúncias crescentes de viés e manipulação em sua cobertura, a fim de maquiar o morticínio de mais de 55.000 palestinos de Gaza, omitindo ou ao menos relativizando o Holocausto Palestino.
Denúncias internas na BBC
De acordo com uma investigação publicada pelo site independente DropSite News, funcionários da BBC expressaram preocupação com o que classificaram como um “viés estrutural” na emissora. Relatos indicam que diretrizes internas desestimulavam o uso de termos como “genocídio” ou “crimes de guerra” para descrever as ações “israelenses” em Gaza. Além disso, alguns jornalistas alegaram pressões para enquadrar os ataques “israelenses” como uma “resposta legítima” às ações da Resistência Palestina, enquanto as mortes de civis palestinos eram frequentemente relegadas a segundo plano.
O portal entrevistou 13 atuais ou ex-jornalistas da rede britânica. A reportagem destaca que “a cobertura tem acreditado mais nas reivindicações israelenses do que os próprios líderes conservadores do Reino Unido e os meios de comunicação israelenses, ao mesmo tempo que desvaloriza a vida palestiniana, ignora as atrocidades e cria uma falsa equivalência num conflito totalmente desequilibrado”.
Em novembro, a indignação dos jornalistas com a cobertura geral da emissora estatal veio à tona depois que mais de 100 funcionários da BBC assinaram uma carta acusando a organização, junto com outras emissoras, de não aderir aos seus próprios padrões editoriais. A BBC não tinha “jornalismo consistentemente justo e preciso baseado em evidências em sua cobertura de Gaza” em suas plataformas, eles escreveram.
As tensões internas sobre a cobertura da BBC a respeito de Gaza vinham aumentando há semanas. Em 24 de outubro, Rami Ruhayem, um correspondente da BBC baseado em Beirute, enviou um e-mail a Tim Davie, diretor-geral da BBC, expondo as preocupações que ele e seus colegas jornalistas haviam compartilhado sobre a falta de imparcialidade da organização em sua cobertura de Gaza. Embora as histórias usassem “proeminentemente” palavras como “massacre”, “chacina” e “atrocidades” para se referir ao Hamas, elas “dificilmente, se é que as usaram”, “em referência a ações de Israel”, ele escreveu.
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Ruhayem destacou o uso da palavra “massacre”, em particular, que a BBC não havia usado para descrever morticínios em massa perpetrados por forças sionistas. Em contraste, em 10 de outubro de 2023, a organização publicou uma reportagem com a manchete “Festival Supernova: Como o massacre se desenrolou a partir de vídeos verificados e mídias sociais”.
Em comparação, semanas após o início da guerra na Ucrânia, a cobertura online da BBC identificou claramente crimes de guerra cometidos pela Rússia, mesmo sem decisões oficiais de tribunais internacionais. “Evidências horríveis apontam para crimes de guerra em estrada fora de Kiev”, dizia uma manchete 36 dias após a intervenção. Após 7 de outubro, pretensos crimes de guerra cometidos pelo Hamas foram tratados como fatos objetivos que não exigiam veredito legal: “Comunidade israelense congelada enquanto atrocidades do Hamas continuam a emergir”. Quando evidências fortes mostram de forma semelhante “israel” cometendo atrocidades, a mesma orientação editorial não se aplica.
Um dos pontos mais polêmicos levantados na reportagem de Owen Jones, no Drop Site News, foi a cobertura do bombardeio ao hospital Al-Ahli em outubro de 2024, que deixou centenas de mortos. A BBC inicialmente destacou narrativas “israelenses” que atribuíam a responsabilidade ao Hamas, antes de reavaliar suas afirmações diante de evidências contraditórias. Para críticos, o episódio exemplifica um padrão de “confiança excessiva” em fontes oficiais “israelenses”, em detrimento de relatos independentes e de testemunhas locais.
Em março de 2024, o Centre for Media Monitoring, um grupo de vigilância estabelecido pelo Muslim Council of Britain, lançou “Media Bias: Gaza 2023-24”, um documento de 150 páginas detalhando inúmeras alegações contra as reportagens da BBC sobre “israel” e Gaza. Isso incluiu a eliminação de contextos como a ocupação “israelense” da Palestina e o cerco de Gaza, uso muito maior de linguagem emotiva para descrever o sofrimento ou as mortes “israelenses” do que quando as vítimas são palestinas e um padrão de que a posição da BBC “tem sido frequentemente a de empurrar a linha [editorial] israelense enquanto lança dúvidas sobre as vozes pró-palestinas”.
O diretor de Oriente Médio do site da BBC, Raffi Berg, jornalista judeu britânico, é tido como um dos responsáveis pela censura à verdade sobre o genocídio na Palestina. Antes de entrar na BBC, ele foi diretor do U.S. Foreign Broadcast Information Service, um veículo de fachada da CIA. Também participou de protestos em defesa do genocídio contra os palestinos muito antes do 7 de outubro e escreveu um livro pró-“israel” considerado pelos próprios agentes do Mossad como enviesado. Suas reportagens sobre a Palestina e “israel” na BBC são consideradas como pura propaganda “israelense” por colegas, que denunciam como o seu controle da linha editorial da BBC é crucial para que o site da emissora distorça os acontecimentos na Palestina.
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Um funcionário acredita que a BBC tem procurado, em grande parte, alinhar seu jornalismo com a política externa do governo do Reino Unido. No que diz respeito aos altos escalões, “Israel é tratado como Ucrânia, os palestinos como Rússia”, disse o funcionário. Se um jornalista tenta desafiar os padrões duplos aplicados à Rússia e à Ucrânia, os gerentes ficam perplexos, tratando Ucrânia e “israel” como aliados britânicos. “Veja as manchetes sobre o que a Rússia faz na Ucrânia. Mas as manchetes sobre Gaza são geralmente totalmente obscuras e nunca deixam claro que Israel foi o perpetrador.”
No entanto, mesmo nos casos em que o governo do Reino Unido permitiu a dissidência, a BBC se agarrou amplamente à narrativa sionista.
Em janeiro, o Tribunal Internacional de Justiça emitiu ordens provisórias a “israel” para “tomar medidas imediatas e eficazes para permitir o fornecimento de serviços básicos e assistência humanitária urgentemente necessários” para proteger os palestinos em Gaza do risco de genocídio. Mas não apenas os artigos on-line da BBC sobre a fome deixam de mencionar isso, mas também deixam repetidamente de detalhar as ações que estão sendo tomadas por “israel” para bloquear a ajuda.
Isto apesar do fato de que David Cameron, o então secretário de Relações Exteriores, escreveu uma carta em março para Alicia Kearns, presidente do comitê de relações exteriores da Câmara dos Comuns, descrevendo várias maneiras pelas quais “israel” estava impedindo a entrada de ajuda em Gaza. Até mesmo o enfaticamente pró-sionista Jewish Chronicle publicou a manchete condenatória: “David Cameron condena Israel por bloquear arbitrariamente a ajuda a Gaza”. O site da BBC não relatou a carta de Cameron.
De acordo com o monitor de mídia Press Gazette, o site de notícias da BBC, que inclui conteúdo noticioso e não noticioso, é o site de notícias mais visitado da internet. Somente em maio, ele teve 1,1 bilhão de visitas, superando o segundo colocado msn.com, que teve 686 milhões de visitas.
O papel da DW
Na Alemanha, a Deutsche Welle também enfrenta escrutínio. Um artigo publicado na Al Jazeera por Jad Salfiti, que trabalhou como freelancer para a DW entre 2016 e 2018, trouxe à tona depoimentos de funcionários e ex-funcionários da emissora, que acusam a DW de alinhar-se à narrativa oficial do governo alemão, historicamente favorável a “israel”. Segundo as denúncias, jornalistas foram instruídos a evitar terminologias que pudessem ser interpretadas como “antissemitas” (como “sionistas” e “israelenses”) ao reportar as operações militares do regime de Tel Aviv, ao mesmo tempo em que a islamofobia e desumanização de palestinos é expressa livremente por funcionários da direção da TV estatal alemã. Tal diretriz teria levado à autocensura, impedindo uma análise mais crítica das consequências humanitárias em Gaza.
Funcionários também relataram casos de represálias internas contra aqueles que tentaram abordar a questão palestina de forma mais contundente. Um ex-jornalista da DW, sob condição de anonimato, afirmou que “qualquer tentativa de contextualizar a violência israelense como parte de um processo sistemático de ocupação e apartheid era imediatamente descartada como parcial”.
Um documento de planejamento para o aniversário do genocídio atual, em um momento em que pelo menos 42.000 palestinos haviam sido mortos, incluindo 17.000 crianças, tinha a frase a frase: “O foco deve ser no ataque terrorista a Israel, mas histórias que tratam da guerra em Gaza também podem ser publicadas neste dia.”
A introdução ao documento oferece um breve resumo, afirmando que o ocorrido de 7 de outubro em “israel” foi “o pior ataque terrorista de sua história”. Sobre o número de mortos em Gaza, ele dizia apenas: “De acordo com a ONU, mais de 40.000 palestinos foram mortos até o momento.”
“A sensação de pressão era constante”, disse Martin Gak, que já deixou a rede após trabalhar por 10 anos na Deutsche Welle como correspondente de assuntos religiosos e produtor sênior do programa de entrevistas políticas Conflict Zone, que frequentemente cobre “israel”-Palestina.
“Há uma sensação constante de medo com (a equipe sênior) olhando para as coisas que você estava escrevendo com enorme cuidado, quase paranoia”, disse Gak, que é argentino e judeu. “Do ponto de vista jornalístico, a Deutsche Welle enche a boca com grandes conceitos como liberdade de imprensa, liberdade de expressão, liberdade de consciência. E está claro que isso está sendo usado apenas como enxaguatório bucal.”
A Deutsche Welle foi fundada e é financiada pelo governo alemão desde 1953.
Censura prévia na DW
Entrevistas ao vivo parecem ser uma preocupação particular para a gerência.
Em 16 de outubro do ano passado, um líder sênior de redação enviou um e-mail para os produtores que agendam as entrevistas com convidados explicando que, como a rede não quer comentários antissemitas “não contestados” no ar, “preferimos pré-gravar entrevistas com vozes palestinas neste momento”.
O e-mail dizia: “Se não sabemos a posição de um convidado e/ou tememos que a opinião possa ser extrema (pró-Hamas, antissemita, antisionista…), devemos nos ater a pré-gravações para verificar antes da transmissão”.
Se uma voz foi considerada “bastante moderada”, como um convidado que “condena ataques terroristas”, e um produtor executivo ou âncora acredita que pode “lidar com isso e desafiar comentários problemáticos, podemos ir ao vivo”, concluiu o e-mail.
No documento apresentado como um “guia rápido para pessoas se preparando para situações de vida potencialmente desafiadoras”, a Deutsche Welle recomenda que os âncoras respondam aos convidados que acusam “israel” de crimes de guerra com algo como: “Você não é a única (pessoa) a alegar isso — mas Israel diz que está agindo de acordo com o direito internacional humanitário. ‘Crime de guerra’ é um termo legal — uma resposta conclusiva a isso só pode ser dada pelo Tribunal Internacional de Justiça.”
Se um convidado comparar Gaza a um campo de concentração ou disser que a guerra de “israel” é semelhante a um segundo holocausto, o documento diz que um apresentador pode responder: “Esses termos são incrivelmente sensíveis, especialmente aqui na Alemanha, onde são vistos como banalizando o Holocausto. Existem outras avaliações também — você pode ser mais específico no que está criticando?”
Em 22 de maio, quando mais países ocidentais apoiaram o reconhecimento do Estado Palestino, a Deutsche Welle interrompeu a jurista palestina-americana Noura Erakat logo após ela se referir ao apartheid e ao genocídio cometidos por “israel”.
O apresentador interrompeu Erakat uma vez para dizer que esses termos são “altamente contestados e, claro, rejeitados por Israel”. O apresentador então encerrou a conversa abruptamente quando Erakat pediu um boicote contra “israel” para acabar com o “genocídio transmitido ao vivo”.
“Vamos ter que deixar isso aí”, disse o apresentador, enquanto Erakat continuava falando, suas palavras inaudíveis para o público.
A ONG Repórteres Sem Fronteiras afirma que “repórteres que buscam mostrar o sofrimento dos palestinos ou lançar luz sobre a guerra israelense, assim como jornalistas que cobrem tópicos sobre comunidades judaicas na Alemanha atualmente vivenciam um clima de trabalho muito tenso e hostil”.
“Nos últimos meses, muitos profissionais de mídia, especialmente com histórico de imigração, também contataram a organização com acusações de que um clima de medo e autocensura prevalece nos meios de comunicação alemães.”
De acordo com o jornalista e crítico de mídia alemão Fabian Goldmann, a liberdade de expressão na Alemanha é prejudicada por “campanhas de difamação eficazes” contra aqueles que condenam “israel”. “Se você trabalha para emissoras públicas, é atacado com frequência”, disse.
Publicações como o Bild, o tabloide alemão de direita, “colocam você na capa… há muitos casos de profissionais da mídia alemã que perderam seus empregos após essas campanhas de difamação”, afirmou Goldmann.
Fonte: Fepal