Argélia – artigo publicado em “Fraternité”, nº 127, por  R. Y. Tazibt

Desde sábado, na cidade de Jijel (norte da Argélia), ocorrem manifestações à noite, contra o toque de recolher e as medidas de confinamento a partir das 20h. Houve confrontos com a polícia. Estas revoltas da juventude são o produto direto da dramática situação vivida pelos jovens em particular, uma situação de precariedade, miséria, desemprego e repressão contra as liberdades democráticas.

Em resposta à queda dos preços do petróleo em 2015, os diversos governos, antes e depois do presidente destituído, Abdelaziz Bouteflika, adotaram uma política de austeridade que não poupou nenhum setor.

Além do congelamento dos planos de recrutamento e dos salários, houve a redução drástica dos orçamentos, impostos a todos os setores. Esta política tem provocado a descida ao inferno para amplas camadas da sociedade, levando à explosão da taxa de desemprego, com sinais de grave crise social.

A perda do poder de compra e a generalização da pobreza com sua parcela de infortúnios (haraga (1), mendicância, desnutrição etc.) provocam raiva, indignação e mobilizações em todo o país. A gestão da pandemia Covid-19 pelo governo, que ordenou o fechamento da maioria das atividades econômicas, comerciais e socioculturais, causou um verdadeiro tsunami, afundando na miséria milhões de trabalhadores e suas famílias.

O caráter social do Estado, principal conquista da independência nacional, é atacado com incrível violência. As privatizações, interrompidas por dez anos, estão de volta à mesa. O ministro do Planejamento que diz que o “governo não tem painel de controle”, fez várias declarações anunciando o “desmonte do setor público”. Como resposta aos gritos de angústia dos trabalhadores que há meses estão sem salário, o ministro da Indústria tem apenas o projeto de retomada da parceria público/privada, que sempre foi uma política de pilhagem do patrimônio público.

O ministro das Finanças, por sua vez, anunciou o fim do sistema de subsídios do Estado até, no mais tardar, no segundo semestre deste ano, de acordo com o “parecer” do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. Milhões de argelinos estão mergulhados no caos social, sem salários, demitidos de seus empregos.

Setenta mil comerciantes e artesãos fecharam as portas, centenas de milhares de pequenas e microempresas estão à beira da falência. Dezenas de empresas públicas, como Eniem, Enad, German, Sider etc., estão sufocadas pelas dívidas e pela falta de medidas de proteção, preparando assim o terreno para sua liquidação e para a destruição de empregos em um país onde a taxa de desemprego subiu oficialmente mais de cinco pontos em cinco anos, passando de 10 para 15,3%.

Nada menos que cem mil graduados universitários entram no mercado de trabalho a cada ano com chances quase nulas de encontrar um emprego de verdade com um salário real. São setores inteiros da juventude que se encontram em um total desalento.

Como mostram as inúmeras mobilizações de trabalhadores do setor econômico e do serviço público, as argelinas e os argelinos que foram às ruas aos milhões por uma mudança radical do sistema recusam-se a morrer à míngua.

A manutenção da mão de ferro pelo ciclo de libertações/intimações e condenações de ativistas, sindicalistas e militantes visa criar um clima de terror a fim de evitar a mobilização contra o curso liquidador de tudo o que foi construído desde a independência.

Ao mobilizar-se e organizar a defesa das empresas públicas, dos serviços públicos, das escolas, das universidades, os trabalhadores e a juventude defendem as bases materiais da nação. Eles defendem o seu direito de viver livremente e dispor de todos os seus direitos políticos, socioeconômicos e culturais.

A unidade de ação UGTA-Snapap, imposta pelos trabalhadores do âmbito do Ministério do Comércio, mostra o caminho a ser seguido para deter a guerra social lançada pelo governo contra as aquisições e conquistas da revolução de 1954.
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(1) Este termo argelino designa a emigração ilegal através do Mediterrâneo.

Tradução Adaias Muniz

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