Após escalada de Trump contra país vizinho, partido de Lula e Celso Amorim se manifestam contra agressão a governo Nicolás Maduro

Lideranças petistas e do governo se manifestaram nesta quinta-feira (16/10) sobre o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que confirmou ter autorizado a Agência Central de Inteligência (CIA) a conduzir operações secretas dentro da Venezuela, visando a derrubada do governo de Nicolás Maduro.

Ao comentar o anúncio nesta manhã, o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, disse ao UOL ser “inconcebível um ataque militar ou uma ação secreta para derrubar um governo”.

“O Brasil é contra o uso da força e de operações secretas. Seguimos fielmente a política de não intervenção. Trata-se de um princípio básico do direito internacional”, afirmou Amorim.

Mais cedo, à CNN Brasil, ele disse que “seria muita ingenuidade afirmar que isso não acontecerá, mas a experiência mostra que a ameaça é levada a um extremo antes da uma negociação”. E aconselhou: “sejamos otimistas”.

‘Ameaças inaceitáveis’

Em nota, a Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) disse que as declarações de Trump “são uma afronta à soberania do país sul-americano e uma violação do Direito Internacional. É uma iniciativa inaceitável e deplorável”.

A nota recorda o “cerco militar que vem sendo praticado contra o povo venezuelano, com execuções sumárias de vidas humanas por forças militares norte-americanas” e afirma “trata-se de uma prática inadmissível, sem base legal e sem qualquer processo investigativo”.

O texto lembra ainda que a CIA “tem um longo histórico de patrocínio e articulação de ações ilegais e desestabilizadoras em países da América do Sul”, que deixaram “marcas de ingerências, ilegalidades, golpes, repressão e ditaduras sangrentas no subcontinente”.

“Em pleno século XXI, não podemos aceitar a repetição de práticas de um período opressor e sombrio. Não podemos aceitar a mais um ataque à soberania na América Latina. O Partido dos Trabalhadores condena com veemência mais um ataque dos EUA à soberania da Venezuela”, diz a declaração.

O Foro de São Paulo também se manifestou por meio da secretária executiva da entidade, Mônica Valente. Em mensagem publicada na plataforma X, ela afirmou que “as ameaças de Trump contra a Venezuela e o governo legítimo e popular de Nicolás Maduro são inaceitáveis”.

“Como Foro de São Paulo continuaremos a lutar firmemente contra qualquer interferência em nossa América. A América Latina e o Caribe são uma Zona de Paz, conforme proclamada pela CELAC!”, escreveu.

‘Governo tem dever de condenar ameaças’

Defensor de uma manifestação firme do governo brasileiro frente à liderança que o país exerce na diplomacia mundial, o deputado federal Rui Falcão (PT-SP) destacou a Opera Mundi que, “desde sempre, o presidente Lula tem se pautado pela defesa da paz, da solução dos conflitos através da negociação e pelo princípio da não intervenção”.

“Além disso, tem cumprido um papel importante nas políticas de integração continental, na solidariedade entre os povos e na mediação de conflitos. É hora, portanto, pela liderança que exerce no plano internacional, de repelir firmemente as agressões anunciadas por Trump contra o governo e o povo da Venezuela”, afirmou Falcão.

“Nosso governo, que foi vítima de uma tentativa de golpe no dia 8 de janeiro de 2023, tem o dever de condenar as ameaças de invasão e manobras da CIA no nosso continente e na Venezuela”, acrescentou.

‘Repetição histórica do imperialismo’

O ex-ministro José Dirceu também salientou a Opera Mundi que o Brasil precisa “defender a integridade e a independência da Venezuela, protestar e não aceitar essa agressão”. Em sua avaliação, “se o mundo não evoluir para uma nova ordem internacional, irá caminhar para uma guerra não apenas comercial ou tecnológica por matérias primas, mas para uma guerra mesmo”.

“Nós vivemos uma fase de altíssimo risco e instabilidade no mundo todo. O que está acontecendo na Venezuela é a repetição histórica da ação do imperialismo norte-americano para defender seus interesses, no caso, os interesses de um candidato a ditador”, acrescentou.

Dirceu disse concordar com a declaração de Amorim. “O governo está cumprindo o papel dele. Basta obedecer a Carta das Nações Unidas, o direito internacional e a própria Constituição brasileira que garante a não intervenção nos atos internos dos outros países, a autodeterminação, a solução dos conflitos por meio de negociação e a defesa da paz”.

Ele também citou o prêmio Nobel da Paz dado à líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, como “um sinal verde para a agressão norte-americana de Trump”. “Ela defende a intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela, ou seja, a solução pela guerra de um conflito político. Alguém que desrespeita a integridade e autonomia do seu próprio país e se alia a uma potência estrangeira pode receber um Nobel da Paz?”, questionou.

Fonte: Ópera Mundi

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