Somadas, as penas de Antônio José de Abreu Vidal Filho, Marcus Vinícius Sousa da Costa, Wellington Veras Chagas e Ideraldo Amâncio superam 1,1 mil anos. Outros 16 réus serão julgados no Ceará ainda este ano
Os policiais militares Antônio José de Abreu Vidal Filho, Marcus Vinícius Sousa da Costa, Wellington Veras Chagas e Ideraldo Amâncio foram condenados na madrugada deste domingo (25), em Fortaleza, por 11 homicídios qualificados consumados, três homicídios qualificados na forma tentada, além de três crimes de tortura física e um de tortura mental cometidos na chamada Chacina do Curió. Somadas, as penas chegam a 1.103 anos e 8 meses de reclusão, com regime inicial de cumprimento fechado. Foi, ainda, determinada a imediata prisão provisória dos quatro bem como a perda do cargo de policial militar. Os condenados podem entrar com recurso.
A Chacina do Curió ocorreu na noite e madrugada dos dias 11 e 12 de novembro de 2015 em nove locais da Grande Messejana, em Fortaleza. As 11 vítimas fatais eram do sexo masculino e a maioria com menos de 18 anos. Segundo investigação do Ministério Público do Estado do Ceará, os crimes foram cometidos pelos policiais militares horas depois da morte de um colega de corporação, o soldado Valtermberg Chaves Serpa, assassinado após reagir a um roubo contra a esposa dele.
Foram assassinados pelos PMs Alef Sousa Cavalcante, 17 anos; Antônio Alisson Inácio Cardoso, 17; Francisco Enildo Pereira Chagas, 41; Jandson Alexandre de Sousa, 19; Jardel Lima dos Santos, 17; José Gilvan Pinto Barbosa, 41; Marcelo da Silva Mendes, 17; Patrício João Pinho Leite, 16; Pedro Alcântara Barroso, 18; Renayson Girão da Silva, 17; e Valmir Ferreira da Conceição, 37.
Vitória do povo periférico
No julgamento, realizado no Fórum Clóvis Bevilaqua desde terça (20), os sete jurados acataram integralmente a tese do MP, responsável pela denúncia dos acusados. Outros 16 réus do processo ainda serão julgados em sessões marcadas para agosto e setembro deste ano.
“Essa vitória é da nossa periferia, é do nosso povo periférico, é dos nossos jovens. É libertar os jovens das mortes, é libertar esses jovens das mortes”, afirmou Edna Carla Souza Cavalcante, a mãe de Alef Sousa Cavalcante, de acordo com o Diário do Nordeste. “Ainda não está tudo resolvido porque tem os outros (policiais) né? Mas, sim, é uma alegria. É uma alegria, sim, porque a gente não quer o mal da polícia. A gente quer apenas a condenação de quem praticou um crime bárbaro com onze pessoas e deixou sete feridos.”
Manuel Pinheiro, procurador-geral de Justiça do Ceará, também se pronunciou. “A justiça foi feita no caso concreto, com uma condenação bem fundamentada na prova dos autos. Essa sentença é a realização da justiça, é a resposta civilizada para a barbárie que foi a Chacina do Curió. A justiça não apaga a dor dessas famílias, mas ela traz paz, paz no presente e paz no futuro para essas comunidades que viveram tanto tempo sob os signos da incerteza e do medo.”
Chacina de Curió
A morte de Valtermberg Chaves Serpa repercutiu rapidamente nas redes sociais com os PMs falando em vingança. Segundo a denúncia do MP, os acusados planejaram uma ação impactante, com divisão de tarefas, que começou pela procura de alvos preferenciais. Queriam uma retaliação a qualquer custo, pouco importando se as vítimas tinham, ou não, relação com aquele ou qualquer evento criminoso.
Os executores, sempre de acordo com o Ministério Público do Ceará, escolheram as vítimas aleatoriamente, resultando na morte e ofensa à integridade física e mental de pessoas inocentes. Além disso, A Chacina de Curió ocorreu com os envolvidos tentando encobrir vestígios dos crimes e imaginando que as vítimas não tinham a quem recorrer, já que se tratava de uma ação coordenada por agentes da lei, especificamente da segurança pública.
Fonte: Rede Brasil Atual