PF suspeita que Carlos Bolsonaro usava assessores para obter informações da “Abin paralela” sobre investigações envolvendo a própria família
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) deixaram a casa de praia da família, em Angra dos Reis (RJ), momentos antes do cumprimento, pela Polícia Federal (PF), do mandado de busca e apreensão na manhã desta segunda-feira (29). A ação dá continuidade à Operação Vigilância Aproximada, deflagrada na última quinta (25), para apurar um esquema de espionagem ilegal na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro.
A PF apreendeu, no final da manhã, o celular de Carlos Bolsonaro e mais três computadores que estavam na residência. Quando os policiais chegaram, encontraram apenas o assessor de Bolsonaro, que não estava incluído na busca e apreensão. E foram informados que Bolsonaro, os filhos e outros assessores saíram às 5h50 de lancha e jet ski.
Uma segunda equipe da PF chegou de helicóptero ao local. Bolsonaro retornou do suposto passeio com os filhos às 11h. Foi então que os policiais apreenderam o celular de Carlos Bolsonaro e o computador do vereador.
Mais cedo, o portal g1 chegou a afirmar que os policiais também teriam apreendido um computador da Abin, encontrado entre os pertences de Carlos Bolsonaro. Posteriormente, o portal anunciou uma correção: na verdade, a PF encontrou um computador da Abin na casa do militar Giancarlo Gomes Rodrigues. Ele também é alvo da operação e ex-assessor do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que chefiou a Abin. A mulher desse militar é servidora da agência.
Versão em xeque
Fabio Wajngarten, advogado e assessor de Jair Bolsonaro, negou que o ex-presidente e os seus filhos tivessem fugido de lancha. Os investigadores, no entanto, suspeitam que Carlos e os demais deixaram a residência para dificultar o cumprimento da busca e apreensão. Podem, inclusive, terem utilizado o passeio para eliminar provas.
Entretanto, a versão de Wajngarten é pouco crível. Isso porque a PF suspeita que Carlos Bolsonaro usava assessores para solicitar informações de forma ilegal por meio da Abin. Em uma das mensagens obtidas pelos investigadores, uma das assessoras de Carlos entra em contato com uma assessora da Ramagem para solicitar “ajuda ” da “Abin paralela”. Ela solicitou informações sobre as investigações contra Jair Bolsonaro e filhos.
Além disso, chama a atenção uma postagem de Jair Bolsonaro nas redes sociais. Ainda na véspera da operação contra Ramagem, na semana passada, o ex-presidente publicou mensagem dizendo que “as próximas semanas poderão ser decisivas” e que “vivemos momentos difíceis, de muitas dores e incertezas”.
De acordo com a jornalista Andreia Sadi, também do g1, fontes da PF suspeitam que Bolsonaro continuou a receber informações da Abin, mesmo após deixar a presidência. Nesse sentido, ele pode ter tido acesso antecipado às informações das operações contra Ramagem e contra o vereador Carlos Bolsonaro.
Falhas na Abin preocupam
No programa Onze News, da TVT, o ex-deputado federal José Genoino classificou o escândalo da “Abin paralela” como o mais grave, desde a tentativa de golpe bolsonarista em 8 de janeiro. Nesse sentido, ele destaca que, durante reunião ministerial em 2020, Bolsonaro afirmou que possuía um sistema de inteligência “particular”.
“E me desculpe o serviço de informação nosso – todos – é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado”, disse o presidente, durante queda de braço com o então ministro Sergio Moro, que resistia em mudar o comando da PF. Por sua vez, Bolsonaro tentava, naquele momento, trazer Ramagem da Abin para a PF. A mudança foi barrada pelo ministro Alexandre de Moraes, que alegou desvio de finalidade na nomeação de Ramagem.
“Tudo indica que durante algumas operações, a Abin tentou, vamos dizer assim, enfraquecer essas investigações já no nosso governo, no governo do presidente Lula”, afirmou Genoino. Ele defende mudanças nas leis que regulamentam a agência de inteligência. O ex-deputado criticou, por exemplo, a participação de Ramagem na Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI), que fiscaliza as ações da Abin e demais órgãos de inteligência. “A Abin tem que ser uma agência de Estado. E eles transformaram Abin num centro de arapongagem.”
Fonte: Rede Brasil Atual