Mais pobres são os mais atingidos pela queda generalizada dos rendimentos, seja pelo baixo valor do auxílio emergencial, pela impossibilidade de trabalhar ou pela perda do emprego
O consumo das classes C e D desabou em 2021. A ‘Pesquisa de Hábitos de Consumo das Classes C e D’, realizada pela Superdigital, fintech do Banco Santander, mostra que a redução do consumo chegou a 34% em três meses. A redução mais brutal (28%) ocorreu em fevereiro, enquanto em março o percentual foi de 4% e, em abril, o consumo das classes C e D recuou 5%.
A causa, explicam os pesquisadores, é a somatória de desemprego, baixo valor do “novo” auxílio emergencial e pressão inflacionária. CEO da Superdigital, Luciana Godoy explica que no quarto trimestre de 2020, os brasileiros mais pobres gastaram 9% a mais do que no primeiro trimestre de 2021.
O Rio de Janeiro apresentou o pior resultado entre os nove estados pesquisados pela Superdigital. Lá, o consumo das classes C e D despencou 26% em abril e 14% em março. O segundo pior desempenho registrado foi no Rio Grande do Sul, onde o consumo despencou 13% em abril.
Já uma sondagem especial realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) em abril aponta que sete em cada dez consumidores brasileiros têm adiado compras de bens ou serviços. O percentual é superior aos 62% registrados na pesquisa de outubro do ano passado.
Questionados sobre os motivos para o adiamento, 50% afirmam que está relacionado à piora na questão sanitária e 38% citam a perda de renda com medidas mais restritivas. Na comparação com a pesquisa anterior, subiu o percentual daqueles que estão poupando por precaução (de 32% para 37%) e dos que estão com medo do desemprego (de 20% para 26%).
Praticamente dobrou o percentual dos que citam o fim das reservas de poupança (de 11% para 23%) e a dificuldade de obter emprego (de 12% para 22%). Também cresceu o percentual dos que afirmam que não conseguem pagar seus gastos correntes (de 9% para 15%).
A maior parcela dos que estão adiando compras de bens e serviços continua sendo a dos consumidores de renda mais baixa. Os de renda mais alta, por outro lado, são os que mais estão poupando.
“Os consumidores que têm uma margem maior para consumir estão esperando o momento mais propício para usar esses recursos, estão guardando de forma precaucional”, afirma Viviane Seda Bittencourt, superintendente-adjunta de Ciclos Econômicos do FGV Ibre. “Os que têm menor margem estão endividados, com dificuldade de obter emprego. Isso dificulta a recuperação econômica.”
“A única solução visível para as empresas está sendo a velocidade da vacinação, para que os consumidores voltem a consumir normalmente e a demanda retome”, conclui a economista.
Uma terceira pesquisa – realizada em maio pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) – mostra que o percentual de famílias que perceberam piora na renda é tamanho que o indicador da Renda Atual atingiu 74,7 pontos, o menor nível da série histórica, iniciada em 2010. Por volta de 43% das famílias consideram que a renda piorou em relação ao ano passado. Esse percentual era de 31% em maio de 2020.
“Esta foi a maior percepção de piora na série histórica”, diz a pesquisa da CNC. Com isso, a intenção de consumo das famílias também caiu e a perspectiva de consumo registrou o pior nível para um mês de maio.
Fonte: PT