Com seus jalecos e camisas laranja, petroleiros e petroleiras de todos os cantos do Brasil ocuparam a Câmara dos Deputados Federais nesta terça-feira, 12, e lotaram o Auditório Nereu Ramos, durante um ato histórico, em defesa da soberania, com participação massiva de parlamentares do PT, PCdoB, PSOL, Rede, PV, PSB e outros partidos do campo democrático.
O ato foi organizado pelas Frentes Parlamentares Mistas de Defesa da Soberania Nacional, de Defesa da Petrobrás e de Defesa do Serviço Público, com apoio dos 18 sindicatos de petroleiros que integram a FUP e a FNP, da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), da CUT e de outras categorias do setor público.
Os trabalhadores protestaram contra as manobras de Bolsonaro que, ao apagar das luzes de seu desgoverno, acelera a venda das refinarias do Sistema Petrobrás e ameaça enviar ao Congresso Nacional projeto de lei para privatizar de vez a empresa, nos mesmos moldes do que fez com a Eletrobras. Além disso, o presidente da República, através do PL 1583/2022, quer se apropriar dos recursos do Fundo Social do Pré-Sal que são destinados ao financiamento da educação e da saúde pública, propondo desvincular o fundo das políticas sociais.
Com mais de três horas de duração, o ato na Câmara mobilizou dezenas de deputados e deputadas federais, senadores, sindicatos, movimentos sociais e estudantes, que reforçaram a importância do resgate da soberania nacional para a reconstrução do Brasil.
A reestatização da Eletrobrás, o resgate do Sistema Petrobrás, o fortalecimento das empresas estatais e do serviço público foram a tônica do debate. Os parlamentares reforçaram a urgência de eleger Lula no primeiro turno da eleição presidencial, garantindo nas urnas um governo popular e democrático, que tenha de fato como compromisso o resgate da dignidade do povo brasileiro e a reconstrução do país.
Antes da abertura das falas das lideranças, dois vídeos institucionais da FUP e da FNP foram exibidos para o público, denunciando os impactos do desmonte do Sistema Petrobrás e da política de preços de derivados de petróleo, adotada pelas gestões privatistas desde 2016, com base nos preços internacionais e nos custos de importação. Essa política fez o preço dos combustíveis explodir no Brasil, mesmo o país sendo autossuficiente na produção de petróleo e tendo refinarias capazes de produzir derivados a preços justos para a população.
O coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, afirmou que, entre as propostas que os petroleiros apresentaram para o plano de governo de Lula está a reestatização das refinarias que já foram e estão sendo privatizadas pelo governo Bolsonaro e a reestruturação da Petrobrás como empresa integrada de energia, para que volte a ser a principal indutora do desenvolvimento do país.
Ele reforçou a necessidade da Petrobrás voltar a ocupar posição de destaque no mercado nacional de distribuição e comercialização de combustíveis. “O governo Bolsonaro vendeu a BR Distribuidora, a Liquigás, a Gaspetro, os nossos gasodutos. Todo esse sistema precisará ser retomado para termos preços justos para a população brasileira e garantirmos o abastecimento nacional”, afirmou Bacelar, destacando também a importância da Petrobrás retomar as fábricas de fertilizantes nitrogenados. “É inadmissível nós termos um Brasil que importa de 85% a 90% de todos os fertilizantes que necessita”, reforçou.
O coordenador da FUP também alertou os parlamentares que, se o governo Bolsonaro enviar ao Congresso Nacional qualquer projeto de lei para privatização a Petrobrás, a categoria petroleira responderá com greve, informando sobre a decisão dos trabalhadores nas assembleias. “Estamos aqui para dizer a Lira que ele e o governo federal irão enfrentar a maior greve da história da categoria petroleira, se tiverem a ousadia de tentar privatizar a Petrobrás”.
O deputado federal Patrus Ananias (PT/MG), presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Soberania Nacional, enfatizou que o ato em defesa da Petrobrás faz parte da mesma luta dos demais trabalhadores que se levantam “contra outras privatizações que colocam o Brasil como um país cada vez mais dependente, que não firmou ainda a sua soberania”.
Ao fazer referência aos 200 anos de independência que o Brasil irá comemorar em setembro, Ananias questionou: “Nós somos de fato um país independente? Em um país com tantas riquezas e potencialidades como o Brasil, é razoável que tenhamos mais de 100 milhões de compatriotas vivendo sob a insegurança alimentar? É soberano um país que entrega o seu petróleo e as suas riquezas? É esse o debate que precisamos fazer e esse encontro aqui hoje tem essa dimensão histórica”, afirmou o parlamentar.
O coordenador da FNP, Adaedson Costa, afirmou que os desafios que o Brasil enfrenta são imensos e destacou que não basta a Petrobrás ser a maior empresa do país, se o povo continuar passando fome. “Toda a riqueza gerada pelos trabalhadores tem que servir para diminuir as desigualdades do país. Nós somos a força que produz o orgulho e a riqueza desse país e nós vamos ser a força que vai produzir e mudar esse país, para que seja um país sem fome, um país que tenhamos orgulho de viver”, afirmou o petroleiro.
O professor Roberto Franklin Leão, presidente em exercício da CNTE, ressaltou que o “ato mostra a unidade da classe trabalhadora brasileira” e destacou a importância da luta em defesa dos recursos do pré-sal para a educação. “Quando o pré-sal foi descoberto, acreditamos que ele seria o passaporte do futuro do Brasil, mas não existe futuro sem educação e sem saúde pública. Sem o fundo social, teremos um grande golpe no financiamento dessas políticas públicas essenciais para o funcionamento do país com dignidade”, afirmou.
O presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Petrobrás, senador Jean Paul Prates (PT/RN), chamou atenção para a importância da resistência dos petroleiros. “Estamos diante de uma ideologia que não é contra somente à soberania do Brasil. É uma ideologia contrária à Petrobrás, o que querem é tirar os pés da empresa do mercado, como fizeram com a BR”, afirmando que é importante que os petroleiros continuem na resistência, apontando para o auditório lotado de trabalhadores e trabalhadoras com jalecos laranja. “Essa mobilização é extraordinária. Vocês não têm ideia da importância que cada um de vocês tem nesse processo de resistência”, afirmou o senador.
Ainda nesta terça-feira, 12, à noite, os dirigentes sindicais petroleiros que estão em Brasília participaram de mais um ato do movimento “Vamos juntos pelo Brasil”, com participação de Lula, no Centro de Convenções Ulysses Guimaraes.
Na quarta, 13, pela manhã, a FUP e seus sindicatos realizam mais uma ação solidária de subsídio de botijões de gás para famílias em situação de vulnerabilidade social. A ação será às 07h, na cidade satélite de São Sebastião. Cerca de 100 botijões de gás de cozinha serão disponibilizados a R$ 50 cada um, valor que corresponde a menos da metade do preço praticado no mercado.
Fonte: Sindipetronf