Antes de começar o dia de trabalho, deixa eu registrar aqui minhas impressões do fim da leitura de “Sapiens – uma breve história da humanidade”, best-seller de Yuval Harari.
Em primeiro lugar, o Harari é um ótimo escritor e o texto é bastante aprazível e divertido, se deixando ler sem sofrimento e até com prazer. Segundo, Harari é um homem ilustrado e tem bom domínio da técnica narrativa e dos fatos que elenca (seletivamente) no seu argumento. Seus três grandes temas, o dinheiro, o crédito e os deuses são abordados sob prismas que fogem ao lugar comum.
Enfim, se você não está lendo nada obrigatório, eu recomendo a leitura de Sapiens. Agora, se o livro é uma peça literária digna de respeito, há nele, deste ângulo em que fica claro que o autor tem recurso para oferecer mais, fica inexplicável a fraqueza teórica de sua tese que, olhada de perto, parece quase pueril em muitos momentos.
A mania, mesmo de bons autores anglo-saxões (ou que vivem no mundo ideológico anglo-saxão. Harari é Israelense e leciona na Universidade de Jerusalém) de pontuar seus textos com afirmações bombásticas, arrogantes e supostamente inesperadas (“a produção agrícola é a maior fraude da história”, ou algo assim, cito de memória) prejudica o texto.
Mas o principal é a tese de fundo do livro: insustentável, velha, quase infantil. Ele “descobre” a categoria da intersubjetividade (que pode ser definida de variadíssimas maneiras) para fundamentar a tese de que boas ou más ideias movem a história da humanidade.
Para ele, toda a realidade é mera materialização de concepções que se universalizaram por compartilhamento intersubjetivo. Apenas a velha inversão idealista das coisas. A tese fraquíssima acaba por prejudicar a apreciação do texto em si, como eu disse, muito cativante.
Se for para concluir isso, melhor e muito mais fundamentado teoricamente, voltar (ou ir) ao velho Hegel ou à “Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, de Max Weber. No fim, Sapiens é um livro da ordem, da justificação do estado de coisas, dando ares eruditos ao pensamento de senso comum em que estamos todos mergulhados.
Eudes Baima – Professor da Uece