Luiz Gomes da Rocha – Professor da Universidade Estadual de Alagoas*

No dia 17 de julho de 1997, os servidores públicos de Alagoas derrubaram o corrupto governador Divaldo Suruagy (MDB). Naquela época, os servidores públicos estaduais se encontravam com até 10 meses de salários atrasados. Muitos servidores públicos desesperados chegaram a tirar a própria vida como foi o caso do soldado Leandro que assassinou a família e depois se suicidou.

Aos poucos, os servidores públicos foram tomando consciência e se mobilizando contra a política de desmantelamento do Estado de Alagoas que seguia a orientação política do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Além do atraso nos salários, Suruagy privatizou empresas públicas, fez operações ilícitas com letras do tesouro estadual e com o Programa de Demissão Voluntária, demitiu mais de 20 mil servidores.

A luta das entidades representativas dos servidores públicos estaduais ganha força quando os policiais civis e militares decidem se unir ao movimento unificado, criando um grande movimento de enfrentamento ao governador Divaldo Suruagy.

O Sindicato dos Policiais Civis, dirigido pela Unidade Policial, agrupamento impulsionado por petistas, cumpriu um papel fundamental, pois primeira vez na história de Alagoas os policiais civis e militares se uniram com os servidores públicos. A partir daí, grandes mobilizações foram realizadas, como o ato do dia 15 de julho, onde uma grande marcha formada por policiais civis e militares, servidores públicos e populares, marchou do Trapiche até o Palácio do Governador, na Praça dos Martírios. Apesar de toda tensão, a ameaça de invasão ao palácio terminando sendo persuadida e os manifestantes terminaram concentrando suas energias para o decisivo 17 de julho.

Nesse dia, a Assembleia Legislativa de Alagoas votaria o pedido de impeachment do governador Divaldo Suruagy, que controlava 24 dos 27 deputados estaduais. Numa situação normal, jamais passaria o impeachment. Entretanto, essa não era uma situação normal, pois, o estado de Alagoas se encontrava falido em função da política de favorecimento aos usineiros que não pagavam impostos e das exigências do governo federal de FHC para renegociar a calamitosa situação financeira de Alagoas.

Como a situação beirava ao descontrole, Suruagy solicitou de FHC, que prontamente atendeu, o envio de tropas do Exército para proteger o Palácio do Governo, o Tribunal de Justiça e a Assembleia Legislativa, que estava cercada de arame farpado e com grades impedia qualquer acesso ao interior do prédio.

Mas o 17 de Julho de 1997, um dos fatos mais importantes da história de Alagoas e do Brasil, ficará para sempre na memória, pela braveza dos mais de 10 mil manifestantes que cercaram a Praça Dom Pedro II. Os manifestantes que chegaram logo cedo ao local, ameaçavam invadir a Assembleia Legislativa para forçar a saída de Suruagy. E a situação vai ficando cada vez mais tensa, porque o Exército tomava posição de tiro no alto da Assembleia Legislativa, na igreja Catedral e no prédio do banco Meridional. Já os policiais civis e militares rebelados também tomaram posição de combate nas sacadas da biblioteca pública.

A tensão explodiu quando os manifestantes conseguiram forçar as grades e entrar na praça. Nesse momento, o Exército recua e centenas de tiros são disparados por cerca de 3 minutos. Manifestantes se jogaram no chão a procura de proteção e dentro da Assembleia Legislativa, o pânico é instaurado, com deputados desesperados em buscam de acordo com o governador, que era monitorado pelo presidente FHC e a bancada Federal de Alagoas em Brasília. Suruagy termina por se afastar. O anúncio do seu afastamento foi comemorado por milhares de pessoas pelas ruas do centro de Maceió.

O 17 de julho mostrou que quando o povo se une e quer mudar a história, nada pode impedir. Mas para isso acontecer, é importante que o movimento encontre pontos de apoio para avançar na sua organização. E certamente, a atuação unitária dos servidores públicos de Alagoas, foi favorecida pela iniciativa pioneira do Sindpol, que uniu servidores civis e militares neste grande movimento de resistência e luta, que não só conquistou o pagamento dos salários atrasados, a realização de concursos públicos e a recuperação da máquina pública e também uma representação progressista no processo eleitoral de 1998.

25 anos depois, a luta em defesa dos direitos e conquistas sociais prossegue em Alagoas e no Brasil. Entretanto, a Unidade Policial, que foi pioneira na luta por uma polícia cidadã, conscientização política e valorização dos policiais civis enquanto classe trabalhadora já não existe mais. Assim, como também já não existe a brava diretoria da Associação de Oficiais da Polícia Militar, que soube com maestria conduzir a tropa rebelada no processo de derrubada do governador Suruagy.

Referências:

ALMEIDA, Leda Maria de. Rupturas e Permanências em Alagoas: O 17 de julho em questão. Maceió: Edições Catavento, 1999.

ROCHA, Luiz Gomes da. O Levante de 1997: Policiais civis e militares na derrubada do governador Suruagy. Maceió: Edições Nosso Mundo, 2017.

*licenciado para a disputa de cargo eleitoral

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