Programa de combate à pobreza em Alagoas na pandemia, o Cria vai chegar a 180 mil famílias até o final do ano. Custará, por mês, R$ 18 milhões ou R$ 216 milhões em 1 ano. Cada família recebe R$ 100.
Entre 2018 e 2019, os usineiros alagoanos deixaram de pagar R$ 132 milhões de ICMS em agrotóxicos ou R$ 11 milhões/mês aos cofres estaduais.
Alagoas é o maior produtor de cana de açúcar do Nordeste. E é o terceiro local mais miserável do país.
E as lavouras estão livres para receberem os produtos mais tóxicos à disposição do mercado, com um bom desconto no ICMS. É veneno entrando por todos os poros e, claro, com o silêncio conivente das instituições.
Mortos ou doentes não provocam investigações, não é isso?
Mas, por que deixar de cobrar o ICMS cheio dos donos das maiores fortunas de Alagoas, se eles têm condições de pagar?
Estamos numa pandemia e mergulhados em uma grave crise social e econômica. Não faltam justificativas.
O ICMS “dispensado” seria suficiente para pagar um pouco mais de 6 meses do Cria para as mesmas 180 mil famílias. Ou 720 mil pessoas.
Alagoas tem 3,3 milhões de habitantes.
O passado que sempre estendeu um tapete vermelho para as famílias mais abastadas de Alagoas explica o presente.
A cultura da cana é a maior herança do Brasil escravagista que sobrevive a céu aberto: emprega uma mão de obra de baixíssima qualificação e com pouco tempo de vida aos que estão nas lavouras. Como, aliás, aconteciam com os escravos.
A chance de um trabalhador da cana deixar esta condição é próxima de zero. Os velhos da região canavieira alagoana são cacos de gente perambulando nas ruas. Seus corpos foram sugados até o bagaço. Respiram até quando Deus quiser.
E nas áreas canavieiras, hospitais e postos de saúde – propositadamente- funcionam de maneira precária.
Privilegiados desde sempre, donos de engenho viraram usineiros com todo o apoio do poder público. Safras, lucros e Estado máximo integravam a lista de exigências, sempre atendidas, até hoje.
O Produban, banco estatal, fechou as portas porque o Estado não poderia cobrar as dívidas dos usineiros
O “normal” seria um banco ir atrás dos caloteiros. Mas os usineiros tinham provas de que o Estado era quem devia muito a eles.
Uma patifaria avalizada pela Assembleia Legislativa no final dos anos 90.
Hoje, deputados estaduais nada dizem sobre o ICMS dispensado do agrotóxico.
Nem dirão. A máquina da morte não para.
Fonte: Repórter Nordestes