Natércia Lopes – Professora da Uneal e da Semed Maceió




Já não se pode confiar em ninguém se o poder é organizado como uma máquina funcionando de acordo com engrenagens complexas, em que é o lugar de cada um que é determinante, não sua natureza. […] trata-se de um aparelho de desconfiança total e circulante, pois não existe ponto absoluto (FOUCAULT, 2013, p. 332 – 333).

Quem está no poder tem a capacidade de influenciar e fazer com que as pessoas ajam de acordo com seus interesses. Para Weber (1995), os motivos que levam pessoas tida como esclarecidas a se sujeitarem aos caprichos de seus superiores vão desde a obtenção de vantagens particulares que se sobrepõem aos interesses do coletivo até a prática inveterada de se oprimir, ratificando Beauvoir (2005, p. 82), “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”.

Mesmo as instituições públicas tendo como prerrogativa zelar pelos princípios constitucionais: equidade e respeito à igualdade de direitos, elas não escapam desta realidade. Nem mesmo as instituições públicas de ensino, vistas como espaços de transformação social, estão afastadas destas práticas.

Para se manter no controle, de acordo com Weber (1995), alguns gestores usam da violência simbólica e até da violência física com o intuito de dominar, ou seja de encontrar obediência às suas ordens. A violência simbólica se apresenta de forma mais sutil. Nestas os indivíduos tentam persuadir outros a partir de uma ideia de poder desapercebida e naturalizada, um poder baseado na conveniência e que mascaram uma violência velada. O poder simbólico, para Bourdieu (2007, p. 14), é o poder de produzir o dado através da “enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e, desse modo, a ação sobre o mundo, portanto o mundo, poder quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômica)”.

Mas por que dentro de ambientes educativos, existem situações como estas? Para Foucault (2013), todos os grupos desenvolvem desejo de poder, a conquista da capacidade de disciplinar o saber orienta as ações dos grupos sociais e impulsionam diversos conflitos. Bourdieu (1983, p. 8), traz que “As teorias e as escolas, como os micróbios e os glóbulos, se devoram entre si e com sua luta asseguram a continuidade da vida”, a partir do momento que um grupo manifesta o desejo de poder, criam-se instrumentos para que suas vontades sejam atendidas, daí vem o uso da violência simbólica como forma de garantir suas vontades.

Os grupos que exercem a dominação buscam disciplinar o saber, ou seja, impor suas narrativas que se sobrepõem aos corpos excluídos, silenciados e invisibilizados. Porém, embora exista uma força aparentemente mais poderosa pelo cargo que ocupa, não significa que todos os grupos vão respeitar as imposições dessas hierarquias imaginárias.

Romper com esse ciclo de cabresto gera um conflito que vai nortear as disputas entre os diversos grupos. É uma ação necessária, mas que depende de um olhar vigilante, atento, e de discernimento. É preciso pensar formas de atuação que combatam práticas violentas, afinal as instituições de ensino devem se constituir como espaços democráticos e plurais de interação.

BEAUVOIR, Simone. Por uma moral da ambiguidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

BOURDIEU, Pierre. Campo de poder, campo intelectual. Buenos Aires: Folios, 1983. _______. O poder simbólico. 10 ed. Rios de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. São Paulo: Ed. Graal, 2013

WEBER, Max. Metodologia das Ciências Sociais. Parte 2. 2 ed. São Paulo: Ed. Cortez, 1995

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