Universidade reconheceu ‘gravidade do conflito’ e cedeu a pressão dos estudantes que rechaçaram o 2º Innovation Challenge Brasil-Israel, edital que previa troca de informações tecnológicas com Tel Aviv
A Universidade Federal do Ceará (UFC) anulou nesta segunda-feira (08/01) o edital do programa 2° Innovation Challenge Brasil – Israel, uma parceria com a Universidade Ben-Gurion, em Berseba, que previa a integração de estudantes de graduação e pós-graduação das instituições na troca de informações.
A federal disse que reconheceu a “gravidade do conflito” em que Israel ataca diariamente Gaza, matando mais de 22 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde da Palestina. Ainda de acordo com a reitoria, a universidade se coloca “firmemente contra a guerra e indigna-se com todas as perdas humanas e a destruição ocorridas”.
“Também defende a garantia dos direitos humanos das populações atingidas naquela região”, disse.
A decisão ocorreu após pressão dos estudantes da universidade para a revogação do edital. Em nota, movimentos de juventude declararam ser “lamentável e uma vergonha que, na contramão da crescente onda mundial de repúdio a um dos maiores banho de sangue da história recente, promovido por Israel contra o povo palestino, a UFC divulgue esse tipo de parceria”.
Já a secretária de juventude da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL) e diretora de políticas educacionais da União Nacional do Estudantes (UNE), Maynara Nafe, declarou a Opera Mundi que houve aumento significativo em investimentos israelenses dentro das universidades brasileiras, que, segundo a ativista palestina, tem a finalidade de “aumentar o soft-power” de Israel.
Nafe relembrou o caso da IV Feira das Universidades Israelenses na Unicamp, que foi realizada em abril de 2023, que reuniu as principais instituições de Israel para se apresentarem diante do público universitário e acadêmico brasileiro.
À época, organizações estudantis e palestinas convocaram um ato no mesmo dia do evento para prestar solidariedade ao povo palestino e reivindicar o rompimento de todas as relações da Unicamp com o regime de Israel. Ativistas palestino-brasileiros alertaram que as universidades israelenses têm envolvimento direto com o Exército de Israel no desenvolvimento tecnológico de armas, táticas e pelos equipamentos de monitoramento utilizados no muro ilegal da Cisjordânia.
Nafe delineia que o boicote acadêmico de Israel – de suas universidades, publicações e eventos acadêmicos – é fundamental para deixar claro o papel que essas instituições desempenham na colonização da Palestina.
Leia na íntegra a nota da UFC:
A Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC) informa à comunidade acadêmica e sociedade que o edital do 2º Innovation Challenge Brasil-Israel foi revogado.
Embora a atividade seja estritamente acadêmica e fruto de uma parceria de longa data, bem como a articulação para promovê-la tenha sido realizada antes da deflagração dos conflitos atuais, a Instituição admite que houve um erro de avaliação na manutenção do calendário, diante da conjuntura política na Faixa de Gaza.
A UFC reconhece a gravidade do conflito, coloca-se firmemente contra a guerra e indigna-se com todas as perdas humanas e a destruição ocorridas. Também defende a garantia dos direitos humanos das populações atingidas naquela região.
Por fim, lamenta profundamente a emergência de conflitos bélicos e seus impactos, inclusive na vida acadêmica de instituições de ensino e pesquisa, tanto no Brasil quanto no exterior.
Fonte: Ópera Mundi