Justiça decretou a prisão de Roberta Serme, mas ela fugiu. Vídeos mostram crianças chorando e presas com ‘camisa de força’ no banheiro, próximas à privada. Mães revelam que filhos apresentam traumas. Investigação também pediu a reabertura de outros inquéritos envolvendo a diretora, inclusive um sobre a morte de uma bebê de 3 meses na escola
O Tribunal de Justiça de São Paulo determinou na segunda-feira (21/3) a prisão preventiva da diretora e proprietária da Escola de Educação Infantil Colmeia Mágica, Roberta Regina Rossi Serme, de 40 anos. A mulher não conseguiu ser encontrada pela Polícia e é considerada foragida.
Roberta Serme é investigada por suspeita de maus-tratos, periclitação de vida, que é colocar a saúde das crianças em risco, submissão delas a vexame ou constrangimento e tortura.
Vídeos que começaram a circular neste mês nas redes sociais mostram bebês amarrados com lençóis e chorando num banheiro da escolinha. As crianças aparecem com os braços imobilizados, presas em cadeirinhas de bebês embaixo de uma pia e próximas a uma privada. A Colmeia Mágica foi fundada em 2002 e atende crianças 0 a 5 anos, do berçário ao ensino infantil.
Num áudio gravado por uma das mães de alunos durante reunião com os pais das crianças na escolinha, no último dia 11 de março, a diretora havia se defendido, dizendo: “Denúncia completamente descabida e com coisas sem contexto”.
Em outras ocasiões, André Dias, advogado da diretora, chegou a negar à imprensa que sua cliente tenha amarrado ou mandado amarrar os bebês. Alegou ainda que alguém de dentro da escola, possivelmente alguma funcionária descontente, forjou a cena para prejudicar a direção.
Foi a Polícia Civil que pediu a prisão de Roberta. O Ministério Público concordou com o pedido e a Justiça a decretou, expedindo o mandado de prisão temporária de 30 dias. Ainda na terça policiais foram até a casa da diretora e outros dois endereços ligados a ela para tentar prendê-la, mas a mulher não estava nos locais.
Procurado nesta quarta para comentar o assunto, o MP informou por meio de nota que “as investigações prosseguem” e que não poderia dar mais detalhes porque “o caso corre em segredo de Justiça”.
Os vídeos das crianças amarradas e chorando chegaram à investigação há três semanas, quando foi aberto inquérito para apurar a denúncia e tentar identificar eventuais responsáveis pelos crimes.
Professoras que prestaram depoimentos na delegacia que investiga o caso disseram que eram orientadas por Roberta a amarrar os bebês no banheiro para eles não serem ouvidos chorando por quem passava pela rua. Há relatos de testemunhas de que a própria diretora amarrava os bebês.
Além das filmagens e depoimentos da professoras e funcionárias, mães contaram aos policiais que seus filhos chegavam em casa com ferimentos pelo corpo. Um deles chegou a ser internado por dois dias com falta de ar em 2021. As fotos das lesões e internação da criança foram encaminhadas à polícia para análise.
As investigações ainda levantaram pelo menos mais três boletins de ocorrência de casos envolvendo a escola ou a diretora. A Polícia pediu a reabertura de um inquérito de 2010, quando uma bebê de 3 meses morreu após sofrer parada cardiorrespiratória no berçário da creche. O caso foi investigado como “morte suspeita” e arquivado pela Justiça à época depois que o laudo necroscópico indicou que ela morreu por “broncoaspiração”.
Além desse caso, um registro policial de 2014 feito como “vias de fato” também foi arquivado. À época a mãe de um aluno de 2 anos acusou Roberta de arranhar seu filho no rosto e as duas acabaram brigando. A mãe ainda gravou um vídeo do menino dizendo que a diretora o havia agredido. Em 2017, Roberta foi acusada por uma adolescente de 14 anos de xingá-la na rua.
Fonte: Pragmatismo Politico